Helter Skelter: a música que Charles Manson "roubou" dos Beatles


“Helter Skelter”. Uma das mais famosas canções do álbum homônimo dos Beatles lançado em 1968 (também conhecido como o “Álbum Branco”), regravada por vários artistas, entre eles Aerosmith,  Mötley Crüe, U2 e Oasis. Para muitos, o marco inicial do heavy metal. Como foi que uma música concebida apenas para ser uma diversão barulhenta, acabou se tornando uma fonte de inspiração de alguns dos crimes mais chocantes dos Estados Unidos no século passado? Vamos recapitular brevemente este trágico episódio, desde a concepção da canção até os trágicos crimes liderados por Charles Manson.



“Esta é música mais barulhenta, crua e suja que já gravamos”
Pete Townshend, do The Who, sobre sua música “I Can See For Miles”.

“Seria ótimo fazer uma música assim...”
Paul McCartney, ao ler a entrevista de Townshend.

“É totalmente Paul... não tem nada a ver com nada, e menos ainda comigo...”
John Lennon, sobre “Helter Skelter”.

“Estou com bolhas nos meus dedos!!!”
Ringo Starr, baterista dos Beatles, gritando ao final de “Helter Skelter”.

“Por causa desta música eu perdi minha mulher”
Roman Polanski, cineasta, sobre “Helter Skelter”.

“Esta é uma canção que Charles Manson roubou dos Beatles, e nós estamos roubando de volta”
Bono, vocalista do U2, ao anunciar “Helter Skelter”, no filme “Rattle And Hum”.

UMA “RESPOSTA” AO THE WHO




Nos idos de 1968, os Beatles haviam definitivamente deixado de ser aquela banda de composições inocentes de seu começo de carreira. Gradativamente, o experimentalismo passa a fazer parte de seu som. A essa altura, já haviam lançado os maravilhosos “Revolver” e “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, que fugiam totalmente dos padrões do “iê-iê-iê” de seus primeiros anos. Paul McCartney admite que a idéia de fazer um álbum como “Sgt. Pepper’s” surgiu após ele ter ouvido a obra-prima dos Beach Boys, “Pet Sounds” – Paul teria se sentido desafiado a fazer um álbum ainda melhor do que aquele da banda norte-americana. Pois o mesmo sentimento de necessidade de “se sobrepor à concorrência” apareceu durante as gravações do famigerado “Álbum Branco”, onde a idéia agora era de superar um feito do The Who.

Em entrevista à revista Guitar Player, Pete Townshend, guitarrista e líder do The Who, afirmava que “I Can See For Miles”, do álbum “The Who Sell Out”, era a canção mais “barulhenta, crua e suja” que eles já haviam gravado. Instigado pela declaração, sir Paul resolveu ouvi-la mais atentamente, pensando em como seria divertido fazer uma canção seguindo tais parâmetros. Em seu modo de ver, a música do The Who era até que bem sofisticada e estruturada, longe do caos que a tal declaração poderia sugerir. Desafiado a gravar algo realmente barulhento, ele escreve “Helter Skelter” (que foi creditada à dupla Lennon – McCartney, como todas as canções que qualquer um deles compusesse, mesmo que isoladamente, dentro da banda). O termo em inglês significa “confusão fora de controle”. Mas para os britânicos era também o nome de um popular tobogã que era sucesso em parques de diversões. A letra da música traz em sua primeira estrofe justamente uma descrição do que seria uma volta no tal brinquedo: “When I get to the bottom I go back to the top of slide, where I stop, and I turn, and I go for a ride, till I get to the bottom, and I see you again...” (“Quando eu chego ao fundo, eu volto ao topo do escorregador, então eu paro e me viro e dou uma volta, até que eu chegue ao fundo e lhe veja de novo...”).



Uma letra boba e despretensiosa, mas que gerou ao longo dos anos as mais diversas interpretações. Segundo Paul, a princípio a idéia seria de uma música sobre a ascensão e queda do Império Romano, usando metaforicamente a imagem do escorregador, mas que no final acabou sendo “apenas uma canção ridícula e divertida, que nós gravamos por gostar do barulho”. Para alguns grupos radicais religiosos, a canção abordava a descendência ao inferno, mostrando alguém numa tentativa de escapar de suas profundezas e não conseguindo – baseando tal teoria em metáforas estapafúrdias e no vocal “desesperado” de Paul. Já para o sociopata Charles Manson, os tais versos iam bem mais além, como veremos mais adiante.

AS SESSÕES DE GRAVAÇÃO




Foram feitas várias e várias tomadas, durante o processo de gravação do álbum mais desconcertante do quarteto. Uma de suas primeiras versões tinha a incrível duração de 27 minutos e 11 segundos (!!!). Segundo depoimentos de quem já a ouviu, era mais arrastada e hipnótica do que a versão final que chegou ao vinil. A lendária versão longa chegou a ser cogitada para fazer parte da coleção “Anthology”, mas o produtor George Martin, após ouvi-la mais uma vez, achou que não tinha nada demais, e foi feita a opção por outra gravação mais curta, de 4:37 – na verdade, tratava-se de uma edição de outro longo take, que durou cerca de 11 minutos, aproximando-se bastante da outra mais longa. Quanto à versão que realmente entrou no disco original, foram gravados no mesmo dia 18 takes, durando em média cinco minutos cada um. E foi justamente o último deles o escolhido como definitivo, onde ao final pode-se ouvir Ringo jogando as baquetas pelo estúdio e gritando: “I’ve got blisters on my fingers!!!” (“Estou com bolhas nos meus dedos!!!”). Reza a lenda que enquanto Paul gravava os vocais, George Harrison corria pelo estúdio com um cinzeiro em chamas sobre sua cabeça, como uma espécie de coroa flamejante à la Arthur Brown... Tudo devidamente registrado em um misterioso vídeo que os fãs jamais assistiram e permanece arquivado no acervo pessoal do grupo...

Um outro detalhe curioso: a versão definitiva de “Helter Skelter” não foi produzida por George Martin, como de costume. Ele se encontrava em férias, e Chris Thomas havia sido contratado para substitui-lo no período. Chris relata que inicialmente sofreu muita rejeição por parte da banda e mal conseguia abrir a boca. E a coisa piorou ainda mais após seu primeiro diálogo com um Beatle. Ao conversar com Paul, sua motivação foi de vez para o ralo. Segundo ele, foi mais ou menos assim.

PAUL: 'O que você está fazendo aqui?'
CHRIS: 'George (Martin) não te falou?'
PAUL: 'Não!'
CHRIS: 'Bem, ele disse para eu vir até aqui e ajudar vocês.'
PAUL: 'Bom... se você quiser produzir nosso disco, você pode. Se você não quiser, então eu posso te dizer para ir se f...'


CHARLES MANSON E SUAS “FAMÍLIAS”




Charles Manson nasceu em Cincinnati, Ohio, em 12 de novembro de 1934. Era filho de uma prostituta (sem trocadilhos) alcoólatra e seu pai mal parava em casa. Em um lar tão desequilibrado, a consequência não poderia ser outra: logo ele se tornou um delinquente juvenil, e frequentemente era internado em reformatórios, acusado principalmente de crimes de falsificação e roubo. Não demorou muito e, ao fugir de um deles, foi expulso de casa pela mãe. Chegou a se casar duas vezes nos anos 1950: no primeiro casamento, por volta de 1956, teve um filho, que nasceu enquanto ele estava preso por ter perdido um de seus julgamentos; no segundo, em 1959, contraiu matrimônio com Crystal Gosser, que depois se revelou uma serial killer e foi internada em um hospício. Após várias outras prisões por todo o país na década seguinte e o nascimento de um segundo filho, em 1967 ele se muda para San Francisco, no auge do movimento hippie.

Na Califórnia, Manson se refugia em uma velha fazenda abandonada, outrora utilizada como cenário de velhos filmes de faroeste. Lá implanta uma espécie de seita com princípios extremamente questionáveis, onde seus seguidores são chamados de “A Família” e crêem piamente que Manson, o seu “messias”, é o próprio Jesus Cristo reencarnado.


Dentre os atos pouco ortodoxos difundidos por ele estão a máxima nazista da supremacia da raça branca, a separação das crianças de seus pais, invasão e saque de residências e lixos de supermercados, além de orgias regadas a muito LSD entre seus membros. Depois de algum tempo, Manson acha uma nova fonte para suas idéias insanas: ele acredita que os Beatles são os cavaleiros do apocalipse que vieram à Terra anunciar o fim do mundo através de suas músicas. E para ele tudo estava claro em várias de suas canções, principalmente as do “Álbum Branco”, que formariam um grande apanhado com as tais mensagens que só ele via: “Yer Blues”, por exemplo, incitava ao suicídio (“Yes I’m lonely, wanna die...” – “sim, estou só, quero morrer...”); “Revolution #9”, que segundo ele narrava os sons do próprio Armageddon; “Blackbird” seria sobre os Panteras Negras (“You were only waiting for this moment to arise” quer dizer “Você só estava esperando por este momento para se erguer” – mas “arise” também pode significar “rebelar-se” ) e “Piggies” sobre os “porcos brancos” (“...and for all the little piggies, life is getting worse...”; “...what they need is a darn good whacking...” – “...e para todos os porquinhos, a vida está piorando...”; “...o que eles precisam é de uma boa surra...”). E a “cereja do bolo” seria “Helter Skelter”, que na concepção do maluco tratava da batalha final na Terra, onde os negros conseguiriam impor sua soberania sobre os brancos e o mundo como conhecemos chegaria a um final trágico...


HELTER SKELTER COLOCADO EM PRÁTICA



Apesar de tanta maluquice, a seita de Manson cresceu bem, e a idéia agora era expandir suas idéias para o resto do mundo, e o primeiro passo seria através da gravação de um disco. Mesmo com toda a influência que conseguia ter, inclusive em pessoas donas de cargos importantes em estúdios e gravadoras, ele não obtém sucesso na empreitada, não passando da gravação de um compacto simples. Em 9 de agosto de 1969, indignado com o produtor musical Terry Melcher, filho da atriz hollywoodiana Doris Day, por ter lhe negado um contrato para lançar um álbum com suas músicas (inclusive a suposta versão original da canção dos Beach Boys “Never Learn Not To Love”, do álbum “20/20” dos californianos, que ele afirmava ser um plágio de sua música chamada “Cease To Exit”), Manson recruta sua família para um ato radical: como o tempo estava passando muito rápido e o fim dos tempos se aproximava, a saída era invadir o apartamento que pertencia ao produtor e assassina-lo, iniciando ele próprio o que seria o “Helter Skelter”, o único meio de chamar a atenção do resto da população para a tragédia iminente. Só que Melcher não residia mais no local, e quem acabou pagando por tudo foram a nova moradora, a atriz Sharon Tate, e seus amigos. Tate, em seus últimos dias de gravidez e esposa do cineasta Roman Polanski, promovia uma festa em casa com alguns amigos. A “Família” liderada por Manson consegue invadir o local e promove uma chacina sem precedentes. A atriz, para se ter uma idéia da covardia, faleceu com dezesseis facadas, onde cinco delas já seriam fatais isoladamente, segundo a perícia. Com o sangue de suas vítimas, os assassinos escrevem nas paredes palavras como “Helter Skelter”, “Political Piggy” (referência a “Piggies”, chamando as vítimas de “porcos políticos”) e “Arise” (extraída da letra de “Blackbird”). Curiosamente, um dos membros da “Família” atendia pelo apelido de “Sexy Sadie”, mesmo nome de uma das músicas do disco branco dos fab four.

Mal houve tempo para a imprensa noticiar tamanha tragédia e Manson e seus seguidores arquitetam mais um crime absurdo. Aleatoriamente, escolhem uma nova residência para cometer mais assassinatos, pois ele julgava que os atos da noite anterior não haviam tido o resultado desejado. Chegam à casa de Leno LaBianca, presidente de uma rede de supermercados da Califórnia, assassinando não só ele (com 12 facadas e 14 ferimentos feitos por um garfo de duas pontas ), mas também sua esposa (com 41 ferimentos perfurantes). No peito de Leno, entalharam em sua carne a palavra “War” (“guerra”). A barbaridade dos crimes causaram pânico entre as celebridades e pessoas ricas que moravam próximos aos locais escolhidos pela “Família” para cometer seus atos. Apesar disso e da similaridade dos crimes, bem como as armas utilizadas e as palavras escritas com sangue, a polícia tratou os crimes como casos isolados. Manson e seus seguidores acabariam sendo presos em uma batida policial na fazenda onde moravam. No decorrer do processo judicial, fatos estranhos aconteceram, como o assassinato de Ronald Hughes, advogado de defesa que ousou desafiar as vontades de Manson, bem como tentativa de homicídio de Barbara Hoyt, testemunha de acusação, utilizando-se um hambúrguer cheio de LSD.

Tudo foi retratado detalhadamente no livro de mais de 700 páginas chamado (adivinhem só?) “Helter Skelter”, de Vincente Bugliosi, o promotor que liderou o processo contra a “Família” – um dos mais longos da história dos Estados Unidos. O livro deu origem, ainda, a dois filmes, um feito para o cinema em 1976, e outro para a TV em 2004.




Charles Manson foi condenado à pena de morte, mas devido a uma alteração nas leis da Califórnia (que aboliu este tipo de condenação) teve sua sentença alterada para prisão perpétua. E infelizmente, ao que parece, ele fez escola, afinal o que já surgiu de doidos nesses quarenta anos depois, matando ou se suicidando, dizendo terem sido influenciados por músicas e filmes... Ele faleceu em 19 de novembro de 2017, em decorrência de uma parada cardíaca e com câncer no cólon, aos 83 anos.

Matéria originalmente publicada no Whiplash!


Quando os grandes nomes do rock resolvem se arriscar em estilos diferentes




Ao longo da história do rock, podemos perceber que alguns dos seus grandes nomes tentam se aventurar em outros estilos diferentes daqueles que os consagraram. Talvez por vontade de tentar algo novo. Quem sabe para tentar agradar críticos. Ou, ainda, para tentar ganhar mais dinheiro por conta de uma nova tendência que esteja na moda. Algumas vezes, tais investidas são muito bem sucedidas, como acontecia sempre com David Bowie, que soube se dar bem e, ao mesmo tempo, fazer boas músicas em todos os gêneros que gravou (aliás, a constante mudança era parte de seu próprio estilo). Mas nem tudo são flores...




Fazendo um grande retrospecto, voltando lá nas origens do bom e velho rock and roll, temos como maior exemplo positivo o caso dos Beatles. Do início, como banda de composições simples da época do “iê-iê-iê”, o quarteto foi transformando seu estilo tão rapidamente que nem parece que tudo aconteceu em menos de dez anos. Basta comparar os primeiros álbuns, como “Please, Please Me” e “With The Beatles”, com algum de seus últimos anos, seja “Sgt. Pepper’s” ou “Abbey Road”, por exemplo. Não houve apenas mudança, como também melhora, evolução.



Outro caso positivo, onde novas influências foram usadas sem necessariamente fazer música ruim ou se vender ao mercado, foi o que ocorreu com o Rush. Nos anos 1970, começou com um rockão básico, foi evoluindo para o lado do progressivo, com composições trabalhadíssimas e nos anos 1980, a partir de “Signals”, gradativamente foi tendo seu estilo influenciado pela sonoridade “new wave”. Aí vieram os anos 1990 e a distorção voltou ao som da banda, assim como a velha pegada rockeira. Pode ser citado também o Aerosmith. Na faixa “Kings and Queens”, do álbum “Draw The Line”, a banda flerta descaradamente com o rock progressivo. E o resultado final foi excelente, uma ótima música. Mais recentemente, em “Just Push Play”, temos alguns toques modernos, de samplers e até mesmo de rock industrial (como em “Beyond Beutiful”). Bem que podiam ter se arriscado mais vezes...



O Queen também é um exemplo de banda que sempre buscou tocar estilos diversos. Na maioria das vezes se deu bem. Fez de tudo, desde música de cabaré (“Seaside Rendesvouz”, “Bring Back That Leroy Brown”) até heavy metal (“Stone Cold Crazy”), rock progressivo (“The Prophet’s Song”), toques de erudito (“The Millionaire Waltz”), ecos de punk (“Sheer Heart Attack”), black music (“Another One Bites The Dust”) e um pouco de várias coisas na lendária “Bohemian Rhapsody”. Porém, quando resolveu tentar fazer disco music... O resultado pode ser conferido no péssimo lado A (sim, estávamos nos tempos do vinil) do álbum “Hot Space”.



A discoteca... Ah, a “maldita” música disco... grande responsável por vários “burros n’água” na história do rock... Quem não se lembra dos Rolling Stones com “I Miss You”, Rod Stewart com “Do You Think I’m Sexy”, ou o Kiss com “I Was Made For Lovin’ You”? Podiam até ser canções divertidas e terem obtido sucesso, mas não chegam nem aos pés, em termos de qualidade, do que eram eles realmente capazes de compor.

O Kiss, aliás, foi uma banda que se aventurou bastante em estilos diferentes do hard rock festivo que sempre os caracterizou. Houve o citado flerte com a discoteca. Depois, tentaram virar pop com o fraquíssimo “Unmasked”. Em seguida, veio “(Music From) The Elder”, um ótimo disco com influências de progressivo, mas que foi execrado por fãs e críticos. Aventuraram-se ainda, anos depois, em algum ponto entre o “grunge” e a psicodelia no também excelente “Carnival of Souls”, disco que foi deixado de lado para se reunirem com a formação clássica (e só foi lançando oficialmente bem depois, por conta dos prejuízos que estavam tendo – ou a falta de lucros – com o sucesso de vendas de suas cópias piratas).



Afinal, existe alguém dentro de uma banda que possa ser apontado como o grande responsável por essas tais mudanças? A mídia e os fãs muitas vezes escolhem, erradamente, seus bodes expiatórios. Como no caso do Genesis, que sempre teve entre seus fãs mais radicais Phil Collins como o grande “vilão”. Mas através dos documentários lançados por eles, podemos perceber por declarações do tecladista Tony Banks e dos demais que não foi bem assim. Com as saídas de Peter Gabriel e Steve Hackett, aos poucos eles foram deixando de lado o som intrincado do rock progressivo e flertando cada vez mais com o pop, com as baladas e tudo mais.



Vale ressaltar que os artistas gostam de demonstrar que vivem dentro de uma democracia em seus grupos e todas as decisões são tomadas por todos. Será que é sempre assim? Após assistir ao documentário “Some Kind Of Monster”, não fica a nítida impressão (confirmação?) de que quem manda no Metallica são mesmo Lars Ulrich e James Hetfield? O Metallica, alías, foi outro nome criticado intensamente durante muito tempo por seu abandono do thrash metal e flerte com o mainstream, em especial na “fase dos cabelos curtos” de “Load” e “Reload”. Isso sem falar no controverso “St. Anger”, o famoso álbum sem solos de guitarra, com bateria mal gravada. Tem ainda o Helloween, comandado a mãos de ferro pelo guitarrista Michael Weikath, que passou por momentos difíceis e crises internas nos últimos dias em que tinham Michael Kiske como frontman, resultando em discos muito bons, mas irregulares e massacrados pelos seus seguidores, como “Pink Bubbles Go Ape” e “Chameleon”.




Por fim, há de se citar o U2 e o Scorpions. No primeiro caso, a megalomania em que os irlandeses se encontravam na década de 1990, em decorrência do sucesso do antológico “Achtung Baby” e de sua turnê, a “Zoo TV”, levaram-nos a continuar com suas experimentações, mas os resultados foram o mediano “Zooropa” e o fraco “Pop”. Já no caso dos alemães, a grande decepção veio com o péssimo “Eye II Eye”. “O que diabos era aquilo?” muitos fãs devem ter se perguntado, diante de um álbum com batidas eletrônicas e levadas excessivamente pop. Nem parecia a mesma banda que outrora havia lançado registros antológicos, como “Lovedrive” e “Blackout”. Em ambos os casos, passada a “ressaca”, veio a volta por cima, com a retomada de seus estilos tradicionais.



Cabe agora a opinião do leitor: tais mudanças fazem bem ou não aos nossos artistas favoritos? Devemos aplaudir as tais mudanças de ares, em buscas de novas inspirações? Sejam boas ou ruins, tais tentativas devem ser respeitadas. Afinal, nem todo mundo consegue se manter muito tempo invariavelmente dentro de um estilo com sucesso, sem virarem clichês de si próprios. As exceções? AC/DC, Motörhead, Oasis, Iron Maiden... Chova ou faça sol, continuaram sempre os mesmos, os fãs sabendo sempre o que esperar a cada novo lançamento, e a qualidade até variando, mas não chegando jamais a descontentar profundamente...

Matéria originalmente publicada no site Whitplash!

The Dirt: um retrato fiel dos excessos do Mötley Crüe



A essa altura os fãs de rock já estão sabendo que a Netflix disponibilizou desde sexta-feira “The Dirt”, a cinebiografia do Mötley Crüe inspirada no livro de mesmo nome. Muita gente já assistiu, reviu, comentou e compartilhou nas redes sociais, assim como teve muita gente torcendo o nariz para o filme.

Comparações não são interessantes para não se formar um pré-julgamento, porém no momento é inevitável que surja o nome de “Bohemian Rhapsody”, como o filme que catapultou o fenômeno atual das cinebiografias do mundo do rock, seja pelo seu êxito comercial, seja pelas premiações ou pelas atuações do elenco afiado. Pois bem, comparando então (com ressalvas, claro), o “filme do Crüe” se posiciona em algum lugar entre o “filme do Queen” (como odeio essa expressão) e “Hysteria”, a biografia do Def Leppard produzida pela VH1 em 2001: se não é uma superprodução como o primeiro, conta com um orçamento melhor que o segundo; se não tem atuações e uma direção tão primorosa quanto o primeiro, está acima do segundo no quesito.

Agora falando de “The Dirt” em si, temos uma película extremamente exagerada, caricata e, por vezes, de gosto duvidoso. E isso é ruim? Pelo contrário: é a essência da própria banda! Afinal o que esperar de um filme (e isso não é spoiler) que já começa com uma cena de ejaculação feminina numa festa regrada a toneladas de bebidas e drogas? Existe algo mais “Crüe” do que isso? Sem falar na sequência que envolve a participação de Ozzy Osbourne (muito bem encarnado por Tony Cavalero), que já era uma das “lendas urbanas” mais famosas da história do meio roqueiro...




Se o elenco está longe de ser primoroso nas atuações, lembremos que a intenção aqui nunca foi fazer um campeão de bilheteria para ser exibido nas salas de cinema para toda a família se emocionar. Não! O tom beira o documental, em momentos lembrando até aquelas reencenações de programas jornalísticos sensacionalistas (alguém se lembra aí do finado “Linha Direta”, da Rede Globo?), mas tudo feito com muito zelo nos mínimos detalhes: as cenas dos shows são perfeitas, o visual dos músicos recriados com perfeição. E se os momentos mais dramáticos não chegam a arrancar lágrimas, pelo menos passam bem a sensação de amargura e angústia dos envolvidos.

Assim sendo, se você é fã e ainda não assistiu, coloque o filme pra rodar, preferencialmente durante a noite, acomode-se bem no sofá, escolha sua bebida favorita, ponha o volume o mais alto que lhe for permitido e embarque na montanha russa visual e sonora do Mötley Crüe... Duvido que quando o filme acabar você não vai se pegar cantarolando “Kickstart My Heart” ou “Home Sweet Home”... Ah sim, e com certeza ouvindo a trilha sonora também...




Em tempo, um pequeno spoiler: não há uma menção sequer ao turbulento casamento de Tommy Lee e Pamela Anderson, que envolveu uma filmagem caseira de sexo que vazou publicamente e agressões que acabaram com o baterista na cadeia, período em que ele decidiu sair do grupo e foi substituído pelo saudoso Randy Castillo.

The Dirt: As Confissões do Mötley Crüe (2019 - Netflix)

Direção: Jeff Tremaine

Elenco: Douglas Booth (Nikki Sixx), Daniel Webber (Vince Neil), Colson Baker (Tommy Lee), Iwan Rheon (Mick Mars), David Costabile, Pete Davidson.

Rock In Rio 2019 – O que esperar? (parte 2)



Nesta semana o Rock In Rio praticamente fechou todas as principais atrações da edição deste ano. A escalação de todos os dias para o Palco Mundo está completa e todas as principais atrações do Palco Sunset também. Vamos analisar aqui as duas noites dedicadas ao rock na primeira semana de festival, os dias 28 e 29 de setembro.

Dia 28/09


FOO FIGHTERS




Grande atração que fecha a primeira noite roqueira do festival, o Foo Fighters volta ao Rock In Rio após um longo hiato (haviam se apresentado apenas na terceira edição, em 2001). E o show de Dave Grohl e cia. é uma verdadeira maratona: costuma durar mais de duas horas e meia, com um repertório que abrange não só toda a discografia da banda, mas também como algumas covers de artistas bem diversos. Haja energia! Canções que não devem faltar são os seus maiores sucessos: “Learn To Fly”, “My Hero”, “All My Life”, “Everlong”...

WEEZER




Atração inédita no festival, o Weezer pegou todo mundo de surpresa no começo deste ano ao lançar um álbum de covers (o “Teal Album”), e derreteu corações oitentistas com o belo vídeo clipe de “Take On Me”, do A-Ha. Além disso, há um disco novo de inéditas fresquinho, saindo do forno neste mês, apelidado de “Black Album” – para quem não conhece, o grupo costuma lançar alguns discos apenas com o nome da banda, e eles ganham apelidos de acordo com suas capas. Portanto, o setlist deve trazer faixas destes dois lançamentos e mesclar com seus sucessos mais antigos, principalmente as obrigatórias “Buddy Holly” e “Say It Ain’t So”.

TENACIOUS D




A dupla criada pelos atores e roqueiros Jack Black e Kyle Glass foi formada no final da década de 1990, e ganhou tanto sucesso nas suas apresentações em clubes de comédia que a HBO os contratou para uma série. Em 2001 lançaram seu primeiro álbum, que ganhou disco de platina nos EUA e em 2006 seu filme chegou aos cinemas. Como se não bastasse, a banda ainda ganhou um Grammy com o álbum Rize of the Fenix (2013) e outro com a cover do saudoso Dio, “The Last In Line”, em 2015. Sua última tour costumava dividir o show em duas partes: na primeira, apresentando somente canções de seu disco mais recente (“Post-Apocalypto”, de 2018) e na segunda metade músicas dos demais álbuns. Como o set será mais curto no festival, vejamos quais serão as supresas...

CPM 22 + RAIMUNDOS




Abrindo a noite no Palco Mundo, a dobradinha brasileira com duas bandas com muita história na bagagem. Ambas contam com mais de 20 anos de carreira, e o Raimundos em especial está comemorando os 25 anos de seu primeiro álbum. Com certeza ambas irão privilegiar seus maiores sucessos para ganhar o público logo de cara. E aí tome “Mulher de Fases”, “Eu Quero Ver o Oco”, “Regina Let’s Go”, “Dias Atrás”...

WHITESNAKE




A controversa escalação dos veteranos do Whitesnake para esta noite não se resume ao fato de estar tocando no Palco Sunset, ao invés de estar no principal. Há também o fato de estar se apresentando para um público diverso do seu – todos concordam que faria muito mais sentido na mesma noite de Bon Jovi ou na noite do Metal? Bom, críticas a parte, David Coverdale e seu grupo voltarão ao Rock In Rio depois de décadas (vieram na primeira edição, em 1985) com um álbum novo debaixo do braço (“Flesh and Blood”, que deve sair em maio) e muitos hits como “Here I Go Again”, “Still Of The Night”, “Is This Love”, “Love Ain’t No Stranger”... Pena que a banda não costume tocar muita coisa de seus primeiros anos. Por fim, resta saber como estará a voz de Mr. Coverdale, que vem acompanhado de um time de músicos de alto calibre (atenção especial ao veterano baterista Tommy Aldridge, uma máquina humana!).

Dia 29/09


BON JOVI




Sem lançar um novo álbum há 3 anos (“This House Is Not For Sale” saiu em 2016), o Bon Jovi deve repetir a velha fórmula que todos os fãs adoram: um show de mais de duas horas de duração com muitos sucessos dos mais de 30 anos do grupo. E com certeza vai ter fã chorando, subindo ao palco, Jon arrancando suspiros... E muita gente reclamando pela ausência do guitarrista Richie Sambora... No repertório? Um desfile de hits: “Wanted Dead Or Alive”, “Livin’ On a Prayer”, “You Give Love a Bad Name”, “It’s My Life”, “Born To Be My Baby”…

DAVE MATTHEWS BAND




O multi-premiado grupo norte-americano chega pela primeira vez ao festival, trazendo sua sonoridade diversa que mescla diversos ritmos diferentes e faz a alegria tanto de quem gosta de um som mais comercial quanto dos fãs de um instrumental pra lá de bem executado – competência é o que não falta ao time. O set deve apresentar canções dos trabalhos mais recentes, em especial de “Come Tomorrow”, lançado no ano passado, e, claro, as mais famosas como “Crash Into Me”, “Satellite” e “The Space Between”, e ainda algumas covers como “Sledgehammer” de Peter Gabriel e “All Along The Watchtower”, de Bob Dylan.

GOO GOO DOLLS




Outro grupo que estreia no Rock In Rio, os norte-americanos ficaram famosos mundialmente com a música “Iris”, tema do filme “Cidade dos Anjos”, estrelado por Nicolas Cage e Meg Ryan. Porém quem conhece apenas a balada romântica talvez se surpreenda com a pegada do grupo, que mescla um pop rock com pitadas de punk e hard rock. Além da faixa já citada acima, podemos esperar outros sucessos como “Slide”, “Name” e “Sympathy”.

Ah sim... a abertura da noite fica por conta de Ivete Sangalo... e no palco Sunset a atração principal é a britânica Jessie J...

Joe Satriani: os pupilos do Professor Satchafunkilus


Joe Satriani é inegavelmente um dos maiores nomes da guitarra no rock nas últimas três décadas. Ganhou notoriedade ao ser indicado ao Grammy por seu álbum “Surfing With The Alien”, de 1986. Influenciou gerações de guitarristas, compôs temas inesquecíveis, e além de uma prolífica carreira solo, tocou ao lado de alguns dos maiores nomes da história do rock, como Mick Jagger e Deep Purple (cobrindo o resto da turnê de “The Battle Rages On”, após a saída de Richie Blackmore), e hoje em dia ainda faz história com o Chickenfoot. O que a garotada de hoje talvez não saiba é que antes da fama, Satch foi professor de guitarra, tendo vários de seus alunos se transformado em grandes guitarristas de renome no meio musical. A seguir, alguns dos mais famosos pupilos do Professor Satchafunkilus.


STEVE VAI 



Quando se fala em Steve Vai e Joe Satriani, a relação vai além da de mestre-aluno. Ambos são grandes amigos e vez por outra excursionam juntos nas turnês do G3. Satch conta que quando foi procurado por Vai quando ainda morava em Nova York, e este sequer sabia colocar as cordas na guitarra. Tempos depois, muitos consideram que o discípulo superou o mestre – uma mera questão de preferências pessoais...

KIRK HAMMETT 



Após sua mudança para Berkeley, na Califórnia, Joe passou a ser ainda mais conhecido e procurado para aulas. Um dos que vieram a ser seu aluno foi Kirk Hammett, quando ainda integrava o Exodus, antes de se juntar ao Metallica. Reza a lenda que Kirk procurou Satch novamente para aulas de aperfeiçoamento anos depois, quando já fazia sucesso com a nova banda e costumava pedir sua opinião sobre seus solos. A título de curiosidade, foi o último aluno de Satriani.

ALEX SKOLNICK 



Embora mais conhecido como o virtuoso guitarrista da banda de thrash metal Testament, Skolnick é bem mais versátil e multifacetado, tendo projetos paralelos e bandas voltadas para o jazz e fusion. Além disso, gravou guitarras para o Savatage no álbum “Handful of Rain”, e para o “Trans-Siberian Orchestra”, além de trilhas sonoras para programas de TV.


LARRY LALONDE 



Sim, o guitarrista dos solos malucos e atonais do Primus também teve aulas com Satriani. Acredite ou não, além de tocar no power-trio, Larry também foi guitarrista da banda de thrash-death metal Possessed. Seu estilo alternativo e seus sons e timbres em nada se assemelham com os dos demais alunos citados nesta matéria, mostrando o quão variados foram os alunos de Satch.

CHARLIE HUNTER 




Famoso por suas guitarras de 7 e 8 cordas que emulam sons de órgão Hammond, Hunter não é lá tão conhecido no meio rocker, mas é um talentoso guitarrista de jazz e fusion, além de músico de apoio da banda de Norah Jones. É conhecido também por disponibilizar shows gratuitos na internet.

Outros alunos conhecidos que passaram pelas aulas de Joe Satriani:

David Bryson (Counting Crows)


Kevin Cadogan (Third Eye Blind)


Matéria originalmente publicada no site Whiplash!

Doctor Robert recomenda: Kazagastão




Kazagastão (ou KZG) é o canal do YouTube comandado por Gastão Moreira, indicado para quem curte rock and roll de todos os estilos, sem preconceito. Para quem não conhece o Gastão, o cara é um jornalista musical e profundo conhecedor não só do estilo, mas de música em geral, que foi VJ da MTV Brasil por oito anos desde a sua fundação (em 1990), comandando os programas voltados para o público roqueiro do canal: o “Gás Total” (exibido durante a semana no período da tarde) e o “Fúria Metal” (posteriormente renomeado de “Fúria MTV”), sendo este voltado para as bandas mais pesadas, como o próprio nome indicava.

Em sua carreira pós-MTV, Gastão passou pela TV Cultura onde apresentava o “Musikaos”, com espaço aberto para performances ao vivo das bandas convidadas, além de ter dirigido o documentário “Botinada: a Origem do Punk no Brasil”. Gastão também é músico, toca guitarra e contrabaixo, com passagens pelas bandas Hip Monsters e Kratera. Atualmente, comanda o programa “Gasômetro” na rádio Kiss FM.



Em seu canal do YouTube, o apresentador pode desfilar todo o seu conhecimento e carisma contando histórias de álbuns, músicas, bandas e artistas, além de entrevistar grandes nomes do gênero. Os principais quadros são o “Heavy Lero” (apresentado junto a Clemente Nascimento, das bandas Inocentes e Plebe Rude), onde traz biografias dos artistas, o “Hellfabeto”, em que apresenta discos de sua coleção pessoal, o “KZG Entrevista”, o “Arrepiômetro”, onde fala de álbuns clássicos do rock, além do “Breve Lero”, uma versão reduzida do “Heavy Lero”. Sem falar que costuma postar também diversas relíquias de seu arquivo pessoal, resgatando trechos de seus antigos programas de TV, no “Arquivo KZG”.

Em um tempo com tanta coisa ruim rolando por aí, o canal é um verdadeiro oásis na internet. Doctor recomenda: acesse e assine o canal! Porque, como o próprio Gastão costuma dizer, “de música ruim já deu”...  Então, não perca mais tempo, e acesse o canal neste link...



Baseadas em fatos reais: músicas inspiradas por acontecimentos reais


Quem é que nunca se espantou ao saber que algumas de suas músicas favoritas foram inspiradas em acontecimentos reais, e não um simples fruto da criatividade de seus autores? Abaixo listaremos algumas (sim algumas, pois são inúmeras) canções que se enquadram nesta situação:






Beatles – A Day In The Life

Os Beatles escreveram diversas letras inspiradas em acontecimentos reais ao longo de sua discografia, principalmente em seus últimos álbuns. “A Day In The Life” é inspirada em algumas notícias lidas por John Lennon no jornal, como um acidente de carro, o lançamento de seu filme “How I Won The War”, a estrada esburacada de Blackburn, devidamente complementada por Paul McCartney e sua lembrança de quando era mais jovem, antes da fama, quando acordava apressado e atrasado, penteava os cabelos e fumava um cigarro. Outras que podemos pegar como exemplo são “The Ballad Of John and Yoko”, que narra o recente casamento, lua de mel e o protesto pacífico na cama do casal, “She’s Leaving Home”, inspirada na notícia do desaparecimento da garota Melanie Coe, que havia fugido de casa, “Hey Jude”, escrita por McCartney para Julian Lennon, triste com o divórcio dos pais, além de “Sexy Sadie”, onde John narra a frustração após ter testemunhado o guru Maharishi ter assediado a atriz Mia Farrow durante o retiro espiritual que o grupo fez na Índia, e diversas outras...


Queen – Death On Two Legs

O momento de fúria de Freddie Mercury, que se revoltou com o contrato abusivo que prendia a banda aos seus antigos empresários, foi tema de uma matéria completa neste blog, que você pode conferir neste link.



Deep Purple – Smoke On The Water

Essa é mais do que batida e todo mundo sabe de cor a história, narrada detalhadamente na letra: o Purple gravava um álbum (Machine Head) em Montreux, na Suíça, com o estúdio móvel dos Rolling Stones e quando foi assistir ao show de Frank Zappa no tradicional festival de música da cidade, algum maluco soltou um sinalizador que literalmente incendiou o local. “Jamais sonhava que uma música que falava sobre um fato isolado de nossa história tomaria tamanha proporção”, disse o baixista Roger Glover em entrevista anos atrás.



Kiss – Detroit Rock City

Embora Paul Stanley tenha homenageado a cidade onde foi gravado “Alive!”, o álbum responsável por elevar o Kiss ao patamar de grande banda, a letra foi inspirada em um acidente real acontecido com um fã da banda que teria ido assistir a um show do grupo “talvez em Charlotte, não me lembro bem”, diz ele. Tanto que a gravação original da música no álbum “Destroyer” tem a introdução e o final com os efeitos sonoros que nos ambientam no acidente.



Iron Maiden – Empire Of The Clouds

O Maiden é uma banda campeã quanto músicas baseadas em fatos históricos e reais. Desde as clássicas “Powerslave”, falando do Egito Antigo, “Alexander The Great”, sobre Alexandre, o Grande, diversas canções sobre guerra (“Aces High”, “The Trooper”, “Paschendale”), até o mais recente trabalho de estúdio do grupo, “Book Of Souls”: a faixa título tem como tema a civilização Maia, “Death Of Glory” fala da Primeira Guerra Mundial, “Tears of a Clown” inspirada na morte do ator Robin Williams, e, por fim, a épica “Empire Of The Clouds”, que em seus 18 minutos conta a história do dirigível R101, um projeto ambicioso britânico que visava ser um transporte aéreo de luxo para fazer viagens de longa distância entre os países do império britânico, mas que caiu em sua viagem inaugural quando sobrevoava Paris, matando 48 dos 54 ocupantes, inclusive o ministro Christopher Thomson, responsável por iniciar o projeto, além de diversos outros envolvidos na criação do dirigível.



Saxon – Dallas 1 PM

A canção “Dallas 1 PM” é inspirada no assassinato do presidente norte-americano John Kennedy, baleado na cidade do título. Aliás, a canção foi lançada no álbum “Strong Arm Of The Law”, de 1980, cuja faixa de mesmo nome também é inspirada num acontecimento real, só que com a banda: segundo o ex-guitarrista Graham Oliver, a banda teria sido perseguida pelos seguranças da então primeira ministra Margareth Thatcher quando dirigia pela rua Whitehall (centro administrativo do Reino Unido, em Londres).



Pearl Jam – Jeremy

Inspirada no suicídio de Jeremy Wade Delle, que atirou na própria cabeça durante a aula de Inglês em um colégio de Richardson, no Texas, em janeiro de 1991 (ano de lançamento do álbum “Ten”, que trazia a faixa). Um garoto descrito como “quieto e triste” pelos colegas foi advertido por ter chegado atrasado na aula e ao invés de se dirigir à diretoria, foi ao seu armário, pegou um revólver que ali escondia e retornou à sala. Após dizer suas últimas palavras (“Senhora, eu peguei o que realmente fui buscar”), Jeremy colocou o cano do revólver na boca e disparou. O vocalista Eddie Vedder se sentiu compelido a escrever sobre o fato perturbador, quando viu uma notícia minúscula no jornal sobre o fato e a pouca importância dada a algo tão trágico. “Alive”, outra canção clássica do mesmo álbum, também tem uma parte real: a música conta a história de um adolescente cuja mãe lhe revela que o homem que ele achava que era seu pai na verdade é seu padrasto, e seu pai verdadeiro estava morto.



Boomtown Rats – I Don’t Like Mondays

O britânico Bob Geldof hoje é mais lembrado por ser o mentor dos festivais “Live Aid” e “Live 8”, e por ter interpretado o papel principal no filme “Pink Floyd – The Wall”. Mas há 40 anos atrás, sua banda Boomtown Rats conseguiu um grande hit internacionalmente com uma canção inspirada por outra tragédia envolvendo adolescentes. A inspiração surgiu da história de Brenda Ann Spencer, uma jovem de 16 anos de San Diego, na Califórnia, que no dia 29 de janeiro de 1979 chegou atirando em um playground da escola Grover Cleveland Elementary, matando dois adultos e ferindo oito crianças e um policial. Após ser detida sua única explicação foi “Eu não gosto de segundas-feiras. Isso anima o dia”. O Bon Jovi lançou uma versão ao vivo gravada no estádio de Wembley em 1995, no CD bônus da edição especial de “These Days”, com participação do próprio Geldof.



Jon Bon Jovi – August 7, 4:15

Embora o Bon Jovi não seja muito associado a temas mais soturnos, o vocalista Jon fez em seu álbum solo “Destination Anywhere” esta canção inspirada no assassinato da pequena Katherine Korzilius, então com apenas 6 anos de idade. Ela era filha do empresário da banda na época e havia desaparecido após a mãe deixá-la buscar a correspondência da família. Seu corpo foi encontrado em uma rua, com o dedo quebrado, fratura no crânio, além de múltiplas lesões e cortes. O caso até hoje não foi solucionado.



The Police – Don’t Stand So Close To Me

A canção que rendeu um Grammy ao trio foi composta por Sting numa mistura de ideias de seus tempos de professor com o romance “Lolita”, da Vladimir Nabokov. Sting chegou a trabalhar como professor antes de se firmar como músico profissional e relata que conviveu com diversos olhares lascivos de suas alunas adolescentes, mas nunca chegou a se envolver com nenhuma delas, ao contrário do professor da música.



U2 – Sunday Bloody Sunday

Outra canção que todos sabem relatar um fato histórico e verídico: “domingo sangrento” é como passou a ser chamado o dia 30 de janeiro de 1972 na Irlanda do Norte, pois nesta data tropas britânicas atiraram contra 28 civis durante um protesto contra o aprisionamento de 342 pessoas que supostamente eram envolvidas com o IRA (exército republicano irlandês) e seus atos violentos. Alguns dos civis baleados estavam apenas ajudando os feridos. Houve ainda relatos de pessoas atropeladas por veículos militares. “Esta canção não é de protesto, não é rebelde” costumava anunciar Bono durante as apresentações ao vivo, realçando seu conteúdo antiviolência.



Peter Gabriel – Biko

O ex-vocalista do Genesis lançou esta canção anti-apartheid em 1980, onde canta sobre Steve Biko, ativista sul africano que lutava contra o regime de segregação racial que imperava em seu país. Atuou firmemente durante as décadas de 1960 e 1970, publicando diversos artigos sob o pseudônimo de Frank Talk (“conversa franca”, se traduzirmos literalmente). Uma curiosidade: seu antigo companheiro de banda Phil Collins participa das percussões da faixa.



Rush – Manhattan Project

Projeto Manhattan era o nome do projeto responsável pela criação da primeira bomba atômica utilizada durante a Segunda Guerra Mundial. Neil Peart afirma ter lido uma pilha de livros sobre o assunto que acabaram rendendo uma letra dividida em quatro versos principais: um período durante a guerra; um homem, representando os cientistas envolvidos no projeto; um lugar, Los Alamos, onde os cientistas desenvolveram o trabalho; um homem, o piloto do bombardeiro que soltou a bomba em Hiroshima. A canção está no álbum “Power Windows”, de 1985.



Eric Clapton – Circus 

Todo mundo conhece “Tears In Heaven”, que o deus da guitarra escreveu em homenagem ao seu filho Connor, que faleceu em 1991 aos quatro anos de idade ao cair da janela de um hotel em Nova York. Mas nem todos se lembram desta bela e triste canção, escrita por ele como tributo ao filho, em referência à última noite que passaram juntos, quando foram a um circo e o garoto se divertiu muito, especialmente com um palhaço que segurava uma faca, mencionado na letra. Existem duas versões diferentes, uma no seu acústico MTV e outra no álbum “Pilgrim”, de 1998.



Nirvana – Polly

Composta por Kurt anos antes de ser gravada em 1991 no clássico “Nevermind”, é inspirada no caso ocorrido em agosto de 1987 na cidade de Tacoma, Washington, onde uma jovem de 14 anos foi seqüestrada ao sair de um show de rock, estuprada e torturada. A jovem conseguiu escapar do caminhão de seu torturador em um posto de gasolina e chamar atenção e pedir ajuda para as pessoas ali presentes.



Don McLean – American Pie

Embora cite claramente o “dia em que a música morreu” (como ficou conhecido o dia 5 de fevereiro de 1959, o dia em que os cantores Buddy Holly, Richie Valens e The Big Bopper morreram em um acidente aéreo), a letra enigmática do restante da canção dá margem a muitas interpretações. McLean a cada entrevista responde algo diferente, mas de modo geral diz que tem a ver com sua jornada de autoconhecimento e uma viagem ao passado recontando poeticamente a América (leia-se “Estados Unidos”) onde viveu e cresceu.




Weezer – Say It Ain’t So

Basicamente uma música sobre o trauma causado como alcoolismo a partir dos olhos de um filho. Foi o que Rivers Cuomo vivenciou, quando viu o casamento de seus pais se desfazer e posteriormente o segundo casamento de sua mãe estar seguindo para o mesmo caminho, por seu padrasto também ser alcoólatra. Cuomo utiliza na letra nomes e situações reais que viveu, inclusive sobre o pai ter “encontrado Jesus” (seu pai havia se tornado pastor e abandonado o vício), com quem ainda tinha uma relação conturbada na época.



Alice Cooper – I Never Cry

Alice canta aqui também sobre o alcoolismo e sobre como isso estava o destruindo e acabando com sua vida pessoal. Cerca de um ano depois de lançada a música, Alice se internou em um reabilitação para tratar do problema, e em “How You Gonna See Me Now” ele voltaria a falar do tema em uma espécie de pedido de desculpas, numa bela canção escrita junto ao eterno colaborador de Elton John, Bernie Taupin. 



Pink Floyd – The Wall

Falar em experiências reais e traumas de infância é falar de “The Wall”, do Pink Floyd. E aqui não falamos de apenas uma música, mas um álbum inteiro com diversas referências à vida pessoal de Roger Waters (que ainda ganharia uma espécie de continuação no álbum seguinte da banda, “The Final Cut”). Temos o pai falecido na guerra (“Another Brick In The Wall, pt. 1”), a escola e os professores opressores (“The Happiest Days Of Our Lives” e “Another Brick In The Wall, pt. 2”), a mãe superprotetora (“Mother”), e por aí vai... Só lembrando que a ideia do conceito do álbum (um artista que vai se isolando do mundo, construindo um muro ao seu redor) surgiu após um incidente na turnê anterior do Floyd, quando Roger Waters em um ataque de fúria contra um fã em um show cuspiu na cara deste, dizendo logo após que deveriam construir um muro em frente ao palco para poderem tocar em paz... mas isso será história para outro texto sobre os 40 anos deste clássico (spoiler!)...


Os 50 anos da bíblia "Deep Purple In Rock"

Embora só tenha conhecido de fato o sucesso em 1970, o Deep Purple já tinha uma boa história pra contar. Formado em 1966, o quinteto tra...