Ao longo da história do rock, podemos perceber que alguns dos seus grandes nomes tentam se aventurar em outros estilos diferentes daqueles que os consagraram. Talvez por vontade de tentar algo novo. Quem sabe para tentar agradar críticos. Ou, ainda, para tentar ganhar mais dinheiro por conta de uma nova tendência que esteja na moda. Algumas vezes, tais investidas são muito bem sucedidas, como acontecia sempre com David Bowie, que soube se dar bem e, ao mesmo tempo, fazer boas músicas em todos os gêneros que gravou (aliás, a constante mudança era parte de seu próprio estilo). Mas nem tudo são flores...
Fazendo um grande retrospecto, voltando lá nas origens do bom e velho rock and roll, temos como maior exemplo positivo o caso dos Beatles. Do início, como banda de composições simples da época do “iê-iê-iê”, o quarteto foi transformando seu estilo tão rapidamente que nem parece que tudo aconteceu em menos de dez anos. Basta comparar os primeiros álbuns, como “Please, Please Me” e “With The Beatles”, com algum de seus últimos anos, seja “Sgt. Pepper’s” ou “Abbey Road”, por exemplo. Não houve apenas mudança, como também melhora, evolução.
Outro caso positivo, onde novas influências foram usadas sem necessariamente fazer música ruim ou se vender ao mercado, foi o que ocorreu com o Rush. Nos anos 1970, começou com um rockão básico, foi evoluindo para o lado do progressivo, com composições trabalhadíssimas e nos anos 1980, a partir de “Signals”, gradativamente foi tendo seu estilo influenciado pela sonoridade “new wave”. Aí vieram os anos 1990 e a distorção voltou ao som da banda, assim como a velha pegada rockeira. Pode ser citado também o Aerosmith. Na faixa “Kings and Queens”, do álbum “Draw The Line”, a banda flerta descaradamente com o rock progressivo. E o resultado final foi excelente, uma ótima música. Mais recentemente, em “Just Push Play”, temos alguns toques modernos, de samplers e até mesmo de rock industrial (como em “Beyond Beutiful”). Bem que podiam ter se arriscado mais vezes...
O Queen também é um exemplo de banda que sempre buscou tocar estilos diversos. Na maioria das vezes se deu bem. Fez de tudo, desde música de cabaré (“Seaside Rendesvouz”, “Bring Back That Leroy Brown”) até heavy metal (“Stone Cold Crazy”), rock progressivo (“The Prophet’s Song”), toques de erudito (“The Millionaire Waltz”), ecos de punk (“Sheer Heart Attack”), black music (“Another One Bites The Dust”) e um pouco de várias coisas na lendária “Bohemian Rhapsody”. Porém, quando resolveu tentar fazer disco music... O resultado pode ser conferido no péssimo lado A (sim, estávamos nos tempos do vinil) do álbum “Hot Space”.
A discoteca... Ah, a “maldita” música disco... grande responsável por vários “burros n’água” na história do rock... Quem não se lembra dos Rolling Stones com “I Miss You”, Rod Stewart com “Do You Think I’m Sexy”, ou o Kiss com “I Was Made For Lovin’ You”? Podiam até ser canções divertidas e terem obtido sucesso, mas não chegam nem aos pés, em termos de qualidade, do que eram eles realmente capazes de compor.
O Kiss, aliás, foi uma banda que se aventurou bastante em estilos diferentes do hard rock festivo que sempre os caracterizou. Houve o citado flerte com a discoteca. Depois, tentaram virar pop com o fraquíssimo “Unmasked”. Em seguida, veio “(Music From) The Elder”, um ótimo disco com influências de progressivo, mas que foi execrado por fãs e críticos. Aventuraram-se ainda, anos depois, em algum ponto entre o “grunge” e a psicodelia no também excelente “Carnival of Souls”, disco que foi deixado de lado para se reunirem com a formação clássica (e só foi lançando oficialmente bem depois, por conta dos prejuízos que estavam tendo – ou a falta de lucros – com o sucesso de vendas de suas cópias piratas).
Afinal, existe alguém dentro de uma banda que possa ser apontado como o grande responsável por essas tais mudanças? A mídia e os fãs muitas vezes escolhem, erradamente, seus bodes expiatórios. Como no caso do Genesis, que sempre teve entre seus fãs mais radicais Phil Collins como o grande “vilão”. Mas através dos documentários lançados por eles, podemos perceber por declarações do tecladista Tony Banks e dos demais que não foi bem assim. Com as saídas de Peter Gabriel e Steve Hackett, aos poucos eles foram deixando de lado o som intrincado do rock progressivo e flertando cada vez mais com o pop, com as baladas e tudo mais.
Vale ressaltar que os artistas gostam de demonstrar que vivem dentro de uma democracia em seus grupos e todas as decisões são tomadas por todos. Será que é sempre assim? Após assistir ao documentário “Some Kind Of Monster”, não fica a nítida impressão (confirmação?) de que quem manda no Metallica são mesmo Lars Ulrich e James Hetfield? O Metallica, alías, foi outro nome criticado intensamente durante muito tempo por seu abandono do thrash metal e flerte com o mainstream, em especial na “fase dos cabelos curtos” de “Load” e “Reload”. Isso sem falar no controverso “St. Anger”, o famoso álbum sem solos de guitarra, com bateria mal gravada. Tem ainda o Helloween, comandado a mãos de ferro pelo guitarrista Michael Weikath, que passou por momentos difíceis e crises internas nos últimos dias em que tinham Michael Kiske como frontman, resultando em discos muito bons, mas irregulares e massacrados pelos seus seguidores, como “Pink Bubbles Go Ape” e “Chameleon”.
Por fim, há de se citar o U2 e o Scorpions. No primeiro caso, a megalomania em que os irlandeses se encontravam na década de 1990, em decorrência do sucesso do antológico “Achtung Baby” e de sua turnê, a “Zoo TV”, levaram-nos a continuar com suas experimentações, mas os resultados foram o mediano “Zooropa” e o fraco “Pop”. Já no caso dos alemães, a grande decepção veio com o péssimo “Eye II Eye”. “O que diabos era aquilo?” muitos fãs devem ter se perguntado, diante de um álbum com batidas eletrônicas e levadas excessivamente pop. Nem parecia a mesma banda que outrora havia lançado registros antológicos, como “Lovedrive” e “Blackout”. Em ambos os casos, passada a “ressaca”, veio a volta por cima, com a retomada de seus estilos tradicionais.
Cabe agora a opinião do leitor: tais mudanças fazem bem ou não aos nossos artistas favoritos? Devemos aplaudir as tais mudanças de ares, em buscas de novas inspirações? Sejam boas ou ruins, tais tentativas devem ser respeitadas. Afinal, nem todo mundo consegue se manter muito tempo invariavelmente dentro de um estilo com sucesso, sem virarem clichês de si próprios. As exceções? AC/DC, Motörhead, Oasis, Iron Maiden... Chova ou faça sol, continuaram sempre os mesmos, os fãs sabendo sempre o que esperar a cada novo lançamento, e a qualidade até variando, mas não chegando jamais a descontentar profundamente...
Matéria originalmente publicada no site Whitplash!
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