Black Sabbath: os 50 anos do álbum de estreia mais sinistro do rock




Antes de começarmos a falar propriamente de música, uma pequena ambientação: Birmingham, Inglaterra. Uma cidade hoje moderna e importante pólo de transportes, eventos e finanças no Reino Unido. Mas há algumas décadas atrás, a cidade símbolo da indústria não trazia grandes perspectivas para seus moradores. Quase que totalmente voltada para a metalurgia, conforme relatos do próprio Ozzy Osbourne ter sucesso profissional ali era sinônimo de trabalhar a vida toda dentro de uma fábrica e ao final de sua carreira “ganhar um relógio como agradecimento pelos serviços prestados”. Isso quando não acabavam se envolvendo com crimes também – o próprio Ozzy chegou a ser preso por pequenos delitos, e quem acompanha a série excelente série “Peaky Blinders” sabe que ambos os cenários vêm de longa data. Não fica difícil imaginar que a música seria uma ótima válvula de escape para os jovens de lá – e não coincidentemente, dentre seus filhos mais ilustres temos, além do Black Sabbath, o Judas Priest, o Duran Duran, The Moody Blues, além de dois talentos nascidos em pequenas cidades em seus arredores, Robert Plant e John Bonham.




Pois bem, eis que o guitarrista Tony Iommi (que havia perdido partes de seus dedos da mão direita em uma prensa, trabalhando em uma indústria) e seu amigo baterista Bill Ward se encontram com o baixista Terry “Geezer” Butler e decidem formar um grupo de blues rock, com uma leve pitada de jazz. Na procura por um vocalista, Geezer convence os outros dois a convidarem John “Ozzy” Osbourne, um jovem dislexo e problemático, para o posto. Iommi que já conhecia Ozzy dos tempos de escola e não ia muito com a cara dele, resolve aceitar pelo fato de que o cantor possuía seu próprio sistema de P.A., o que seria um trunfo para o grupo – qualquer economia de dinheiro era uma ótima notícia.

Após algum tempo se apresentando com o nome de Earth, e após uma breve passagem de Iommi pelo Jethro Tull (que pode ser conferida no DVD “Rock and Roll Circus”, do Rolling Stones), eles descobrem que já existia outra banda usando este nome e decidem escolher outro. Enquanto ensaiavam, perceberam que no cinema do outro lado da rua havia um filme de terror em cartaz chamado “Black Sabbath” (estrelado pelo lendário Boris Karloff). Ficaram refletindo sobre como as pessoas gastavam dinheiro com algo que lhes assustam, e pensaram: por que não fazer também uma música assustadora? Ali nasciam tanto a banda quanto a música “Black Sabbath”...




Após vários testes em gravadoras e muitos “nãos”, conseguem um contrato com a Philips Records, posteriormente transferido para a Vertigo. Entram em estúdio e em pouco mais de 12 horas, registraram tudo (!). E em fevereiro, numa sexta-feira 13 (óbvio), chegava às lojas aquele álbum cuja capa já era sinistra o bastante para chamar a atenção: uma azenha (um moinho movido a água) à beira do rio com uma figura macabra parada diante dela – uma bruxa? E quando se colocava a bolacha para tocar...

Logo de cara aquele som de chuva, com um sino ao fundo e saltam aos ouvidos nos falantes o acorde proibido em trítono (sequência de notas abominada pelas igrejas, pois acreditavam invocar o demônio) repetindo-se até que Ozzy balbucia as primeiras palavras: 

“O que é isso parado na minha frente? 
Uma figura de preto, apontando para mim
Viro-me rápido e começo a correr
E descubro que sou o escolhido...
Oh não!!!”

Impossível não se borrar de medo... E a estratégia não poderia ter dado mais certo... O álbum chegou à oitava posição no Reino Unido e ao número 23 da Billboard nos EUA. Mas o que havia de tão especial naquele disco além de deixar as pessoas com os cabelos em pé e sentindo calafrios? Obviamente um sucesso tão grande não poderia se sustentar apenas na premissa de causar essas sensações, e musicalmente o Sabbath tinha desde já muito mais a oferecer.




Finalizada a agonia (no bom sentido) causada pela faixa de abertura, logo éramos apresentados à gaita de Ozzy introduzindo “The Wizard”, cuja letra teria sido inspirada, segundo Geezer Butler, por Gandalf de “O Senhor dos Anéis” – embora por anos tenha-se acreditado que era uma homenagem a algum fornecedor de drogas. E na sequência, duas outras pérolas: a ótima “Behind The Wall Of Sleep” e, fechando o lado A, a sinistra “N.I.B.”, cuja letra em primeira pessoa fala sobre como Lúcifer, o anjo caído, apaixona-se por uma mulher e tenta se tornar uma pessoa melhor – seria essa a inspiração para o seriado “Lucifer”? E, ao contrário do que todos pensam, o significado da sigla não é “Nativity In Black” (nome de um álbum-tributo ao Sabbath), mas apenas uma referência ao apelido dado a Bill Ward por causa de sua barba, que parecia uma ponta de caneta tinteiro ('pen nib', no inglês), semelhante à utilizada pelo diabo em algumas representações.

O lado B se mostra um pouco mais diversificado, tendo duas versões diferentes: no mercado europeu, trazia apenas as duas regravações feitas pela banda (“Evil Woman”, da banda Crow, e “Warning”, da Aynsley Dunbar Retaliation – sim, o nome é o baterista que tocou com Frank Zappa, Journey e Whitesnake, além de outros), e entre elas “Sleeping Village”, outra composição própria do quarteto. Na edição americana, “Evil Woman” cedia seu lugar a “Wicked World”, outra composição da banda, aqui apresentando uma leve pitada jazzística em sua introdução.




Para muitos, este é o marco definitivo do nascimento do Heavy Metal, embora o próprio grupo odeie este termo para qualificar sua sonoridade. Para outros tantos, o Metal já mostrava suas garras em gravações anteriores, de nomes como Blue Cheer, Steppenwolf, MC5 e até mesmo o power trio Cream – assunto já abordado neste outro texto aqui. De qualquer forma, o mundo do rock jamais seria o mesmo, algo que os quatro jovens daquela cidade operária jamais sonhariam.

Então agora apague as luzes, feche seus olhos e coloque o álbum para rolar. E tente não se arrepiar...





Doctor Robert recomenda: The Marcus King Band



Sabe aquela velha e cansativa história de que "os heróis da música estão morrendo", "não temos peças de reposição" e blá blá blá...? Pois é, quem ainda está nessas e insiste em só ouvir as bandas clássicas que surgiram décadas atrás perde tanto tempo que deixa passar belíssimos trabalhos que continuam surgindo ao redor do mundo. E Marcus King, um prodígio da guitarra, é um nome que merece muita atenção.




Verdadeira cria do meio musical, Marcus é filho do bluesman Marvin King, e desde cedo ele já sabia que a música seria o seu ganha-pão, e não tinha como ser diferente: começou a tocar guitarra aos três anos de idade (!), começando a tocar profissionalmente aos onze (!!!).

Aos quinze anos fundou a Marcus King Band, acompanhado de músicos excelentes, como Jack Ryan na bateria, Stephen Campbell no baixo e Justin Johnson e Dean Mitchell nos metais. Com um som refinado, flertando com o blues, o rock e o soul, a banda logo atraiu seguidores e um contrato para gravação não demorou a surgir. Seu álbum de estreia, "Soul Insight", foi lançado em 30 de outubro de 2015 pelo selo Evil Teen Records (de propriedade de Warren Haynes, do Gov't Mule e Allman Brothers), e de cara alcançou a oitava posição na lista de discos mais vendidos de blues da Billboard naquele ano.




Com o segundo álbum da banda, "The Marcus King Band", eles optam em trocar de gravadora e o trabalho é lançado pela Fantasy Records em 7 de outubro de 2016. Contando agora com Warren Haynes na produção, o disco chegou à segunda posição na Billboard (entre os discos de blues). Em outubro de 2018 lançaram "Carolina Confessions", gravado em Nashville, produzido e mixado por Dave Cobb, conhecido por trabalhar com Rival Sons, Europe, Chris Stapleton e Sturgill Simpson, além de ter produzido a trilha sonora da mais recente versão de "Nasce Uma Estrela", com Lady Gaga. O jornal Washington Post logo alçou a alcunha de "novo fenômeno da guitarra" para Marcus.




A banda também é conhecida por suas incessantes e incansáveis turnês, sendo que a última delas (de "Carolina Confessions") contou com 140 apresentações em 2019, muitas delas com ingressos esgotados, além de algumas aparições em programas de TV. Agora no começo de 2020, Marcus King lançou seu primeiro trabalho solo, "El Dorado",com produção de Dan Auerbach, vocalista e guitarrista do The Black Keys, que também compôs as músicas junto a Marcus (com a colaboração de outros nomes). Aqui o guitarrista e cantor aposta num som um pouco mais voltado para o blues em si, com pitadas de country e southern rock. Só a dobradinha de abertura com "Young Man’s Dream" e "The Well" já ganham o ouvinte na primeira audição...



Faça um favor aos seus ouvidos e procure a discografia deste grande músico que com apenas 23 anos soa como um veterano e com certeza vai ser reconhecido muito em breve como um dos grandes nomes do blues e do rock mundialmente. É apenas questão de tempo...


Os 50 anos da bíblia "Deep Purple In Rock"

Embora só tenha conhecido de fato o sucesso em 1970, o Deep Purple já tinha uma boa história pra contar. Formado em 1966, o quinteto tra...