Van Halen: Uma noite inesquecível em Kansas City


O texto abaixo foi escrito originalmente em 2012 e reproduzido na íntegra aqui, como relato fiel da experiência vivida na ocasião. 



Sprint Center, Kansas City, MO, 22/05/2012

Não é fácil ser fã de Van Halen. Principalmente no Brasil. Basta lembrar que a primeira e única vez em que a banda passou por nossas terras foi lá pelos longínquos anos de 1983 (quando grande parte dos que devem estar lendo este texto nem sabiam o que era Van Halen, ou até mesmo sequer eram nascidos!). Além disso, quando Eddie, Alex e cia. resolvem sair em turnê (e tudo isso depende de um grande conjunto de fatores extensamente explorados pela mídia, como vontade, saúde, dinheiro e etc.), os benditos shows sequer saem da América do Norte. Assim tem sido pela última década, e se você estiver disposto realmente a realizar o sonho de ver o quarteto ao vivo, tem que encarar uma viagem para os Estados Unidos (ou dar a sorte de coincidir com uma viagem sua para lá, como foi o caso aqui).





E então chega o dia de viajar e a expectativa para o show só aumenta, até que começam a vazar boatos na internet de que alguns shows da tour serão cancelados. E os boatos vão se confirmando, e você começa a rezar para que a data para a qual comprou o ingresso permaneça na agenda. Ufa, deu certo! Tá lá no site oficial ainda... Acaba aí o suplício? Não...

Como se tudo isso não bastasse, estamos lá nós fãs, felizes da vida aguardando ansiosamente pelo show, e somos obrigados a aguentar mais uma: enfrentar o Kool and the Gang como banda de abertura! Nada contra black music, nada contra fãs de discoteca, mas... esse não é o show de abertura de uma das bandas mais barulhentas do hard rock? Embora a grande maioria dos presentes no Sprint Center pareça ter se divertido com a mistureba musical, não foi nada fácil aturar aqueles intermináveis 50 minutos de show.




A paciência é uma virtude, e como todo bom fã de Van Halen, estávamos bem treinados nesta parte. E pontualmente, às 21 hrs., Alex Van Halen pisa nos palcos e começa a "trovejar" de sua bateria uma série de pancadas, acompanhado pelo inconfundível feedback da guitarra de seu irmão Edward... o público vai ao delírio e eis que surgem os primeiros acordes de "Unchained", gerando uma verdadeira catarse! E o êxtase continua com a igualmente clássica "Runnin' With The Devil", introduzida com aquele inconfundível som de buzinas sampleado que abre o primeiro álbum da banda, seguida pelo baixo roncante do "herdeiro real" Wolfgang Van Halen.




Embora inúmeros comentários tenham surgido a respeito do relacionamento entre David Lee Roth e Eddie Van Halen, ambos esbanjam profissionalismo e não deixam transparecer nada nos palcos (assim como faziam muito bem na década de 1980). David, aliás, não mudou em nada sua performance - tudo bem que o agora senhor Dave não aguenta mais dar todos aqueles saltos de kung-fu que lhe eram característicos, mas continua extremamente comunicativo, brincando o tempo todo com a plateia, além de arriscar vários passos e sapateados no tablado especialmente montado sobre o palco para ele. E ainda sobra energia para alguns chutes no ar e malabarismos com barras e pedestais de microfone. Impossível não mencionar ele brincando com uma fã na fila frontal, durante "Everybody Wants Some", quando especulava se não poderia ser seu pai: "nós fizemos muitos shows por essa região na época de 1982/83...".




Voltando ao show, este continua com uma sequência que intercala ao clássicos músicas do novo álbum "A Different Kind Of Truth" (muito bem escolhidas, aliás, como "She's The Woman", "Tattoo", "Chinatown" e "The Trouble With Never"). Porém, obviamente, todos estavam ali para ouvir suas músicas favoritas e elas não faltaram: "Hear About It Later" foi um dos pontos altos, assim como "Dance The Night Away", as covers de "You Really Got Me" (The Kinks) e "Pretty Woman" (Roy Orbinson) e ainda a surpresa da noite, "...And The Cradle Will Rock", do subestimado "Women And Children First", além da dobradinha "Women In Love" (com sua magnífica introdução) e "Beautiful Girls", de "Van Halen II".




Para a segunda metade do show, foram reservados quatro hits do álbum "1984" (as clássicas "Hot For Teacher", "Panama", onde Dave "conta" a Wolfgang sobre a stripper chamada Evelyn que inspirou a composição, e "Jump", que encerrou o show, além da morna "I'll Wait"). Ficou também o momento mais aguardado pelos fãs de guitarra: o solo de Eddie, onde ele desfilou tudo o que o público sabe de cor, mas sempre espera ouvir, como "Spanish Fly", "Cathedral" e, obviamente, "Eruption". Teve também David Lee Roth e seu violão, contando ao público sobre a sua paixão por cães pastores e as competições que participa com seus amigos peludos, antes de tocar os primeiros acordes de "Ice Cream Man". E, claro, "Ain't Talkin' 'Bout Love", o riff mais conhecido e aclamado de Mr. Edward.



E foi isso. Em pouco mais de duas horas, o Van Halen nos presenteou com uma noite inesquecível e conseguiu colocar por terra todas as adversidades que seus fãs enfrentam. Se realmente as velhas rixas do passado estão de volta, em momento algum elas transparecem. Só nos resta torcer para que realmente os shows cancelados (adiados?) do final da turnê tenham sido por conta de cansaço mesmo, e não por outro motivo (vale lembrar que no ano passado, Eddie enfrentou o câncer novamente, o que levou a adiar o lançamento do CD e gerou inúmeros boatos de conflitos internos). E caso a turnê continue, torcer para que enfim resolvam sair de sua zona de conforto e viajar mundo afora...




SET LIST
1.Unchained
2.Runnin' With the Devil
3.She's the Woman
4.The Full Bug
5.Tattoo
6.Everybody Wants Some
7.Somebody Get Me a Doctor
8.China Town
9.Hear About It Later
10.Oh, Pretty Woman (Roy Orbison cover)
11.Drum Solo
12.You Really Got Me (The Kinks cover)
13.The Trouble with Never
14.Dance the Night Away
15.I'll Wait
16.And the Cradle Will Rock...
17.Hot for Teacher
18.Women In Love
19.Beautiful Girls
20.Ice Cream Man (John Brim cover)
21.Panama
22.Guitar Solo
23.Ain't Talkin' 'Bout Love
24.Jump



Matéria orignalmente publicada no site Whiplash!

1976: grandes álbuns lançados naquele ano



Aproveitando o recente relançamento do histórico álbum de Paul McCartney and The Wings "Wings Over America", de 1976, este blogueiro vem humildemente listar algumas sugestões de grandes álbuns lançados também em 1976 - em ordem aleatória, não de preferência ou cronológica. Por quê? Poderia dizer que o rock estava em seu auge, que a oferta era muito boa no período, mas não... Na verdade é pelo fato de ter sido o ano em que nasci... 

A maioria deles é tida como clássicos pelos fãs dos artistas envolvidos e são conhecidos do grande público, mas mesmo para estes, sempre "vale a pena ouvir de novo".

Paul McCartney and Wings - Wings Over America



Por que ouvir? - Sir Paul provou que havia vida após os Beatles, superou a depressão do rompimento do grupo, lançou álbuns clássicos ("McCartney", "Band On The Run") e saiu fazendo shows pelo mundo afora. O registro da turnê de 1976 (de "Wings At The Speed Of Sound", daquele mesmo ano) mostra uma banda extremamente entrosada, executando uma grande leva de canções clássicas tanto dos Fab Four quanto dos álbuns solos de Paul e dos gravados com os Wings. Impossível não gostar. Ah, e se puder, corra atrás do vídeo "Rockshow", relançado poucos anos atrás em DVD e Blu-ray, com um show completo e espetacular desta mesma tour.

Melhores momentos: dentre muitos, a antológica abertura com "Venus and Mars/Rockshow" e "Jet", o set acústico com "Bluebird", "I've Just Seen a Face", "Blackbird" e "Yesterday", além das clássicas "Maybe I'm Amazed", "Live and Let Die" e "Band On The Run".

Queen - A Day at the Races



Por que ouvir? - Se não é o melhor trabalho do Queen, é um registro da fase áurea do grupo, ainda esbanjando criatividade e com aquele ímpeto e arrogância de querer dominar o mundo. Assim como em seu trabalho anterior ("A Night At The Opera" - guardadas as devidas proporções, claro), o quarteto faz de tudo um pouco: hard rock, gospel, baladas, valsa, etc.

Melhores momentos: o rockão rasgado de "Tie Your Mother Down", a intrincada "The Millionaire Waltz", a singela "Long Away", o peso de "White Man" e a mais do que clássica "Somebody To Love".

Rush - "2112" e "All The World's a Stage"


 

Por que ouvir? - Poderíamos simplesmente dizer "porque é o Rush, cara!", mas não é só isso: é o Rush explodindo e aparecendo para o mundo, saindo do underground e caminhando rumo ao estrelato. "2112" foi responsável por isso, introduzindo de vez o Rush entre os fãs de hard rock e de rock progressivo, e "All The World's a Stage" era o retrato ao vivo desta fase, demonstrando que aqueles três rapazes do Canadá conseguiam sim reproduzir ao vivo tudo o que criavam em estúdio.



Melhores momentos: Em "2112", além da faixa título, "A Passage to Bangkok" rapidamente se tornou uma das favoritas entre os rushmaníacos. Já em "All The World's a Stage", impossível não se render a "Bastille Day", que abre o play arrebentando tudo, a apoteótica "By-Tor and The Snow Dog", a pesadona "What You're Doing"... e claro, "2112" e ainda o solo do Professor Neil Peart.


Aerosmith - "Rocks"



Por que ouvir? - O Aerosmith disputava com o Kiss na década de 1970 o título de maior banda do hard rock norte-americano, tendo ambas estourado um ano antes - estes com "Toys In the Attic", aqueles com "Alive!". Aqui o quinteto de Boston alia sua criatividade com peso, sem perder a energia característica do grupo, sendo tratado pelos críticos como "uma cria raivosa dos Rolling Stones". "Rocks" disputa até hoje com "Toys In The Attic" o posto de álbum favorito entre os fãs das antigas. Se duvida, pergunte ao Slash...

Melhores momentos: "Back In The Saddle", com Joe Perry com um baixo de 6 cordas "grunhindo" em suas mãos; a velocidade contagiante de "Rats In The Cellar"; "Last Child", grande contribuição de Brad Whitford, assim como a pesada "Nobody's Fault".


Kiss - "Destroyer" e "Rock And Roll Over"

 

Por que ouvir? - São duas facetas bem distintas de uma banda no topo do mundo. O Kiss ganhou exposição mundial com "Alive!" um ano antes, e agora podia contar com dinheiro e bons recursos em suas gravações. Se em "Destroyer" trouxeram Bob Ezrin (Alice Cooper, Pink Floyd) para uma produção mais elaborada, aventurado-se por estilos diversos e até mesmo incompreendidos por muitos fãs, em "Rock and Roll Over", lançado no mesmo ano, víamos o Kiss voltando às origens de seu rock básico e direto, sendo produzidos por Eddie Kramer, muito conhecido por trabalhar com um certo Jimi Hendrix.


Melhores momentos: são dois discos para serem ouvidos "de cabo a rabo" (apesar de "Beth"), mas se é pra destacar algumas, em "Destroyer" ficamos com as óbvias "Detroit Rock City", "King Of The Night Time World", "God Of Thunder", "Shout It Out Loud" e "Do You Love Me", e em "Rock and Roll Over" temos "I Want You", "Makin' Love", "Hard Luck Woman", "Calling Dr. Love", "Take Me", "Ladies Room"...

Genesis - "A Trick Of The Tail"



Por que ouvir? - Porque registra um momento crítico na carreira do grupo, sobrevivendo de maneira brilhante à saída repentina de seu carismático frontman Peter Gabriel, "promovendo" o baterista Phil Collins ao posto. Ou seja: mesmo com o baque, a qualidade do trabalho do agora quarteto foi mantida, com excelentes temas, arranjos virtuosos e uma produção esmerada, em um dos melhores registros do Genesis.

Melhores momentos: a insana faixa de abertura "Dance On a Volcano"; a melodiosa faixa título; "Mad Man Moon", com um inspiradíssimo Tony Banks nos teclados, e a fantástica instrumental "Los Endos", que ao vivo era precedida sempre de um dueto de bateria por Phil Collins e Chester Thompson.


Thin Lizzy - "Jailbreak" e "Johnny The Fox"


 

Por que ouvir? - O Thin Lizzy infelizmente nunca foi tão reconhecido como deveria. Donos de grandes músicas, temperadas com as famosas "guitarras gêmeas" que fariam escola no heavy metal anos depois, e contando ainda com um letrista fantástico como Phil Lynott, o Lizzy atingiu seu ápice em 1976, e os dois álbuns lançados naquele ano comprovam a qualidade de seu trabalho. Saindo em uma grande turnê norte-americana no ano seguinte, Lynott adoeceu, a excursão foi abortada, e o Lizzy caiu em esquecimento para a grande massa, infelizmente...


Melhores momentos: em "Jailbreak", destacamos a faixa título com seu clima soturno, a pesada "Emerald", o hino "The Boys Are Back In Town", seu maior hit; já em "Johnny The Fox", a poética "Don't Believe a Word" merece audição cuidadosa, assim como a pesada "Massacre" (as duas regravadas, respectivamente, por Def Leppard e Iron Maiden"), além da funkeada "Johnny The Fox Meets Jimmy The Weed" (impossível não notar a semelhança de seus primeiros acordes de guitarra com "Snowblind", do disco solo de 1978 de Ace Frehley, do Kiss).

Led Zeppelin - "Presence" e "The Song Remains The Same"


 

Por que ouvir? - Bem, muitos realmente podem contestar a inclusão de "Presence" nesta lista, por não ser um dos melhores trabalhos do Led. Mas ainda assim, encontramos momentos brilhantes, e convenhamos, um Led Zeppelin menor ainda é maior do que muita coisa que ouvimos por aí. Já "The Song Remains The Same" dispensa maiores apresentações e justificativas: o primeiro duplo ao vivo do grupo, que acompanhou o lançamento do filme nos cinemas (ambos gravados em 1973, mas só lançados então).



Melhores momentos: em "Presence" são obrigatórias a galopante "Achilles Last Stand" e a ótima "Nobody's Fault But Mine", além de "For Your Life". Já em "The Song Remains The Same", os clássicos atemporais "Rock and Roll", "Stairway to Heaven" e "Whole Lotta Love" dividem espaço com as (extremamente) estendidas versões de "No Quarter" e "Dazed and Confused" (que ocupava um lado inteiro no vinil). Na versão expandida lançada recentemente, os fãs ainda ganharam registros do quilate de "The Ocean", "Since I've Been Lovin' You", "Over The Hills and Far Away" e "Black Dog".


Peter Frampton - "Frampton Comes Alive"



Por que ouvir? - O simples argumento de ser o disco ao vivo mais vendido de todos os tempos já valeria pelo menos para ouvir de curiosidade (na época, chegou até a ser vendido pelos correios nos EUA, uma novidade!). Mas seria subestimar um grande trabalho, com Peter Frampton desfilando ótimas músicas e belos solos de guitarra.

Melhores momentos: mesmo que você não suporte mais ouvir, "Baby I Love Your Way" é um dos maiores destaques, assim como a contagiante "Show Me The Way". Destaque também para a abertura com "Something's Happening" e para a surpreendente versão de "Jumpin' Jack Flash", dos Stones.

Rainbow - "Rising"



Por que ouvir? - Em 1976, o Deep Purple não existia mais: após a debandada de Richie Blackmore, muitas divergências internas levaram Jon Lord a jogar a toalha após a turnê de "Come Taste The Band", e logo em seguida o guitarrista Tommy Bolin veio a falecer de overdose. O novo grupo de Blackmore, que já tinha obtido reconhecimento com o primeiro álbum um ano antes, aqui presenteia os fãs com uma obra-prima do rock pesado. Todos dão um show, seja o mago das guitarras, seja Ronnie James Dio com seu vocal poderoso, seja Cozy Powell demolindo sua bateria. Para muitos, foi o primeiro pilar do chamado Power Metal, com suas músicas velozes e arranjos sinfônicos.

Melhores momentos: A abertura com "Tarot Woman" já é de tirar o fôlego, que ainda consegue ser ofuscada pelas brilhantes "Stargazer", gravada junto à Orquestra Filarmônica de Munique (e com performances antológicas de Dio, Powell e Blackmore), e pela veloz "A Light In The Black", com seus solos dobrados de guitarra e teclado e com sua bateria de dois bumbos, que se tornariam clichê décadas depois no heavy melódico...


Scorpions - "Virgin Killer"



Por que ouvir? - Para aqueles que acham que os "vovôs" do metal alemão são apenas a banda que fez "Still Loving You" e "Wind Of Change", que tal descobrir um grupo vigoroso, com canções esbanjando energia? "Virgin Killer" serviu de passaporte para o Scorpions fora da Europa, em uma época em que ainda contavam com os préstimos do virtuoso Uli John Roth. Não se atenha à polêmica sobre a capa original (que trazia uma garotinha nua), coloque o álbum pra tocar e aumente o som!

Melhores momentos: "Pictured Life" abrindo o disco a todo vapor, ritmo que é mantido em "Catch Your Train" (resgatada anos mais tarde no álbum acústico do grupo). Há ainda a divertida "Hell Cat", cantada por Roth, "Backstage Queen" e "Polar Nights".


AC/DC - "Dirty Deeds Done Dirt Cheap"



Por que ouvir? - Porque AC/DC é sinônimo de rock do bom, sem firulas, simples e direto. Foi aqui que os australianos começaram a aparecer para o mundo, conseguindo seus primeiros sucessos. E ainda tínhamos aqui a crueza original no som do grupo, além do saudoso e carismático Bon Scott nos microfones.

Melhores momentos: sem dúvida o grande destaque é a faixa título, ainda hoje uma das favoritas dos fãs. Mas ainda há "Squealer", "Problem Child", "Ride On"... e a versão original australiana trazia "Jailbreak" encerrando o play, faixa que até então havia sido lançada apenas como single.

Eagles - "Hotel California"



Por que ouvir? - Para derrubar o preconceito que a grande maioria da nação roqueira tem com o grupo, por conta da faixa título que tocou à exaustão, chegando inclusive a ser apelidada de "Motel California" por ser melosa demais para seus detratores. Um disco com boas músicas executadas por instrumentistas extremamente competentes.

Melhores momentos: obviamente a faixa título, com um show à parte dos guitarristas Don Felder e Joe Walsh; "Life In The Fast Lane", sobre a agitada vida de um casal moderno - cujo título veio de uma frase de um fornecedor de drogas do grupo, e cujo riff de guitarra surgiu espontaneamente enquanto Joe Walsh aquecia no estúdio, esperando para gravar; e ainda a épica "The Last Resort", versando sobre o declínio da sociedade e fechando o disco com chave de ouro.

Rory Gallagher - "Calling Card"



Por que ouvir? - O saudoso irlandês Rory Gallagher foi um dos melhores guitarristas da década de 1970. Sua pegada blues-rock com agressividade, técnica e feeling nas medidas exatas são louvadas até hoje por muitos guitar heroes, como Brian May e Slash. Como se não bastasse, o cara compunha e cantava maravilhosamente bem. "Calling Card" é sua obra-prima, um disco irretocável do começo ao fim, produzido por Roger Glover (sim, após sua saída do Deep Purple, ele se firmou como produtor). Ah sim, além de tudo o cara ainda esnobou um convite para se juntar aos Rolling Stones quando Mick Taylor - ele era a primeira opção antes de Ron Wood, por sugestão do próprio Keith Richards.

Melhores momentos: a roqueira "Moonchild", onde não fica devendo nada a Richie Blackmore, o blues da faixa-título, a lindíssima acústica "I'll Admit You're Gone", a viajante "Jack-Knife Beat"... tem para todos os gostos!


Rita Lee & Tutti Frutti - Entradas e Bandeiras




Por que ouvir? - Poderíamos simplesmente dizer "porque Rita Lee é o maior nome do rock brasileiro de todos os tempos" e já bastaria. Mas vamos mais além: se não é a obra-prima que foi "Fruto Proibido" (seu antecessor e talvez o melhor disco de rock já gravado no Brasil), "Entradas e Bandeiras" traz a simbiose entre Rita e a banda Tutti Frutti ainda rendendo bons frutos - a relação ficaria desgastada no próximo álbum, quando ela começou a se distanciar um pouco da pegada roqueira e também por conta de estar cada vez mais envolvida em trabalhar com seu marido Roberto  de Carvalho, o que a levou a partir de vez para sua carreira solo.

Melhores momentos: A abertura com "Corista de Rock" e sua letra bem bacana, a glam-rock "Superestafa" (em cujo vídeo promocional Rita está com um visual totalmente David Bowie) e a lindíssima "Coisas da Vida", uma das mais belas músicas já compostas por ela. Ah sim, não esqueçamos da divertida "Bruxa Amarela", composta pela dupla Raul Seixas e Paulo Coelho...


Estes são alguns dos grandes momentos do rock em 1976. E você leitor, sugere mais algum?

Matéria originalmente publicada no site Whiplash!, ora revista e atualizada.

O Rock está vivo! Destaques do primeiro semestre de 2019




Vez por outra sempre algum grande nome do gênero anuncia que o Rock morreu. Ou mesmo os fãs que insistem em ouvir apenas as bandas mais antigas reclamam que os ídolos estão morrendo ou aposentando e não temos “peças de reposição”. Grande parcela da “culpa” é justamente destes segundos, que insistem em não tentar ouvir novidades, se acomodando em ouvir pela enésima vez aquele disco sem dúvidas espetacular que foi gravado quando ele nem era nascido...

Pois bem, vamos quebrar o seu galho! Segue abaixo uma lista de alguns dos melhores lançamentos deste ano até agora, envolvendo artistas que ainda terão muita lenha pra queimar pela frente, e não aqueles que estão em turnê de despedida, se repetindo há 40 anos ou até mesmo já falecidos:

FERAL ROOTS, do Rival Sons




De longe uma das melhores bandas surgidas nos últimos anos, o quarteto norte-americano já esteve no Brasil em algumas ocasiões (no festival Monsters Of Rock de 2015 e como banda de abertura da turnê de despedida do Black Sabbath). Se lá fora já goza de uma boa fama e arrebatou diversos seguidores, infelizmente por aqui ainda segue meio que desconhecido do grande público roqueiro. Em “Feral Roots”, o Rival Sons segue na sua pegada setentista, mas dá uma amplificada em seus horizontes, incorporando temas acústicos, corais, refrões “pegajosos”... e cometem uma verdadeira obra-prima! “Do Your Worst” já nasceu um clássico, a faixa-título é outra pérola, “Shooting Stars” então... Sem falar que Jay Buchanan é a voz mais poderosa do rock atual... Sério candidato a melhor disco do ano...

GOLD & GREY, do Baroness




O quarteto norte-americano passou recentemente pelo Brasil, divulgando seu álbum recém-lançado, com um show em São Paulo aclamado por público e crítica. Seu metal intrincado lembra por vezes um meio termo entre o Tool e o Mastodon. Trazendo a estreia da guitarrista Gina Gleason em estúdio (ela está na banda desde 2017), “Gold & Grey” traz ótimas composições, com uma interação instrumental marcante e criativa. Talvez você estranhe um pouco a mixagem de som excêntrica e diferente, mas não deixe de conhecer!

HELP US STRANGER, do The Raconteurs




A banda formada por Jack White após o recesso (término?) do White Stripes volta depois de um hiato de 11 anos com um álbum extraordinário! Trazendo aquele bom rock de garagem clássico, com flertes de blues ao pop, com muita originalidade e bom gosto. “Bored and Razed” já abre o petardo arregaçando tudo, seguida pela ótima faixa-título e por “Only Child”, com seus violões marcantes. Daí por diante, com o jogo já ganho, é se deleitar com o restante deste grande disco... Lembrando que o grupo virá ao Brasil para o Popload Festival, no dia 15 de novembro, em São Paulo...

TRUTH AND LIES, do Tyler Bryant & The Shakedown




Taí mais uma banda que deveria ter um reconhecimento melhor por aqui... O Tyler Bryant & The Shakedonw foi escolhida pessoalmente pelo Guns N’ Roses para ser a banda de abertura da turnê “Not In This Lifetime”, que marcou o retorno de Slash e Duff McKagan para o grupo, e veio pra cá dois anos atrás se apresentar no Rock In Rio e no São Paulo Trip. “Truth And Lies” traz uma evolução natural no som do grupo em relação ao álbum epônimo lançado em 2017, com uma pegada mais agressiva mas sem se afastar de suas características: a levada setentista, com espaço para alguns banjos (e não duvide, isso fica muito legal!). “Shock and Awe”, “Out There” e “Judgement Day” são apenas alguns dos destaques.

BRING ON THE MUSIC: LIVE AT THE CAPITOL THEATER, do Gov’t Mule




O rockão com pegada bluesy do Gov’t Mule não é nenhuma novidade, assim como a banda em si já é veterana, com 25 anos de existência, e seu líder Warren Haynes (aquele mesmo, dos Allman Brothers) já é quase sessentão... Mas por aqui muita gente também infelizmente ainda não conhece o som maravilhoso praticado pelo grupo. E este ótimo álbum ao vivo é uma oportunidade excepcional para ser iniciado... Só a abertura com “Traveling Tune” já é de dar arrepios na espinha... Imperdível!

ENEMIES & LOVERS, do A New Revenge




Tim “Ripper” Owens é outro velho conhecido do público roqueiro, conhecido por ter sido o vocalista cover eleito para substituir Rob Halford no Judas Priest em seu breve período ausente. Assim como o baixista Rudy Sarzo (que já tocou com Quiet Riot, Whitesnake, Ozzy Osbourne, Dio e muitos mais), o baterista James Kottak (Scorpions, Kingdom Come) e o guitarrista Keri Kelly (Alice Cooper, Slash’s Snakepit, Night Ranger). Com um time desses fica difícil dar errado, ok? E o supergrupo A New Revenge entrega um vigoroso Hard Rock/Heavy Metal para se ouvir no talo! Confira lá!


WHITE RAINBOW, do Mostly Autumn




Outra banda já com um bom tempo de estrada, surgida na década de 1990, o grupo britânico Mostly Autumn é um grande expoente do rock progressivo moderno. Definido pela BBC como uma mistura de Genesis, Pink Floyd, Hard Rock e música celta, apresentam uma sonoridade deliciosa de ser ouvida. Seu mais recente lançamento “White Rainbow” não foge da regra. Dedicado ao ex-membro Liam Davison, guitarrista fundador do grupo falecido em 2017, é uma ótima pedida para se ouvir concentradamente e se desligar do mundo lá fora.

Pois é, o rock está mesmo morto? E olha que citamos apenas alguns dos nomes menos conhecidos do grande público... Se formos considerar o time dos veteranos e grandes estrelas já consolidadadas, ainda tivemos lançamentos neste ano do HOLLYWOOD VAMPIRES (de Alice Cooper e Joe Perry junto ao galã de Hollywood Johnny Depp), SAMMY HAGAR e seu novo grupo, o The Circle (formado pelo guitarrista Vic Johnson, o baterista Jason Bonham e o fiel escudeiro e velho amigo Mike Anthony no baixo), a volta do STRAY CATS com seu rockabilly empolgante, e ainda um novo álbum do WHITESNAKE, como sempre apostando naquele hard rock festivo...

 

 


Se voltarmos ao ano passado, só para citar alguns nomes, foram lançados grandes álbuns de BLACKBERRY SMOKE (trazendo aquele “southern rock” clássico à la Lynyrd Skynyrd), THE MAGPIE SALUTE (banda do ex-guitarrista dos Black Crowes, Rich Robinson), o hard pop festivo do THE STRUTS e o GRETA VAN FLEET – sobre estes dois últimos, aliás, já falamos aqui no blog, confira neste link e neste outro. O The Struts, aliás, já lançou este ano uma regravação de "Dancing In The Streets" (de Martha and the Vandellas) e do tema do anime "Cavaleiros do Zodíaco" (que está sendo utilizada na nova temporada lançada pela Netflix)

E para este ano ainda temos prometidos os novos álbuns de THE DARKNESS, do ex-Oasis LIAM GALLAGHER e do supergrupo FLYING COLORS (de quem também já falamos por aqui). E, mais uma vez, estes são apenas alguns nomes... Muitos outros estão por aí para serem descobertos e admirados. Não fique estacionado no tempo... Não fique aí se lamentando porque seus ídolos estão morrendo e se aposentando... A vida segue... Relembre aquele adolescente curioso que vive dentro de você, sedento por novidades e corra atrás!

Pattie, George e Eric: um triângulo amoroso





Você que é fã de Beatles, ou de boa música em geral, com certeza conhece “Something”, a belíssima composição de George Harrison que faz parte do álbum “Abbey Road”, segundo Frank Sinatra, “a mais bela canção de amor já escrita”. E quem conhece a carreira de Eric Clapton também com certeza tem “Layla” entre suas músicas favoritas (aliás, a favorita de muitos, inclusive deste que vos escreve). Mas você leitor sabia que ambas as canções foram escritas em homenagem a uma mesma mulher?



Patricia Anne Boyd, ou Pattie Boyd como é mais conhecida, era modelo na Inglaterra nos anos 1960, quando foi convidada a ser figurante em um filme dos Beatles, “A Hard Day’s Night” (1964). Lá conheceu e se envolveu com George Harrison, com quem se casaria em janeiro de 1966.

Pouco tempo depois, Eric Clapton ficou amigo de George. Um tanto quanto tímido e deslocado, Clapton se sentiu a vontade na presença do Beatle e a afinidade entre ambos foi muito grande desde então. Eric tocava com o bluesman John Mayall, foi chamado de “Deus” em uma pichação, mas iria se tornar um superstar mesmo com o estouro do Cream, o Power trio que montou junto a Ginger Baker e Jack Bruce. A amizade com George o levou a gravar um solo de guitarra antológico na maravilhosa “While My Guitar Gently Weeps”, do álbum homônimo dos Beatles de 1968 (mais conhecido como “Álbum Branco”).



O que ninguém esperava, porém, era que Clapton iria se apaixonar pela esposa de um de seus melhores amigos. Cabe aqui ressaltar que o final da década foi um tanto quanto conturbada para ele: o Cream acabou, seu avô (que o criou como filho, já que ele não conheceu o pai) havia falecido, e a depressão o levou a afundar nas drogas. Parecia que a luz que poderia salvá-lo seria a figura angelical de Pattie Boyd.

Com George viajando bastante e ainda muito atarefado com compromissos musicais, foi questão de tempo até que Eric finalmente criasse coragem e se declarasse para Pattie. Clapton teria em uma noite conseguido convencê-la a dormir com ele, mas foi algo que deveria ter durado apenas aquela noite. Dias depois, em uma festa, Eric chamou-a para conversar. Abriu seu coração e disse que estava completamente apaixonado por ela, queria que ela se separasse de George para que pudessem se casar. No momento de indecisão de Pattie, George surge do nada na festa. Completamente irritado, mal olha para os dois, apenas se vira e pergunta para a esposa se ela iria com ele para casa ou não. Pattie foi.



Eric ficou arrasado. Não queria magoar o amigo, mas não conseguia se ver livre da obsessão pela garota. Visando respirar novos ares, monta o novo projeto Derek and the Dominos, partido para Miami para gravar um álbum que contaria com a participação do grande Duane Allman. Mas Pattie não saía de seus pensamentos. Tanto que o álbum “Layla and Other Assorted Love Songs” (1970) é uma declaração de amor a ela. Em “Bell Bottom Blues” ele implora: “Você quer me ver arrastando pelo chão por você?/Você quer me ver te implorando para voltar?”. Já em “Layla”, a letra da música inteira deixa extravasar a paixão. De modo a disfarçar, muda o nome da garota na canção inspirado em um livro árabe chamado “A História de Layla e Manjun”, que narrava justamente uma história de amor não correspondido.

Quando o álbum fica pronto, Eric pega uma cópia e chama Pattie ao seu apartamento para ouvir em primeira mão. Era sua última cartada para tentar conquistar de vez o seu amor. Pattie fica emocionada e sem palavras, mas vai embora dizendo que não poderia abandonar seu casamento... Mesmo com o sucesso do álbum, Clapton se afunda de vez nas drogas e bebidas. Especula-se que a belíssima “Isn’t It a Pity?” de George Harrison teria sido uma resposta ao amigo, tanto quanto servia de desabafo ao tumultuado fim dos Beatles. A canção foi lançada no álbum “All Things Must Pass”, também de 1970.



O casamento de George e Pattie ia de mal a pior. Infidelidade de ambos os lados (George ainda tinha muitas groupies, Pattie se envolveu com Ron Wood), muitas drogas usadas por ambos, e um clima insuportável levaram a união a terminar em 1974. Não demorou até que ela e Clapton começassem a ter alguns encontros amorosos. E no final da década, em 1979, os dois finalmente se casaram. Era para ter sido o momento de maior felicidade na vida do deus da guitarra, mas foi muito longe disso...

O ambiente era praticamente o mesmo do casamento anterior de Pattie: drogas, bebidas, traições, muitas brigas... tanto que o casamento acabou na segunda metade da década seguinte. Embora ela admita que tenha usado drogas e bebidas em ambos os casamentos, nunca se tornou uma viciada, ao contrário do que ocorreu com os músicos. Clapton em especial só conseguiu se livrar de vez dos maus hábitos após o falecimento de seu filho Connor, de 4 anos de idade (que o inspirou a compor "Tears In Heaven"), filho de um relacionamento do guitarrista com a italiana Lory Del Santo – segundo relatos, ambos já estavam envolvidos antes mesmo do divórcio se consumar.



E embora tudo isso tenha ocorrido, George e Eric permaneceram amigos até o fim. George certa vez teria dito a Eric que "preferia que Pattie ficasse com ele, pois sabia que era um amigo e que ele cuidaria bem dela". 

Dois ótimos documentários onde a história é relatada são os biográficos "Living In The Material World", dirigido pelo genial Martin Scorcese, sobre George Harrison, e "Life in 12 Bars", de Lili Fini Zanucki, sobre Eric Clapton. Imperdíveis biografias sobre dois músicos espetaculares!




Cameron Crowe - Um Verdadeiro Cineasta Rock and Roll




O prezado leitor que é tão fã de cinema quanto de rock com certeza já deve ter pelo menos ouvido falar de "Quase Famosos", filme que retrata a história de um garoto de apenas 15 anos que se torna jornalista da revista Rolling Stone e acompanha uma banda em sua turnê pelos Estados Unidos em plena década de 1970. Embora a banda do filme nunca tenha existido, a história realmente aconteceu: é a história do próprio diretor e roteirista Cameron Crowe.


Crowe nasceu em Palm Springs, Califórnia, no dia que posteriormente seria conhecido como o dia mundial do rock, 13 de julho, no ano de 1957, filho de James e Alice. Sua mãe era professora e, talvez por conta disso tenha tido grande facilidade na escola. Pulou dois anos de estudos logo no jardim da infância e se formou aos 15 anos de idade. Seus pais eram muito conservadores e mal o deixavam sair de casa. Para se ter uma idéia, só pode ir ao seu primeiro show de rock, uma apresentação do Iron Butterfly, porque ganhou o ingresso em uma promoção na rádio (se dependesse dos pais para comprar um ingresso para um concerto de rock, jamais teria conseguido). E para compensar a falta de contato social com os demais jovens, passou a escrever. Rapidamente se torna colaborador de revistas como a Creem e a Circus, especializadas em música, além da Playboy e o jornal Los Angeles Times. Graças aos seus bons textos, foi convidado pela Rolling Stone, após conhecer em uma viagem o editor chefe da revista, Ben Fong Torres. Acompanhou na estrada, ao longo dos anos, bandas do porte de Led Zeppelin e The Who. O texto do encarte de "The Song Remains The Same", clássico ao vivo do Led, é de sua autoria. Escreveu ainda sobre Bob Dylan, Neil Young, David Bowie, Eric Clapton e outros.



Nos anos 1980, resolve se enveredar pelo cinema. Seu primeiro roteiro foi o do filme "Picardias Estudantis" (Fast Times At Ridgemont High), dirigido por Amy Heckerling em 1982. A princípio, uma mera comédia de adolescentes, daquelas que hoje em dia ficam empoeirando no canto da prateleira da vídeo locadora. Mas foi também o filme que revelou ao mundo Sean Penn e Jennifer Jason Leigh. O primeiro no papel de um surfista doidão e a segunda como uma garota que quer fazer de tudo para perder a virgindade. O rock fica por conta da trilha sonora. Momento memorável do filme: quando um dos adolescentes aconselha o outro a colocar o lado B do Led Zeppelin IV quando for fazer amor com a namorada... e na cena seguinte, o garotão e a menina circulando de carro ao som de "Kashmir" (que na verdade faz parte de "Physical Graffitti", como todo mundo sabe).



Em 1984 escreve mais um roteiro para uma comédia adolescente chamada “Vida Selvagem” (The Wild Life), estrelada por Chistopher Penn (irmão de Sean Penn) e Eric Stoltz e conta a história de três jovens se divertindo em uma noitada sem limites, como propõe o título do filme. Com temas instrumentais de Eddie Van Halen e canções de Prince, Madonna, Little Richard, Jimi Hendrix, Billy Idol e Steppenwolf, esperava-se um sucesso maior do que acabou sendo obtido.



Em 1989, resolve se arriscar como diretor, e lança "Digam o Que Quiserem" (Say Anything), comédia romântica estrelada por John Cusack. Na trilha sonora podem ser ouvidos grandes nomes como Living Colour, Joe Satriani, Cheap Trick, Red Hot Chili Peppers, Peter Gabriel (cuja bela "In Your Eyes" faz parte de duas cenas cruciais do filme), além de sua esposa, Nancy Wilson.



Ganha destaque com o seu segundo filme, "Singles - Vida de Solteiro" (Singles), que conta a história de jovens solteiros em Seattle, à época em que o grunge estava no auge. O canastrão Matt Dillon até que se sai bem no papel do baterista de uma bandinha de garagem local (ninguém menos que o Pearl Jam fizeram o papel da banda!). O elenco tem ainda Bridget Fonda, Bill Pullman e, como curiosidade, uma ponta rápida de Chris Cornell (à época ainda vocalista do Soundgarden). E a trilha sonora? Adivinha só: Alice In Chains, Pearl Jam, Mother Love Bone, Screaming Trees e, claro, o filho mais ilustre de Seattle, Jimi Hendrix.




Seu próximo projeto seria "Jerry Maguire - A Grande Virada" (Jerry Maguire), com Tom Cruise no papel principal. O filme trata da história de um empresário esportivo que sai de uma grande companhia de marketing e tenta dar a volta por cima, às custas de um jogador de futebol americano mediano, interpretado por Cuba Gooding Jr., em papel que rendeu a este o Oscar de Ator Coadjuvante. O filme, o roteiro e Tom também foram indicados ao prêmio, mas não venceram. Onde fica o rock nisso tudo? O filme e a trilha sonora já começam ao som de "Magic Bus", do The Who. Ouve-se também Neil Young, Paul McCartney, Elvis Presley, Bruce Springsteen... E tem ainda a sequência no filme onde Jerry, feliz da vida, sai andando de carro e cantando junto ao rádio "Free Fallin'", de Tom Petty and the Heartbreakers.



A seguir, o que praticamente é sua auto-biografia, o já citado "Quase Famosos" (Almost Famous), com Billy Cudrup, Jason Lee, Kate Hudson e Phillip Seymour Hoffman, no papel do lendário crítico musical Lester Bangs. Seja pelo filme que é espetacular (foi indicado inclusive ao Oscar de melhor filme, e ganhou o de roteiro, da autoria do próprio Crowe), seja pela ótima trilha sonora, é uma obra obrigatória aos fãs da mistura "cinema + rock". O filme relata o dia a dia de uma banda nos anos 1970 na estrada, como eram os shows, a sua relação com as groupies, os problemas, as drogas... Tudo ao som de Simon and Garfunkel, The Who, Led Zeppelin, Yes, Rod Stewart, David Bowie, Elton John, Lynyrd Skynyrd, Beach Boys... Antológica a sequência do avião passando por uma turbulência infernal, onde todos acham que vão morrer e começam a fazer confissões uns aos outros... reza a lenda de que a confissão de um deles se dizendo gay realmente aconteceu na vida real, e foi feita por ninguém menos que Keith Moon...



Em 2001, Cameron resolve investir na refilmagem do ótimo filme espanhol "Abre Los Ojos". Surge "Vanilla Sky" (idem), mais uma vez com Tom Cruise no papel principal, trazendo ainda no elenco Jason Lee (novamente), Jeff Bridges, Cameron Diaz e Penelope Cruz (que trabalhou na versão original). Cruise é um playboy herdeiro de uma grande empresa que sofre um acidente e fica com o rosto desfigurado. O filme é excelente, mas não é para todos os gostos. A canção tema, de mesmo nome, é de ninguém menos que sir Paul McCartney. A trilha traz ainda Peter Gabriel (com a clássica "Solsbury Hill"), R.E.M., The Monkees, Bob Dylan... Além disso, no apartamento de Cruise no filme, pode-se ver ainda uma guitarra Gibson S.G. quebrada emoldurada, referência com certeza a Pete Towshend do The Who (a banda ainda aparece na sequência de imagens ao final do filme). Seria o The Who a banda favorita do diretor?



E então chegamos ao fraco "Tudo Acontece em Elizabethtown" (Elizabethtown). O filme tenta ser comédia, tenta ser um pouco de drama... mas não chega a lugar nenhum. Conta a história de um rapaz que tem que ir a uma cidadezinha do interior para o velório do pai e enfrentar a família deste, que ele sequer conhece. Tem no elenco Orlando Bloom, Kirsten Dunst, Susan Sarandon e Alec Baldwin. Embora o filme seja bem esquecível, o mesmo não se pode dizer do surreal velório. A banda do sobrinho do falecido executando a clássica "Free Bird", do Lynyrd Skynyrd, com direito a "efeitos especiais" no palco tornam a sequência memorável e engraçadíssima. A trilha sonora tem três lançamentos diferentes: um CD duplo, com canções de artistas que vão desde Tom Petty até Ryan Adams, um EP (!) com seis canções, e um outro CD com os temas de fundo do filme.


 


Sua ligação com Seattle e seus filhos ilustres locais é retomada em 2011, quando assume a direção do ótimo documentário “Twenty” (idem), que narra a trajetória do Pearl Jam, com acesso a imagens do acervo particular do grupo, trazendo cenas raríssimas. Outro documentário dirigido por ele foi lançado no mesmo ano: “The Union” (idem), mostrando os bastidores do álbum de mesmo nome gravado por Elton John e Leon Russell, e trazendo depoimentos de outros grandes nomes como Bernie Taupin (parceiro de composições de Elton), Neil Young, Brian Wilson, Stevie Nicks e outros mais.



Ainda em 2011 lança mais um longa metragem, a comédia dramática família “Compramos um Zoológico” (We Bought A Zoo), estrelando Matt Damon no papel de um pai de família viúvo que compra um zoológico em decadência e assume o desafio de restaurá-lo e reabri-lo para o público. Embora a trilha sonora deste filme seja apenas composta dos temas instrumentais que permeiam o filme, durante a película podemos ouvir Tom Petty, Eddie Vedder, Cat Stevens, Echo & The Bunnymen, Bob Dylan, Neil Young e até o projeto Temple Of The Dog.



Em 2015, Crowe lança “Sob o Mesmo Céu” (Aloha), comédia romântica que naufragou nas bilheterias, estrelada por Bradley Cooper, Emma Stone, Rachel McAdams e Bill Murray. Conta a história de um militar que volta para o Havaí, sua terra natal, para supervisionar o lançamento de um satélite e se envolve com uma antiga namorada e uma nova paixão. Desta vez a trilha intercala diversos artistas havaianos menos conhecidos do grande público com Fleetwood Mac, Beck, David Crosby e Hall & Oates.



Após o fracasso de seu último projeto para as grandes telas, Cameron se aventura no universo televisivo, e cria a séria “Roadies”, co-produzida por J. J. Abrams (“Lost”, “Star Wars – Episódios VII e IX”). Estrelada por Luke Wilson e Carla Gugino, como o próprio nome indica, narra a história de uma equipe que trabalha na produção do show de uma banda fictícia, a The Staton-House Band. Crowe dirigiu alguns episódios da série que foi ao ar em 2016, e obteve resposta favorável, embora não tenha sido um grande sucesso. O canal de TV Showtime chegou a anunciar uma renovação para uma segunda temporada, porém até o momento nada se concretizou.



Como vimos, até em sua vida amorosa Crowe é rock and roll. Ele foi casado com Nancy Wilson, guitarrista e vocalista do Heart, grande banda de hard rock norte-americana. A união do casal durou de 1986 a 2008, e eles tiveram filhos gêmeos em 2000. Nancy foi responsável por diversas trilhas sonoras de seus filmes no período. 

Resta agora esperar quais serão seus futuros projetos, mas uma coisa é certa: Cameron Crowe já tem seu nome cravado na história tanto do rock quanto do cinema, tendo contribuído com qualidade em ambas as vertentes. Quantos conseguiram tal feito?

Matéria originalmente publicada no site Whiplash!, ora revista e atualizada.

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