Iron Maiden, Genesis e Van Halen - ou Bayley, Wilson e Cherone: três apostas erradas de três grandes bandas

Estamos de volta à década de 1990, época onde o hair metal definha frente à explosão do grunge e ao nu-metal. Paralelo a isso tudo, três grandes nomes da história do rock se deparam com uma encruzilhada em suas carreiras: o Genesis vê Phil Collins, após anos de sucesso, dizer adeus à banda para se dedicar exclusivamente aos seus trabalhos solos; o Van Halen enfrenta mais uma crise com a briga do segundo vocalista, Sammy Hagar, com os irmãos holandeses, em especial com o guitarrista Eddie; já o Iron Maiden sofre o baque de ver a saída Bruce Dickinson de saco cheio da agenda da banda, com longas e exaustivas turnês, gravações de discos e pouco descanso. Cada um a seu tempo, os três gigantes resolvem tentar superar suas baixas apostando as fichas em novos cantores para os postos vagos. O mundo estaria prestes a presenciar três das maiores bolas foras da história da música...

Blaze Bayley no Iron Maiden (1995-1998)



Cronologicamente, a primeira varada n’água foi perpetrada pelo Iron Maiden. Após a realização de um show fechado de despedida do grande Bruce Dickinson, com direito a participação especial de um ilusionista e tudo mais (conforme pode ser conferido no VHS/DVD “Raising Hell”), enfrentam um hiato que parecia interminável. Vários boatos começaram a surgir sobre quem assumiria o posto vago: desde Michael Kiske, ex-Helloween, até o brasileiro André Matos (que, de fato, enviou gravações para a banda), passando até mesmo por Paul Di’Anno. Mas na verdade Steve Harris e cia. optaram pelo ex frontman do Wolfsbane, Blaze Bayley. Desconhecido fora da Inglaterra, o pouco que se ouvia dizer era que sua ex-banda tinha um som calcado no hard rock dos anos 1970, com influências do Van Halen, fase David Lee Roth. A princípio tudo isso causou certo estranhamento, mas todos aguardaram pacientemente pelo novo disco para tirar suas próprias conclusões.


Chegou então às prateleiras o CD “The X Factor”. Um álbum que chega até a ser bom. Analisando friamente, talvez melhor até do que o insosso “No Prayer For The Dying”. Os vocais mais graves de Blaze a princípio não chamaram tanta atenção, acabaram passando pelo teste. Mas era ao vivo que o novo vocalista teria sua prova de fogo. E aí sim veio a grande decepção: se em estúdio dava para maquiar algumas imperfeições, no palco isso era impossível. Era sofrível ver aquele cara todo paradão no meio do palco, cantando mal pra caramba, desafinando principalmente nos velhos clássicos... Quem assistiu ao show da banda por aqui no Monsters Of Rock de 1996 sabe muito bem disso – logo de cara já deu uma saudade danada de Bruce, que à época se via envolvido com sua nova sonoridade cada vez mais longe do metal.


De qualquer modo, completaram a tour e lançaram uma coletânea de sucessos e raridades (“Best Of The Beast”, com a inédita e pouco inspirada “Virus” – e um dos vídeo clipes mais ridículos da história da donzela). Surge mais um álbum de estúdio, o fatídico “Virtual XI”. A responsabilidade era grande – os fãs já sabiam das limitações de Blaze e se tornaram ainda mais “viúvos” de Bruce. Pois é... Se “The X Factor” tinha, pelo menos, algumas boas composições, o mesmo já não dava pra se dizer deste novo CD. Talvez se “The Angel And The Gambler” fosse um pouquinho menos repetitiva, poderia se tornar uma grande canção... Salva-se “The Clansman” e olha lá... Que agonia era ouvir a péssima “Como Estais Amigos” (e seu refrão “amigos, no more tears”, que doía aos ouvidos). A nova tour quase decretou o fim da banda, que se via no fundo do poço. Paralelo a isso, Bruce retornava ao metal, muito bem acompanhado de Adrian Smith e Roy Z, e entregava ao mundo “Accident Of Birth”, anos luz melhor que qualquer coisa feita pelo Maiden em toda aquela década. A reunião acabou sendo inevitável, para a felicidade geral da nação. Depois disso, Blaze Bayley continua apostando no metal, com seus projetos solos, mas tende a se tornar mais um Paul Di’Anno: um eterno ex-Iron Maiden...

Ray Wilson no Genesis (1997-98)



Saindo do lado pesado do rock e passando para o mundo já não tão mais progressivo, o Genesis encarava a dura realidade de ver a saída do carismático Phil Collins do grupo. Phil também se dizia cansado da extensa maratona de shows e gravações, haja vista ainda tinha que levar adiante sua bem sucedida carreira solo, com sua vida pessoal ficando sempre em detrimento. Optou por ficar com esta apenas e dizer adeus à vida nos holofotes: após algum tempo ainda como artista solo, realizaria aquelas que seriam suas então apresentações de despedida (até o recente retorno, com a tour “Not Dead Yet”). Mike Rutherford e Tony Banks estavam entre a cruz e a espada: parar ou arriscar ir adiante? Resolvem então recrutar o escocês Ray Wilson, praticamente desconhecido do mundo todo, e gravar um novo álbum.


Eis que em 1997 chega ao mercado “Calling All Stations”, fruto desta união. Os três membros, acompanhados de músicos contratados, flertavam tanto com o progressivo, abandonado há tempos, quanto com o pop e as baladas “radiofônicas” dos anos 1980, soando um tanto quanto esquizofrênico: parecia uma banda do tipo do Simple Minds tentando soar como Genesis. Se o disco já se demonstrava desde o começo um fiasco, tanto em vendas quanto em relação às críticas, a turnê não poderia ser diferente. Ray Wilson é um bom cantor, com um belo timbre de voz, mas não para o Genesis. Se as novas composições, como “Congo” e a chatíssima “Shipwrecked” decepcionavam, pelo menos ao vivo os fãs poderiam conferir músicas de todas as eras novamente, há muito fora do set list. Mas outra vez veio a dura realidade: cada nova execução de “Carpet Crawlers”, “The Lamb Lies Down On Broadway” ou “Turn It On Again” era um assassinato. Mesmo com a banda baixando o tom para o alcance vocal de Wilson, a coisa toda não funcionava. A “chacina” pode ser conferida no concerto gravado na Polônia, que leva o mesmo nome do álbum. Acertadamente, após vários shows cancelados por baixa vendagem de ingressos, decidiram dar um tempo, quase que definitivo – em 2007, Phil, Tony e Mike fizeram a verdadeira tour de despedida (que infelizmente não desceu para os trópicos, ficando restrita ao primeiro mundo). Ray Wilson segue como artista solo, tendo inclusive já se apresentado no Brasil.

Gary Cherone no Van Halen (1997-99)



Eddie Van Halen é um sujeito conhecido por ter um dos gênios mais difíceis de se conviver do mundo do rock. Um mestre das seis cordas, sem dúvida alguma, mas seu temperamento, aliado ao alcoolismo, dificulta tudo – já conseguiu tretar até mesmo com o boa praça Steve Morse. E se os fãs já sentiam saudades dos áureos tempos de David Lee Roth, em 1996 com mais uma debandada, por parte de Sammy Hagar, tudo parecia acabado de vez. Foi feita uma tentativa de reunião com Dave naquele ano ainda. O estardalhaço foi grande. Eles chegaram a gravar duas músicas inéditas para uma coletânea (“Best Of Van Halen”) e até a participar do MTV Video Music Awards, entregando um dos prêmios da noite. Mas a reunião acabou ali mesmo, nos bastidores, com mais uma discussão entre Dave e Eddie. O futuro era incerto mais uma vez.

Eis que vem a proposta do manager Ray Daniels: recrutar para o posto Gary Cherone, vocalista do Extreme (banda que era gerenciada pelo mesmo e se encontrava na geladeira). A notícia em si já havia caído como uma bomba. Fãs mais radicais já sepultavam de vez o quarteto. Outros, com algum fio de esperança, ainda aguardavam para ver o que iria acontecer – dentre eles, este que vos escreve. O lançamento de “Van Halen III” em 1998, a exemplo do que aconteceu com o Genesis, já dava mostras do fracasso retumbante eminente. O álbum era tão ruim que dava até dó. À exceção da boa faixa de abertura, “Without You”, e de “Fire In The Hole” (que fez parte da trilha sonora do também péssimo “Máquina Mortífera 4”), o resto das canções mostravam um ou outro bom momento de Eddie nas guitarras aqui e ali. E só. Nenhum tema digno, sequer, de fazer companhia a qualquer outra coisa que a banda tivesse lançado com seus outros dois cantores. Correram notícias ainda de que Michael Anthony só teria gravado o baixo em três músicas – ou seja, mais crises internas.


Ao vivo, Gary até se esforçava bastante. O grande deleite para os fãs seria poder ouvir, novamente, músicas da época de “Diamond Dave”, como “Unchained” e “Mean Streets”, mas não dava... o estilo e o timbre dele simplesmente não tinham química alguma com o som do Van Halen. À época, chegou-se a anunciar um possível retorno da banda ao Brasil (inclusive no próprio site oficial), que acabou não se concretizando. Não foi lançado oficialmente nenhum home video, mas o show transmitido pela TV na Austrália pode ser encontrado na internet. Vale a curiosidade apenas para colecionadores. Chegaram a se reunir em estúdio para compor um novo álbum, mas tudo ficou engavetado. O resto da história todo mundo já sabe: Sammy voltou e saiu de novo, David voltou para o delírio de todos (mas Michael Anthony ficou de fora, por estar tocando junto a Sammy e o baixo foi assumido pelo filho de Eddie, Wolfgang), um álbum inédito foi lançado (“A Different Kind Of Truth”) mas as excursões da banda mais uma vez não mal saíram da América do Norte (o Japão foi a exceção). E Gary Cherone montou uma banda chamada Tribe Of Judah, andou sumido e, depois de um tempo, juntou-se novamente a Nuno Bettencourt e ressuscitou o Extreme.

Matéria publicada originalmente no site Whiplash!, ora atualizada

Cozy Powell: baterista, pioneiro e apaixonado por carros


Músico inglês que tocou com alguns dos maiores nomes da história do rock, como Jeff Beck, Rainbow, Whitesnake, Black Sabbath, Peter Green (Fleetwood Mac) e Brian May. Exímio baterista e um dos pioneiros da técnica de dois bumbos. Apaixonado por carros, motos e velocidade em geral. Você sabe quem foi Cozy Powell?

Nascido em 29 de dezembro de 1947, na cidade inglesa de Cirencester, com o nome de batismo de Colin Flooks, Powell começou a lidar com as baquetas ainda na escola, por volta dos 12 anos de idade, estando sempre envolvido em orquestras e fanfarras. Nas horas vagas, batucava em casa acompanhando sucessos das rádios, e logo conseguiu uma bateria simples e formou uma banda (chamada The Corals), que tocava semanalmente em sua cidade natal. Com apenas 15 anos, o garoto já impressionava a plateia com sua precisão e técnica. Grande fã de jazz tradicional, cria seu nome artístico em homenagem ao baterista Cozy Cole.



Pouco tempo se passou até que adentrass no circuito semi-profissional, ao formar o grupo The Sorcerers, mas logo se viu obrigado a abandonar a banda para poder concluir seus estudos sem ser prejudicado. Após arrumar emprego em um escritório, Powell logo consegue juntar dinheiro para comprar seu primeiro grande kit de bateria profissional, da famosa marca Premier. De volta ao grupo, os Sorcerers conseguem apresentações na Alemanha no final da década de 1960 e logo passam a se basear na região de Birmingham, onde Powell acaba ficando amigo de alguns músicos iniciantes da região, como Robert Plant e John Bonham (que à época tocavam na banda Listen), Tony Iommi (de quem futuramente se tornaria grande parceiro), Noddy Holder (futuro vocalista do Slade), entre outros.

O grupo resolve então mudar seu nome para Youngblood para lançar material próprio, e em seguida se unem ao baixista e vocalista Ace Kefford para formar o The Ace Kefford Stand. Paralelo a este grupo, Powell forma o Big Bertha, com seus companheiros de banda, os irmãos Dave e Dennis Ball. Graças à notoriedade conseguida, Powell ainda participa do festival Isle Of Wight em 1970, acompanhando Tony Joe White, o que lhe serviu para ganhar ainda mais projeção e ser convidado por Jeff Beck para integrar seu grupo, com quem gravaria “Rough and Ready” (1971) e “Jeff Beck Group” (1972). Infelizmente o grupo durou pouco e logo após estes dois álbuns se dissolveu.



Ainda em 1972, Cozy Powell gravou a bateria de duas músicas para Harvey Andrews, além de tocar novamente com os irmãos Ball no Bedlam, onde ficou até o ano seguinte. Em janeiro de 1974 arrisca-se em carreira solo e lança um single, “Dance With The Devil”, que surpreende e chega ao “top 10” das paradas inglesas. Decide então formar seu próprio grupo, o Cozy Powell’s Hammer, para tentar capitalizar o sucesso obtido com o single, além de gravar com os mais variados artistas, como Suzi Quatro e Donovan.

Eis que em 1975 ocorre a grande guinada em sua carreira: Cozy recebe o convite do ex-Deep Purple Ritchie Blackmore ser o baterista do Rainbow, quando este resolveu dispensar por deficiência técnica os antigos companheiros de ELF de Ronnie James Dio, que haviam gravado o primeiro disco do grupo. O Rainbow, especialmente nesta fase com Dio e Powell, aposta suas fichas em um som pesado e melódico, com forte influência erudita e sinfônica, sedimentando as bases do que viria a ser na década seguinte chamado de Power Metal. Apesar de terem lançado dois grandes clássicos consecutivos, os álbuns “Rising” e “Long Live Rock and Roll”, onde chegam a gravar inclusive com orquestras, Blackmore decide abandonar a sonoridade pesada e pomposa para apostar em uma fórmula mais comercial. Dio deixa o grupo, substituído por Graham Bonnet, com quem o Rainbow lança “Down to Earth”, contando com ainda outros dois músicos que fazem parte da árvore genealógica do Purple: o baixista Roger Glover e o tecladista Don Airey.



Apesar do grande sucesso do grupo, mais notadamente com as faixas “Since You Been Gone” e “All Night Long”, Powell não se identifica mais com a sonoridade e postura comercial e decide sair da banda, após o encerramento da turnê que culminou com o show na primeira edição do Monsters of Rock em Donington, realizada em agosto de 1980. Este foi seu último show com o Rainbow.

Para a surpresa de muitos, o vocalista Graham Bonnet também sai do Rainbow, e convida Powell para participar de seu novo projeto, o Graham Bonnet & The Hooligans. Juntos, conseguem emplacar o single “Night Games” entre as dez canções mais executadas na Inglaterra em 1981. Ainda naquele ano, Powell junta-se ao Michael Schenker Group e em 1982, após a saída de Ian Paice, assume o posto de baterista do Whitesnake a partir da turnê de “Saints & Sinners”. Acompanhando o grupo de David Coverdale, Cozy Powell ainda retornaria ao Monsters of Rock em 1983, participaria da gravação de “Slide It In”, em 1984, e visitaria o Brasil, na primeira edição do Rock In Rio, em janeiro de 1985.



Quando David Coverdale decide tirar férias e reestruturar sua banda, Powell não para e presta seus serviços ao projeto Phenomena e, em 1986, junta-se a Greg Lake e Keith Emerson no que viria a ser o Emerson, Lake and Powell – a então nova versão do E.L.P., sem o baterista original Carl Palmer. Após os trabalhos com o trio, Powell reencontra o velho amigo Tony Iommi, que o convida a integrar o Black Sabbath, junto ao seu ex-companheiro de Whitesnake, o baixista Neil Murray. Permanece no grupo até 1991, tendo participado das gravações dos álbuns “Headless Cross” e “TYR”, e depois retorna entre 1994 e 1995.

Na virada da década encontra tempo ainda para tocar com o grande guitarrista Gary Moore em 1989, além de reformar seu Cozy Powell’s Hammer (junto aos parceiros de Sabbath Neil Murray e Tony Martin). Por fim, mais uma vez ao lado de Murray, passa a integrar a banda solo de Brian May, após o fim do Queen. Participa das gravações dos álbuns “Back To The Light” e “Another World”, além de acompanhar o guitarrista em sua turnê, voltando assim ao Brasil em 1993, além de terem excursionado junto ao Guns N’ Roses em seu auge, na tour de “Use Your Illusion”. Tocou também na turnê de 1996 do Fleetwood Mac.



Inquieto, Powell ainda contribuiu em gravações de Peter Green, Colin Blunstone, além de gravar um álbum solo (“Especially For You”) e tocar com duas lendas: o guitarrista do Judas Priest, Glenn Tipton, e o baixista do The Who, John Entwistle. O resultado foi o álbum “Edge Of The World”, lançado apenas após sua morte, como uma homenagem de Tipton a ele e ao também saudoso Entwistle. Além de exímio baterista, era fascinado pela velocidade, chegando até a correr pela equipe Hitachi na Inglaterra por alguns meses. Uniu suas duas paixões quando apareceu no programa da TV BBC chamado “Record Breakers”, onde estabeleceu o recorde de maior número de toques de bateria em um minuto.

Em 1998 o destino se mostrou cruel ao baterista. Após abandonar uma turnê junto a Yngwie Malmsteen, devido a uma lesão no pé, acaba falecendo em um acidente de carro – Cozy destruiu seu SAAB 9000, após colidir a cerca de 170 km/h, dirigindo sob chuva na rodovia M4, próximo à cidade de Bristol, na Inglaterra. Segundo relatos da BBC na época, além de estar com um teor alcoólico acima do permitido, Powell não utilizava cinto de segurança e estava ao telefone com sua namorada, que depois confirmaria ter ouvido suas últimas palavras durante o telefonema – um grito horrorizado de “Oh, my God!”.



À época de seu falecimento, Cozy Powell encontrava-se gravando novamente com o fundador do Fleetwood Mac, Peter Green. Em toda sua carreira, Powell participou de pelo menos 66 álbuns gravados em pouco mais de trinta anos com inúmeros artistas, deixando um enorme legado e tornando-se referência para os bateristas de rock pesado no mundo todo – só para citar alguns exemplos, ouça atentamente “Stargazer” e “A Light In The Black”, do álbum “Rising” do Rainbow (1976).

Por fim, segue abaixo uma relação dos grupos do qual ele fez parte. E mais abaixo uma playlist com alguns de seus melhores momentos (infelizmente nem todos disponíveis)...

• The Sorcerers (1967–1968)
• Youngblood (1968–1969)
• The Ace Kefford Stand (1969)
• Big Bertha (1969–1970)
• The Jeff Beck Group (1970–1972)
• Bedlam (1972–1973)
• Cozy Powell (1973–1974)
• Cozy Powell's Hammer (1974)
• Rainbow (1975–1980)
• Graham Bonnet & the Hooligans (1980–1981)
• Michael Schenker Group (1981–1982)
• Whitesnake (1982–1985)
• Emerson, Lake & Powell (1985–1986)
• Pete York/Cozy Powell (1987)
• Black Sabbath (1988–1991)
• The Brian May Band (1991–1992)
• Cozy Powell's Hammer (1992–1993)
• The Brian May Band (1993–1994)
• Black Sabbath (1994–1995)
• Peter Green’s Splinter Group (1997)
• Tipton, Entwistle and Powell (1997)
• Yngwie Malmsteen (1997)
• The Brian May Band (1998)
• Peter Green’s Splinter Group (1998)
• The Snakes (1998)




Doctor Recomenda: “Rita Lee Mora ao Lado”, a divertida biografia da rainha do rock brasileiro




Antes de mais nada, um aviso: este livro não é a autobiografia que Rita Lee lançou em 2016. Trata-se de outro, lançado dez anos antes, escrito por Henrique Bartsch, autor que sempre foi fã confesso de rock e diz que a única fonte para o livro foram as diversas conversas que teve com a cantora ao longo dos anos, de quem ficou muito amigo – tanto que quando encaminhou a Rita o texto finalizado, ela não se opôs a nada e autorizou a publicação na íntegra.

“Rita Lee Mora ao Lado” narra a história da rainha do rock brasileiro de uma forma muito bem humorada, através dos olhos da fictícia Bárbara Farniente, que supostamente teria sido contemporânea e vizinha da cantora, tendo acompanhado de perto toda a sua vida.



Entre as histórias mais interessantes estão o pai conservador de Rita que se opunha à sua carreira na música (curiosamente, esse mesmo pai conservador que acabou por introduzir a filha no mundo das drogas, quando liberava o uso do lança-perfume no carnaval), a saída dos Mutantes, o envolvimento com Andy Mills, engenheiro de som de Alice Cooper que viria a produzir o clássico “Fruto Proibido”, episódios com João Gilberto, o pseudo-guro Thomaz Green Morton (aquele do "Rá"), sua prisão quando estava grávida, seu relacionamento com o eterno parceiro Roberto de Carvalho... Tudo “narrado” forma muito envolvente pela observadora Bárbara...

Vale lembrar ainda que o livro acabou sendo adaptado para o teatro, num musical de mesmo nome, estrelado por Mel Lisboa no papel da cantora – Mel, aliás, recentemente repetiu o papel na biografia de Elis Regina exibida na TV.



Não deixe de conferir, de preferência ouvindo a Rainha cantar...



Blue Murder: o super power-trio que não decolou...




Você que é fã de rock clássico e em especial Thin Lizzy e Whitesnake com certeza conhece bem o nome John Sykes. Para quem não conhece, Sykes é um virtuoso guitarrista inglês, que despontou ao integrar o grupo Tygers Of Pan Tang no começo da década de 1980, tendo entrado para o Lizzy e participado de seus últimos trabalhos, até que foi convidado por David Coverdale a se juntar ao Whitesnake em 1984, quando o guitarrista original Micky Moody resolveu sair do grupo. Sim, é aquele guitarrista loiro que se apresentou com o grupo no primeiro Rock In Rio, em 1985, e arrancou muitos suspiros da plateia feminina no festival...

Dono de uma técnica apurada, escolada em seu ídolo Gary Moore, e com um timbre inconfundível, Sykes compôs junto a Coverdale praticamente todo o álbum homônimo “Whitesnake”, também conhecido por “1987” (à exceção das regravações “Here I Go Again” e “Cryin’ In The Rain”, todo o resto é de autoria da dupla), trabalho de maior sucesso comercial do grupo. Porém os conflitos de gênios e egos se tornaram insustentáveis, e antes mesmo que terminassem as gravações, acabou demitido pelo vocalista (assim como o restante dos músicos).



Devido ao êxito do trabalho e ao talento inegável do músico, a gravadora Geffen resolve apostar as fichas nele em um eventual trabalho solo ou com algum novo grupo. E eis que surge o Blue Murder! Inicialmente um quarteto (o saudoso Ray Gillen, ex-Black Sabbath e Badlands, chegou a gravar algumas demos inicialmente), o grupo se fixou como power-trio e contava com as guitarras e vocais de Sykes, além de Tony Franklin (ex-The Firm) e seu baixo fretless e ninguém menos que Carmine Appice (ex-Vanilla Fudge, Rod Stewart e Ozzy Osbourne) na bateria. Um time de respeito, que ainda teria o tecladista Nik Green como músico de apoio.

O trabalho de estreia levando o nome da banda seria lançado em 1989, com produção de Bob Rock (que no mesmo ano produziria o clássico “Dr. Feelgood”, do Mötley Crüe, e posteriormente trabalharia com o Metallica no “Black Album”), e trazia um hard rock vigoroso, com ótimas canções e arranjos. Desde a abertura com “Riot”, passando por “Sex Child”, a épica “Valley Of The Kings”, a contagiante “Jelly Roll”, a bela balada “Out Of Love”... o que se ouve é um verdadeiro desfile de ótimas músicas, uma em seguida da outra. Outro grande tema é a música que leva o nome do grupo, composta pelo trio, assim como “Black-Hearted Woman”, que fecha o álbum em grande estilo. Sykes dedicaria o álbum ao amigo Phil Lynott, líder do Thin Lizzy, falecido três anos antes.



Infelizmente a formação original não durou muito tempo, e durante as gravações do segundo álbum Franklin e Appice deixaram o grupo, sendo substituídos respectivamente por Marco Mendoza e Tommy O’Steen – o tecladista Nik Green  seria efetivado como membro do grupo também. Dadas as turbulências da gravação, nada mais apropriado do que chamar o trabalho de “Nothin’ But Trouble” (nada além de problemas). Irregular, acabou chamando bem menos atenção do público, e logo após a turnê, Sykes decide seguir em carreira solo e acabar com o Murder – ainda seria lançado no Japão um ao vivo chamado “Screaming Blue Murder”. Sem falar que era um período onde o grunge explodiu, desviando todas as atenções para as bandas do gênero...



Sykes ressuscitou o Thin Lizzy com ex-membros do grupo em 1994 como tributo a Lynott, e excursionou com o grupo até 2009. Em 2011 começaria a trabalhar em um novo supergrupo com o baterista Mike Portnoy (recentemente saído do Dream Theater) e o baixista Billy Sheehan, mas não houve química, e ele acaba sendo substituído por Richie Kotzen. Era o nascimento de outro power-trio incrível, The Winery Dogs, mas isso já é assunto para outra conversa...


Trilha Sonora: quando ela é muito melhor que o filme

Desde os tempos do cinema mudo, quando a música ajudava a expressar os sentimentos do que se via na tela, passando pela transição de 1927, com o primeiro longa metragem falado (o musical “O Cantor de Jazz”), cinema e música sempre tiveram uma relação muito estreita. Muitos anos depois, veio a popularização das trilhas sonoras em discos, que a princípio era um fenômeno mais restrito a filmes musicais – se nos anos 1950 e 1960, Elvis e Beatles acharam na simbiose com os filmes um grande filão a ser explorado, na década de 1970, talvez o caso mais notório seja o estrondoso sucesso dos Bee Gees em sua fase discoteca, na trilha do filme “Os Embalos de Sábado a Noite”. Até o momento em que a coisa se expandiu e chegamos ao ponto onde o casamento era tão perfeito, que tanto a película quanto as músicas se tornaram inesquecíveis e inseparáveis (“Pulp Fiction” e “Quase Famosos” são dois grandes exemplos). E muitas vezes o filme em si não era lá grandes coisas, acabando sendo ofuscado pela seleção de músicas e temas escolhidos para compor sua “Original Soundtrack”. A lista a seguir apresenta justamente isso: alguns filmes que ficaram a desejar, seja por seu resultado final ou mesmo pela falta de sucesso, mas cujas trilhas sonoras valem uma audição cuidadosa.


FLASH GORDON (“Flash Gordon”) – 1980

O FILME - Uma adaptação para as telonas de um personagem popular dos quadrinhos pode gerar grandes êxitos, mas também podem resultar em filmes decepcionantes. Quando o produtor italiano Dino De Laurentis resolveu levar a história de “Flash Gordon” para o cinema, o projeto levou anos para sair do papel – e antes dele, George Lucas teve a mesma ideia, mas acabou usando apenas como inspiração para “Star Wars”. Quando o filme finalmente foi realizado, o resultado final foi um misto de ficção-comédia-trash que desagradou profundamente a todos, principalmente aos fãs do herói. Anos depois acabou adquirindo uma aura cult, e em 2012 na comédia “Ted” (aquela do urso de pelúcia, do mesmo criador de “Family Guy”), o filme e o ator Sam J. Jones recebem uma homenagem bem peculiar...

A TRILHA – Quando o Queen foi convidado a compor a trilha sonora do filme, o projeto não foi nem de longe uma unanimidade no grupo, que estava mais focado nas gravações do clássico “The Game”. Quem acabou mergulhando de cabeça no projeto foi o guitarrista Brian May, que produziu o álbum junto a Reinhold Mack e foi autor das faixas mais conhecidas do disco (“Flash’s Theme” e “The Hero”), além de responsável por uma bela versão “guitarrística” da Marcha Nupcial. A trilha acabou fazendo muito mais sucesso do que o filme, que mal pagou os gastos da produção. Anos mais tarde o Queen acertaria a mão em cheio em sua nova empreitada cinematográfica, ao trabalhar nas músicas do clássico “Highlander” (1986), mais um caso em que tanto o filme quanto a trilha são clássicos.


COMBOIO DO TERROR (“Maximum Overdrive”) – 1986

O FILME – Não é segredo para ninguém que o escritor Stephen King sempre odiou as adaptações de seus livros para o cinema (incluindo-se aí até mesmo os clássicos “Carrie, A Estranha” e “O Iluminado”). Então em 1986, ele resolve se lançar como diretor e fazer sua própria adaptação do conto “Trucks” (a chamada no trailer era o próprio King dizendo “se você quiser algo bem feito, faça você mesmo”). O roteiro? Com a passagem de um cometa próximo à Terra, objetos inanimados passam a criar instintos assassinos e atacar os humanos, desde caixas eletrônicos de bancos, veículos e até uma ponte levadiça (sim, é isso mesmo que você leu...). O resultado? Bem, além de ser um fracasso retumbante de bilheteria e crítica, essa foi a única empreitada de King no cinema. Não precisa dizer mais nada, né?

A TRILHA – Para a trilha sonora, King convidou o AC/DC, citada pelo mesmo como sua banda favorita. E acabou que o álbum “Who Made Who” se tornou a trilha oficial do filme e uma espécie de coletânea do grupo, trazendo três faixas inéditas (a faixa título, e as instrumentais “D. T.” e “Chase The Ace”), sendo o restante composto por clássicos como “You Shook Me All Night Long”, “Hells Bells”, “For Those About To Rock” e “Ride On” (única da fase Bon Scott). Anos luz melhor que o filme, sem sombra de dúvidas...


A APARIÇÃO (“The Wraith”) - 1986

O FILME – Um Charlie Sheen ainda garotão estrela essa trama (?) na qual um jovem volta do mundo dos mortos em um carrão esportivo disposto a se vingar da gangue de rachas automobilísticos responsável por sua morte. Pois é... A sua sobrancelha franzida traduz o que público e crítica acharam do filme...

A TRILHA – Embora no filme possam ser ouvidos diversos clássicos do hard rock oitentista (como “Smokin’ In The Boys Room”, do Mötley Crüe e “Rebel Yell”, de Billy Idol), na trilha oficial nem tudo foi incluído, talvez por conta de direitos autorais. No disco marcam presença Ozzy Osbourne (com “Secret Loser”), Bonnie Tyler (“Matter Of The Heart”), Ian Hunter (ex-Mott The Hoople, com “Wake Up Call”) e o Lion (ex-banda de Doug Aldrich, com “Never Surrender”).


SHOCKER – 100.000 VOLTS DE TERROR (“Shocker”) – 1989

O FILME – O diretor Wes Craven alcançou fama mundial com o primeiro filme de Freddy Krueger (“A Hora do Pesadelo”, de 1984) e na década de 1990 faturaria milhões com a série comédia-terror “Pânico”. Tornou-se referência no gênero, mas contabilizou alguns insucessos também. Em 1989, na expectativa de criar um personagem tão bem sucedido quanto Freddy, Craven trouxe a história de um serial killer condenado à morte, que no momento de ser executado na cadeira elétrica tem seu corpo energizado com a descarga elétrica, fazendo com que seu espírito ganhe o poder de se transferir para outros corpos, transformando pessoas inocentes em assassinos brutais. Se não foi de todo um fracasso, ficou longe de ser um grande êxito comercial, frustrando seus planos de criar mais uma franquia de filmes.

A TRILHA – A faixa título foi gravada por Dudes Of Wrath, uma espécie de supergrupo formado por ninguém menos que Paul Stanley (Kiss) e Desmond Child nos vocais, Vivian Campbell (Def Leppard, Dio) e Guy-Mann-Dude (Alice Cooper) nas guitarras, Rudy Sarzo (Quiet Riot, Ozzy Osbourne, Whitesnake) no baixo, Tommy Lee (Mötley Crüe) na bateria, além de Michael Anthony (Van Halen, Chickenfoot) e Kane Roberts (Alice Cooper) nos backing vocals. A trilha tem ainda os alemães do Bonfire com “Sword and Stone” (originalmente uma composição de Paul Stanley, Bruce Kulick e Desmond Child para o Kiss), uma ótima versão do clássico “No More Mr. Nice Guy” de Alice Cooper regravada pelo Megadeth, além de Iggy Pop e Dangerous Toys.


BILL & TED – DOIS LOUCOS NO TEMPO (“Bill & Ted’s Bogus Journey”) – 1991

O FILME – Em 1989 a comédia “Bill & Ted – Uma Aventura Fantástica” (“Bill & Ted’s Excellent Adventure”) trazia um jovem e desconhecido Keanu Reeves (o eterno Neo de “Matrix”) e Alex Winter nos papeis centrais, como dois adolescentes que viajam no tempo com a ajuda de uma cabine telefônica para conseguir concluir um trabalho escolar de História (!!!). Devido à boa bilheteria, ganhou uma sequência dois anos depois, cuja história começa em 2691, quando o cientista De Nemolos se cansa do sistema criado por Bill e Ted para a sociedade viver e envia dois robôs sósias dos adolescentes de volta no tempo para assassiná-los antes que criem o tal sistema (!!!!!!!!!).

A TRILHA – Se o primeiro filme não tinha uma trilha sonora muito atraente, o segundo filme trouxe um discaço: tem Kiss com o clássico “God Gave Rock ‘N’ Roll To You II”, Megadeth com a porrada “Go To Hell”, Primus com “Tommy The Cat”, Faith No More com “Perfect Crime” (o guitarrista Jim Martin, aliás, participa do filme), e ainda Steve Vai (responsável também pelas “vinhetas sonoras” no filme, quando a dupla comemora algo tocando “air guitar”), Richie Kotzen, King’s X, Slaughter, Winger...


O HOMEM DA CALIFÓRNIA (“Encino Man”) – 1992

O FILME – Aproveitando a onda do sucesso de “Bill & Ted” e também da adaptação de “Wayne’s World” para o cinema (que, para quem não sabe, originalmente era um quadro do programa humorístico “Saturday Night Live”), a Disney, através de sua subsidiária Hollywood Pictures, busca o filão “comédia para adolescentes com trilha rock and roll”. Surge a história de um homem das cavernas (Brendan Fraser, de “A Múmia”) que é descoberto congelado no quintal da casa de Dave (Sean Astin, de “Os Goonies” e da trilogia “O Senhor dos Anéis”) por seu amigo Stoney (Pauly Shore de... ah, melhor deixar pra lá...). Se o roteiro já prenuncia um abacaxi sem tamanho, tente assistir ao filme e rir se for capaz...

A TRILHA – Ao contrário do filme, a trilha sonora é bem bacana, trazendo Queen (“Stone Cold Crazy”), Vince Neil (“You’re Invited (But Your Friend Can’t Come)”), Infectious Groove (“Feed The Monkey”), Cheap Trick (com uma cover de “Wild Thing”), Scatterbrain (“Mama Said Knock You Out”) e Steve Vai (“Get The Hell Out Of Here”).


SUPER MARIO BROS (“Super Mario Bros”) – 1993

O FILME – Nintendo e Disney (via Hollywood Pictures novamente) produzindo um filme sobre o personagem de videogame mais popular do mundo. A ideia inicial parece ter tudo pra dar certo mas... Se o saudoso Bob Hoskins parecia ser a escolha ideal para interpretar Mario, de quem foi a ideia de escalar John Leguizamo, que não tem nada a ver fisicamente com Luigi, para o papel do irmão do encanador? E Dennis Hopper como Koopa?? Sem falar que o resultado final foi um filme pra lá de esquecível, lembrado por Hoskins como “o pior projeto do qual ele já havia participado”. Já Leguizamo conta que ele e Hoskins passavam a maior parte das filmagens se embebedando para afogar suas frustrações...

A TRIHA – Bem, a trilha sonora não é exatamente uma maravilha, mas com certeza é bem mais divertida do que o filme, misturando Joe Satriani (“Speed Of Light”), Queen e sua clássica “Tie Your Mother Down”, Megadeth (estavam em todas, hein?) com “Breakpoint” (depois relançada na coletânea “Hidden Treasures”) e Extreme (“Where Are You Going?”) com artistas tão diversos quanto Roxette, George Clinton, Divinyls... Vale como curiosidade...


O ÚLTIMO GRANDE HERÓI – (“Last Action Hero”) – 1993

O FILME – Um exemplo de filme interessante, mas cujo projeto foi mal entendido e mal recebido. Numa espécie de exercício de metalinguagem, o diretor John McTiernan (do primeiro “Duro de Matar”) traz a história de Jack Slater (Arnold Schwarzenegger), um herói de filmes de ação que passa a interagir com o garoto Daniel (Austin O’Brien), que fora transportado para dentro do filme que assiste no cinema, como que em um universo paralelo. Superprodução que mal pagou seus gastos, longe de ser uma obra-prima, sendo um filme diferente que não agradou ao grande público, ficando marcado como um dos grandes fracassos na carreira do ex-governador da Califórnia.

A TRILHA – Com o status de produtor, Arnold escolheu ele próprio as bandas para comporem canções para a trilha sonora. E não é que o cara tem um bom gosto do tamanho do seu físico? O álbum só tem sonzeira: AC/DC com “Big Gun”; Alice In Chains em dose dupla (“What The Hell Have I” e “A Little Bitter”); Megadeth (virando arroz de festa nas trilhas) com “Angry Again”; Queensryche dos bons tempos (com a belíssima “Real World”); Def Leppard (“Two Steps Behind”); Anthrax (“Poison My Eyes”); Aerosmith (com a eterna “Dream On” em versão ao vivo, com orquestra)... Sério candidato a melhor álbum de trilha sonora de todos os tempos... Pelo menos para nós fãs de rock...


ARMAGEDDON (“Armageddon”) – 1998

O FILME – Embora tenha sido um grande sucesso de bilheterias, “Armageddon” é um filme criado pela mesma equipe de “Bad Boys” e “Independence Day” (o diretor Michael Bay, o produtor Jerry Bruckheimer e etc.) – ou seja: há quem goste, mas muita gente também odeia. Aqui novamente os EUA salvam o mundo de uma catástrofe apocalíptica, quando enviam uma equipe ao espaço (liderados por Bruce Willis) para impedir que um asteróide gigantesco venha a colidir com nosso planeta... Foi uma das maiores bilheterias do ano em uma época onde já se temia que a virada do século poderia ser o fim do mundo, haveria um bug do milênio e etc... E ficou esquecido no tempo, assim como essas bobagens...

A TRILHA – A trilha sonora do filme foi composta por ninguém menos que Trevor Rabin (ex-guitarrista do Yes). E para o CD ele recrutou alguns grandes figurões do rock, para nosso deleite. O Aerosmith aparece com quatro músicas (duas inéditas: a melosa “I Don’t Wanna Miss A Thing” e “What Kind Of Love Are You On?”; além da clássica “Sweet Emotion” e a cover de “Come Together”, dos Beatles). Quem marca presença também é o Journey, com “Remember Me” (estreando Steve Augeri nos vocais e Deen Castronovo nas baquetas), além do grande ZZ Top e sua inconfundível “La Grange”. Tem também Jon Bon Jovi (“Mister Big Time”), Bob Seger (“Roll Me Away”) e Patty Smith (“Wish I Were You”).


DEIXA ROLAR (“Outside Providence”) – 1999

O FILME – Produzido pelos irmãos Peter e Bobby Farrelly (criadores das comédias “Quem Quer Ficar com Mary?”, “Debi e Lóide” e “Eu, Eu Mesmo e Irene”, entre outras), e baseado em livro do próprio Peter, o filme conta a história de Timothy (Shawn Hatosy), um jovem em idade colegial em 1974, criado apenas pelo pai (Alec Baldwin) após o suicídio de sua mãe, cuja maior diversão é fumar maconha com os amigos. Após bater o carro em uma viatura policial, seu pai o manda para um colégio super rigoroso para ver se o jovem entra na linha. Quando esse parece ser o pior momento de sua vida, ele conhece Jane (Amy Smart), por quem acaba se apaixonando. Ao contrário dos demais projetos dos irmãos, este foi um fracasso retumbante nas bilheterias, sendo lançado direto em DVD em muitos países...

A TRILHA – Se o filme passou despercebido, a trilha sonora merece ser garimpada por quem é fã de um bom e velho rock and roll. Olha só a lista de clássicos: “Won’t Get Fooled Again” (The Who), “Band On The Run” (Paul McCartney & Wings), “Take It Easy” (Eagles), “All Right Now” (Free), “Roundabout” (Yes), “Freebird” (Lynyrd Skynyrd), “Long Train Runnin’” (Doobie Brothers), “No Matter What” (Badfinger), “Do It Again” (Steely Dan)... Um verdadeiro “greatest hits” da época, e um CD ideal para pegar a estrada...


DETROIT ROCK CITY (“Detroit Rock City”) – 1999

O FILME – O Kiss deveria ser proibido de se aventurar nos filmes. Não bastasse o pavoroso trash “Kiss Meets The Phantom Of The Park”, feito para a TV em 1978, e as frustradas investidas do linguarudo Gene Simmons como ator na década de 1980, o quarteto tentou aproveitar a boa maré da volta da formação clássica e lançou essa comédia, contando a história de quatro jovens fãs do grupo que fazem de tudo para conseguirem ir a um show dos mascarados em Detroit em 1978. Embora a premissa seja simpática, o filme simplesmente não funciona e não tem graça nenhuma... Isso sem mencionar a caricata participação da banda no final...

A TRILHA – Obviamente o CD traz músicas do Kiss: além de “Detroit Rock City”, tem “Shout It Out Loud” e a balada inédita (e dispensável) “Nothing Can Keep Me from You”, composta por encomenda pela mesma Diane Warren que fez “I Don’t Wanna Miss A Thing” para o Aerosmith em “Armageddon”. Tem ainda Van Halen (“Runnin’ With The Devil”), Thin Lizzy (“Jailbreak”), Cheap Trick (“Surrender”), David Bowie (“Rebel Rebel”), Black Sabbath (“Iron Man”) e algumas covers, como a ótima “Cat Scratch Fever” de Ted Nugent, numa versão matadora do Pantera, “Strutter” do Kiss, bem regravada pelas garotas do The Donnas, o Everclear assassinando “The Boys Are Back In Town” do Thin Lizzy, além de versões bizarras de “Highway to Hell” do AC/DC feita por Marilyn Manson e “20th Century Boy” do T-Rex, regravada pelas suecas do Drain STH.


ROCKSTAR (“Rockstar”) – 2001

O FILME – Inspirado na história de Tim “Ripper” Owens, o vocalista cover que ocupou a vaga deixada pelo original Rob Halford no Judas Priest, “Rockstar” traz a história de Chris “Izzy” Cole (Mark Wahlberg, que antes de ser ator, era conhecido como o cantor de hip hop Marky Mark). Fanático pela banda Steel Dragon e vocalista de uma banda tributo em homenagem a eles, Chris é convidado a integrar a banda que idolatra quando o vocalista original é demitido. Para tentar dar maior credibilidade à história, quem interpreta os músicos são ninguém menos que Zakk Wylde, Jason Bonham e Jeff Pilson (Dokken, Foreigner). Jennifer Anniston (a eterna Rachel do seriado “Friends”) também participa do elenco, interpretando Emily, namorada de Chris. Contando com muitos estereótipos, exageros e piadas sem graça, “Rockstar” é um filme que originalmente tinha tudo pra ser bacana, mas acabou se tornando uma bola fora tremenda e naufragando nas bilheterias...

A TRILHA – Trevor Rabin também é o responsável por esta trilha sonora, reunindo aqui Kiss (“Lick It Up”), Bon Jovi (“Livin’ On a Prayer”), Mötley Crüe (“Wild Side”), Ted Nugent (“Stranglehold”) e até INXS (“Devil Inside”). Além disso, a banda fictícia Steel Dragon também marca presença com seis boas músicas, incluindo uma cover de “Long Live Rock ‘n’ Roll” do Rainbow. O único “porém” ficou por conta da faixa título e tema principal do filme, de autoria do Everclear – nada contra a banda, mas seu estilo não tem nada a ver com a temática do filme e nem com o resto da trilha...

Abaixo, uma playlist com algumas das canções aqui mencionadas. É só dar o play!

Matéria originalmente publicada no Whiplash!


Burn – 45 anos do clássico do Deep Purple



Hoje, 15/02/2019, comemoramos 45 anos do lançamento de um disco que marcou muito minha vida. Acreditem ou não, minha história com o Deep Purple começou meio que às avessas: o primeiro disco deles que ouvi foi “Made In Europe” e, em seguida, “Burn” – ou seja, conheci primeiro a fase com David Coverdale e Glenn Hughes para só depois ir para a fase com Ian Gillan e Roger Glover e as demais. Um parêntese: lembrem-se que estamos falando de uma era pré-Internet, onde nossa realidade eram discos de vinil e fitas cassetes, e em uma pequena cidade do interior nem sempre se tinha acesso a alguém que dispusesse de uma discografia completa para lhe apresentar uma banda. Era um verdadeiro trabalho de garimpo, do tipo o amigo do amigo emprestar ou um tio de um colega gravar uma fita para você...

Mas voltando ao disco em si, “Burn” representou um momento crucial na história do Deep Purple. Com carreira mais do que consolidada na Inglaterra e na Europa de modo geral, o grupo só foi decolar de vez no mercado norte-americano com o lançamento de “Machine Head” (ou, mais especificamente, após “Smoke On The Water” começar a circular massivamente). Aí uma enxurrada de shows passaram a ser marcados em uma agenda que já era pra lá de apertada, tanto que o último disco com Ian Gillan no período, “Who Do We Think We Are?”, acabou saindo um pouco aquém do verdadeiro poder de fogo do quinteto, mas nada que afetasse a vendagem de discos e ingressos – eles ficavam cada vez mais populares na terra do Tio Sam (se você acha novidade o Iron Maiden ter o seu próprio avião para as turnês, saiba que o Purple e o Led Zeppelin já tinham nos anos 1970).



De saco cheio das turnês intensas e também com problemas de relacionamento interno, Gillan entrega o cargo no auge do sucesso do grupo. O baixista Roger Glover sairia logo em seguida – dizem as más línguas, o guitarrista Richie Blackmore teria forçado sua saída, pois já estava de olho em Glenn Hughes, que inicialmente ocuparia as duas vagas na banda. Mas havia ainda a possibilidade de que Paul Rodgers se juntasse ao grupo (o Free tinha acabado recentemente). Porém a iniciativa não vingou, pois ele havia acabado de formar o Bad Company, recém-contratados pelo selo Swan Song do Led Zeppelin (e empresariados pelo mesmo Peter Grant que cuidava da banda de Page, Plant e cia.).

O Deep Purple então resolve colocar um anúncio no jornal musical “Melody Maker”, de grande circulação na Inglaterra, anunciando que estavam recrutando um substituto para Ian Gillan. E a vaga acabou ficando com David Coverdale, completamente desconhecido na época, mas que ganhou o posto pelo seu timbre grave, bluesy e melodioso, para fazer uma parceria com Hughes e seus tons mais altos. Time completo, partiu estúdio... E foi em Montreux, na Suíça (aquela mesma da história de “Smoke On The Water”), também no estúdio móvel dos Rolling Stones (assim como em “Machine Head”) que o quinteto se reuniu para as gravações de “Burn”. E o resultado foi simplesmente espetacular!



Da abertura avassaladora com a faixa título até a última canção, a instrumental “A 200”, “Burn” é um daqueles casos onde você coloca o disco pra rodar e não pula nenhuma música sequer. Os destaques? Impossível não falar de “Burn”, a música, onde já fica claro que ninguém estava ali para brincadeira: um riff e solos espetaculares de Blackmore, Jon Lord igualmente solando de forma magistral nos teclados, a dupla Coverdale/Hughes desafiando nossos ouvidos e Ian Paice socando a bateria sem dó. E era só o começo...

“Might Just Take Your Life” é uma deliciosa mistura de rock, blues e soul, um momento inspiradíssimo, seguida por “Lay Down, Stay Down” onde o ritmo acelera novamente. “Sail Away” aposta mais no feeling pra fechar o lado A do vinil, e quando viramos pra continuar a audição, Ian Paice já chega galopando com outro petardo sonoro, “You Fool No One”, que ficaria ainda mais inesquecível e empolgante nas versões ao vivo, onde o grupo costumava estender em jams, solos individuais e etc.




“What’s Goin’ On Here” talvez seja a mais subestimada do disco, mas não tem como não se empolgar com os vocais de Coverdale e Hughes dando show novamente, além do belíssimo solo ao piano do saudoso Jon Lord. “Mistreated” foi uma parceria perfeita entre Coverdale e Blackmore, um blues de lavar a alma, que também se tornou obrigatória ao vivo e com direito a solos viajantes do genioso guitar hero – aliás, mesmo depois que foi para o Rainbow, Blackmore a manteve no repertório, assim como Coverdale a levou pros shows do Whitesnake...

O encerramento era com a instrumental e semi-progressiva “A 200”, mostrando uma faceta bem diferente do Purple. Nas sessões, uma outra ótima faixa instrumental também havia sido gravada, chamada “Coronarias Redig”, que acabou sendo lançada no lado B do compacto de “Might Just Take Your Life” (e posteriormente em coletâneas e incluída no álbum em edições comemorativas e remasterizadas). A produção foi da própria banda, com o fiel escudeiro Martin Birch como sempre como engenheiro de som e na mixagem – Birch, você sabe, ainda produziria muitos clássicos do rock posteriormente, junto ao Whitesnake, Rainbow, Iron Maiden, Black Sabbath...


Um verdadeiro marco na história do rock, daqueles obrigatórios em qualquer discografia que se preze. Vamos matar a saudade?  “The sky is red, I don’t understand...”



Doctor recomenda: Von Hertzen Brothers



“Não somos rock, não somos prog, não somos metal, não somos pop – somos tudo isso ao mesmo tempo” (Mikko Von Hertzen)

Basicamente a definição do vocalista e guitarrista do Von Hertzen Brothers resume o som da banda: imagine colocar num caldeirão elementos dessas sonoridades todas aí. Com os irmãos finlandeses é mais ou menos isso: você está passeando por uma sonoridade prog, com elementos setentistas, de repente entram guitarras pesadas e uma levada na cozinha que remete ao Foo Fighters... Conseguiu imaginar? Melhor então não perder tempo e ouvir... Mas espera aí... Não corre pra playlist ao final do texto ainda não...



Os irmãos Mikko (vocais e guitarra), Kio (guitarra) e Jonne (baixo) já eram conhecidos na cena finlandesa dos anos 1990, com carreiras reconhecidas, porém completamente anônimos fora dali.  Resolvem unir forças em 2001 e formam o Von Hertzen Brotherslançando seu primeiro álbum, “Experience”, onde eles mesmos tocam basicamente todos os instrumentos, trazendo na bagagem uma mistura de rock clássico, progressivo, pop, folk, punk e rock contemporâneo.  Em  2006 entram o baterista Mikko Kaakkurriniemi e o tecladista Juha Kuoppala (que ficam até 2016), e eles lançam seu segundo álbum, "Approach",  que foi vencedor do prêmio Emma-gaala (equivalente finlandês ao Grammy) de “melhor álbum de rock do ano”,



Seu trabalho seguinte, “Love Remains The Same” (2008) atingiu o primeiro lugar em vendas no país, rendendo-lhes um disco de ouro. Isso chama a atenção da Universal Music, que assina um contrato de distribuição internacional com os irmãos, levando seu quarto trabalho “Stars Alligned” (2011) a ser reconhecido e apreciado em diversos países, mais notadamente no Reino Unido, onde desde então o grupo tem se apresentado frequentemente, seja em festivais, abrindo para outros artistas e também em shows próprios. Alguns nomes para quem o Von Hertzen Brothers abriu: Pain Of Salvation, Opeth, Foo Fighters, Neil Young e ZZ Top. Ainda em 2011, junto ao Rubik (outra banda da cena finlandesa), realizam o show “A Night At The Huvila”, em homenagem aos ídolos do Queen.

2013 viu a chegada de “Nine Lives”, mais um trabalho de sucesso em seu país natal e no Reino Unido, tendo inclusive arrebatado o prêmio de “Melhor Álbum de Rock do Ano” pela revista Classic Rock britânica. “New Day Rising”, de 2015, seria seu trabalho mais elogiado e celebrado até então, tendo na faixa título uma das músicas mais requisitadas do grupo em suas apresentações – uma de suas melhores, sem dúvida.



Por hora, o último lançamento do grupo é “War Is Over”, o primeiro com o selo Mascot Label, que tem entre outros contratados Joe Bonamassa, Black Country Communion, Black Label Society, Steve Lukather (Toto) e o supergrupo Flying Colors (de quem falaremos muito em breve). Ousado, o grupo põe para fora toda sua verve progressiva logo na faixa título e seus mais de 12 minutos de duração, num verdadeiro petardo sonoro. Já em “The Arsonist” apresenta uma pegada mais radiofônica e ao longo do disco, um pouco de tudo o que compõe este caldeirão criativo dos escandinavos.


Confira abaixo uma playlist com alguns dos melhores momentos do grupo, com direito ainda a uma bela cover de “21st Century Schizoid Man”, do King Crimson...

Death On Two Legs: a declaração de ódio de Freddie Mercury



Uma pergunta que sempre intrigou os fãs do Queen diz respeito à faixa de abertura de seu álbum mais clássico, “A Night At The Opera”, de 1975: “Death On Two Legs”, uma música bastante agressiva (tanto em sua sonoridade quanto em sua letra) composta por Freddie Mercury trazia o misterioso subtítulo de “dedicated to......” (“dedicada a...”). Acompanhando a letra da canção, que já começa com os singelos versos como “You suck my blood like a leech” (“você suga meu sangue como um sanguessuga”) e “You’ve taken all my money and you want more” (“você tomou todo meu dinheiro e ainda quer mais”), parece óbvio se tratar de alguém que estaria passando a perna na banda. Mas afinal de contas a quem é que o vocalista direcionava tanta raiva?

Alguns fãs debatem na internet sobre o assunto. Entre as páginas, sites, e tópicos em sites de relacionamentos, os nomes que surgem com mais freqüência são os de Norman Sheffield, co-proprietário dos estúdios Trident (com quem o Queen tinha contrato de gravação em seus primeiros discos) e Jack Nelson, manager da banda. No documentário da série “Classic Albums” feito sobre “A Night At The Opera”, Brian May e Roger Taylor chegam a comentar sobre o assunto, mas não chegam a citar nenhum nome. Vamos então recapitular um pouco dessa história.

O início de tudo: o contrato com os estúdios Trident

Em 1972, já com cerca de dois anos de existência, o Queen gozava de boa reputação no circuito roqueiro londrino, mas não conseguia um contrato de gravação, tendo em vista sua sonoridade demasiadamente extravagante para a época, bem como o nome do grupo ser muito afeminado para um grupo de quatro rapazes. Eis que surge uma grande oportunidade: através de alguns contatos por parte da gravadora Mercury, com quem Brian e Roger ainda se viam de certa forma vinculados (por conta de sua extinta banda, o Smile), veio uma proposta para que o Queen servisse de “cobaia” para testar as instalações do recém inaugurado estúdio De Lane Lea, onde acabaram gravando sua primeira fita demo oficial.

Após extensa distribuição do material, os irmãos Norman e Barry Sheffield, proprietários dos conceituados estúdios Trident em Londres, interessaram-se pelo promissor quarteto. Financeiramente a proposta até agradava, já que a banda, sem um tostão no bolso, não precisaria pagar pelo uso dos estúdios e poderia desfrutar dos melhores produtores e engenheiros de som da casa. Em contrapartida, só poderiam realizar suas gravações quando os artistas mais famosos que pagavam pelos serviços do estúdio terminassem seus trabalhos – o que normalmente compreendia períodos esdrúxulos e extremamente penosos, entre as 3 da madrugada e 7 horas da manhã...



De qualquer forma, e contando com a camaradagem de alguns artistas como David Bowie e Paul McCartney, que cediam parte de seus horários para que a banda pudesse gravar, conseguem lançar o primeiro álbum, com o mesmo nome da banda, sob o selo próprio dos estúdios Trident. Após certa repercussão (em especial da faixa “Keep Yourself Alive”) e apresentações ao vivo muito comentadas, conseguem então contrato de distribuição com as grandes gravadoras EMI (na Inglaterra e Europa) e Elektra (nos Estados Unidos) e chegam ao segundo álbum, “Queen II”, cujo single “Seven Seas Of Rhye” lhes renderia uma participação no tradicional programa de TV “Top Of The Pops”, da BBC, famoso por apresentar as canções da parada de sucessos. Saem então em uma turnê pela Inglaterra e pelos Estados Unidos, junto ao Mott The Hoople (que fazia muito sucesso na época, graças à canção “All The Young Dudes”, de David Bowie).

Apesar do sucesso crescente, a situação financeira da banda não era das melhores. Freddie Mercury e Roger Taylor eram sócios em uma loja de roupas em Londres, mas tiveram que fechá-la para poderem se dedicar mais à banda. O mesmo havia acontecido com Brian May, que recentemente tivera que abrir mão de um cargo como professor substituto em uma faculdade. E o tal paradoxo de fama e pouco dinheiro só aumentou com o lançamento de “Sheer Heart Attack”: o álbum projetou a banda mundialmente, levando-os a tocar inclusive no Japão, onde tiveram tratamento de verdadeiras lendas do rock, tamanha a histeria dos fãs nipônicos. “Killer Queen”, a faixa de maior sucesso do disco, tocava por todas as rádios, shows eram agendados um após o outro (chegando até a ocorrerem mais de um em um mesmo dia). Mas quanto aos lucros propriamente ditos... Quase nada lhes era repassado. Freddie Mercury já expunha, meio que metaforicamente, um pouco do que sentia em uma das canções daquele álbum...

Flick of the Wrist



Considerada uma espécie de precursora de “Death On Two Legs”, “Flick Of The Wrist” (que refere-se àquele tipo de tapa dado com as costas da mão), parte integrante de “Sheer Heart Attack”, já trazia um Freddie Mercury bastante irritado e incomodado com a situação em que vivia. A letra da música fala justamente sobre abuso e exploração, com trechos como “‘Prostitute yourself’, he says, ‘castrate your human pride’” (“‘prostitua-se’, ele diz, ‘castre seu orgulho humano’”). À época poderia parecer apenas uma canção isolada sobre o tema, mas com o passar do tempo parece claro que Freddie se sentia justamente como uma prostituta explorada por um cafetão, haja vista a excessiva carga de trabalho que lhes era imposta, além de não ver nenhum dinheiro passando por suas mãos, enquanto seus “chefes” andavam pela capital inglesa a bordo de limusines...

Musicalmente falando, “Flick Of The Wrist” pode ser vista também como uma irmã mais velha de “Death On Two Legs”, dada sua levada pesada, seus arranjos intrincados de piano... Um dos grandes destaques fica para a gravação do vocal principal de Freddie, dobrando sua voz em uma oitava mais grave em determinados trechos da letra. E uma curiosidade fica por conta do fato de Brian May só tê-la ouvido pela primeira vez quando foi gravar suas partes de guitarra e vocais, já que no início das gravações do álbum estava se recuperando de uma hepatite.

A morte sobre duas pernas…



Se por um lado a fama do Queen só aumentava, por outro seus membros não podiam desfrutar devidamente de tudo que estavam conquistando: tal papel era exercido por seus empresários. Embora houvessem gravado um concerto no teatro Rainbow lotado, onde a banda aparecia chegando em grande estilo a bordo de uma limusine, a situação verdadeira era bem diferente daquilo. Brian May precisava de um adiantamento para poder comprar um imóvel e deixar morar no apartamento que alugava junto a alguns amigos. Negado. Freddie queria realizar o sonho de ter um piano de cauda. Negado. Mas a gota d’água, que enfureceu a banda de vez, ainda estava por vir: o baixista John Deacon, recém-casado, pediu dinheiro para pagar alguns exames de sua esposa, que se encontrava grávida. Negado também.



Diante de tanta humilhação, os quatro resolvem procurar novos empresários. E para tentar se livrar do contrato leonino que lhes prendia junto aos exploradores irmãos Sheffield e a Jack Nelson, contam com os serviços do advogado Jim Beach, que em seguida também passaria a administrar os interesses da banda, tornando-se empresário e, praticamente, um quinto membro do Queen. Obviamente tiveram que abrir mão de várias coisas, levaram certo prejuízo, mas enfim conseguiram a liberdade. Ao mesmo tempo, precisavam de um empresário de maior renome para representá-los perante as gravadoras, de quem eram contratados diretamente agora. Após uma proposta pífia por parte de Peter Grant (que temia não poder se dedicar em tempo integral mais ao Led Zeppelin, caso fechasse com o Queen), foi escolhido John Reid, que trabalhava para Elton John.

A banda vivia ainda outra situação delicada: após conseguirem um adiantamento da EMI para realizarem as gravações em vários estúdios de primeira linha, e gastarem uma fortuna na produção do álbum, viviam a incerteza de que estaria por acontecer quando lançassem o novo álbum. Era tudo ou nada: o sucesso ou a falência. (felizmente para a banda, “Bohemian Rhapsody” estourou, trazendo o álbum na rasteira e catapultando-os ao estrelato).

Sob a tutela de Roy Thomas Baker, que já havia produzido os três primeiros álbuns da banda, começam as gravações daquela que seria sua obra mais aclamada, “A Night At The Opera”. Enfurecido por todos estes acontecimentos, Freddie Mercury escreve uma peça musical de início caótico, com complicados arpeggios no piano combinando com guitarras e ruídos estridentes: era a introdução de “Death On Two Legs”. Inicialmente o restante da banda havia ficado com um pé atrás, principalmente por conta da sua letra contundente e incisiva, mas por fim decidiram gravá-la. Para se ter uma idéia, certa vez Freddie admitiu em uma entrevista: “a letra era tão vingativa, tão agressiva que Brian se sentia desconfortável em cantá-la. Eu ainda não gosto de falar sobre o que eu estava sentindo quando a escrevi. Era terrível, extremamente terrível”.

Como se não bastasse tanta controvérisa, havia então mais um empecilho: Freddie queria dedicar explicitamente a canção a quem lhe servira de inspiração, e após algumas discussões acaloradas, ficou decidido que o nome do sujeito não apareceria, mas ficaria apenas sugerido no subtítulo “dedicated to....”. Tal decisão se mostrou acertada: Norman Sheffield, quando ficou sabendo do lançamento da canção e do álbum, chegou a acionar a banda judicialmente por difamação, mas como não havia nada que o citasse abertamente nem na música nem no resto do disco, o processo foi arquivado. Talvez com base nisso a imensa maioria dos fãs do Queen acredite realmente que a canção tenha ele como tema.



Acalorando a outra vertente, que defende que a canção versa sobre Jack Nelson, encontra-se a biografia “Freddie Mercury”, recentemente lançada pelo escritor francês Salim Rauer. No livro, ao narrar sobre os acontecimentos da época, o autor coloca o nome de Nelson como sendo a “fonte de inspiração” de toda a raiva e animosidade do vocalista.

Ouvindo a gravação, é impossível não notar o tom agressivo da voz de Freddie durante a canção: ele parece cuspir as palavras enquanto canta, deixando clara toda sua revolta. Em um fórum na internet, corre a história de que ele estava tão raivoso que chegou até a sangrar pelos ouvidos... Uma outra curiosidade é que, assim como seria feito com “Bohemian Rhapsody”, o piano de Freddie servira de guia para mostrar a Brian May como deveriam soar seus riffs, gerando um efeito interessante na edição final.




Versões ao vivo

“Death On Two Legs” passou a ser presença constante nos shows do Queen, mas oficialmente só pode ser encontrada no duplo ao vivo “Live Killers”, de 1979. Nesta gravação, Freddie chega a anunciar que a música era sobre alguém, até que três “bipes” sonoros encobrem sua “dedicatória”, complementada com: “We call him ‘Death On Two Legs’” (algo como “nós o chamamos de ‘a morte sobre duas pernas’”). Tal fato só fez aumentarem as especulações entre os fãs. Embora ele possa realmente ter dito o nome do “cidadão”, corria a informação (e esta é a versão predominante até hoje) de que Freddie, na verdade, soltou alguns palavrões, o que levou à opção da gravadora por censurá-lo, evitando assim problemas com o lançamento do álbum – segundo alguns relatos, ele costumava introduzi-la nos shows dizendo “this is about a real motherfucker of a gentleman” (“ela é sobre um cavalheiro filho da puta de verdade”) ou “this is about a motherfucker I used to know” (“ela é sobre um filho da puta que eu conheci”).

A canção acabou apenas sendo deixada de lado em 1980, a partir da excursão do álbum “The Game”, estrondoso sucesso comercial que obrigou a banda a abrir mão de alguns clássicos para a inclusão dos então novos sucessos.



A letra e a tradução

Por fim, eis a letra e a tradução da controversa canção:

Death on Two Legs (Dedicated to...)

You suck my blood like a leech
You break the law and you preach
Screw my brain till it hurts
You’ve taken all my money
And you want more

Misguided old mule
with your pig headed rules
With your narrow minded cronies
Who are fools of the first division

Death on two legs
You’re tearing me apart
Death on two legs
You’ve never had a heart of your own

Kill joy, bad guy
Big talking, small fry
You’re just an old barrow boy
Have you found a new toy
to replace me?
Can you face me?
But now you can kiss
my ass goodbye

Feel good, are you satisfied?
Do you feel like suicide?
(I think you should)
Is your conscience all right?
Does it plague you at night?
Do you feel good?
Feel good?

You talk like a big business tycoon
You’re just a hot air balloon
So no one gives you a damn
You’re just an overgrown schoolboy
Let me tan your hide

A dog with disease
You’re the king of the ’sleaze’
Put your money where your mouth is
Mister know-all
Was the fin on your back
Part of the deal? (Shark!)

Death on two legs
You’re tearing me apart
Death on two legs
You’ve never had a heart (you never did)
of your own (right from the start)

Insane, you should be put inside
You’re a sewer rat decaying
in a cesspool of pride
Should be made unemployed
Then make yourself null and void
Make me feel good
I feel good…

Morte sobre duas pernas (Dedicada a…)

Você suga meu sangue como uma sanguessuga
Você infringe a lei e reza
Aperta meu cérebro até doer
Você tomou todo o meu dinheiro
E ainda quer mais

Mula velha desorientada
Com suas regras porcas
Com seus amiguinhos imbecis
Que são idiotas da elite

Morte sobre duas pernas
Você está me despedaçando
Morte sobre duas pernas
Você nunca teve um coração próprio

Estraga prazeres, bandido
Falastrão, pessoa insignificante
Você é apenas um velho bebezão
Você já achou um novo brinquedo
para me substituir?
Você pode me encarar?
Mas agora você pode dar um beijo
de despedida no meu rabo

Sente-se bem, está satisfeito?
Você sente vontade de se suicidar?
(Eu acho que deveria)
Sua consciência está bem?
Ela te amaldiçoa à noite?
Você se sente bem?
Sente bem?

Você fala como um grande magnata dos negócios
Você é apenas um balão de ar quente
Com quem ninguém se importa
Você é apenas um moleque crescido
Deixe-me bronzear seu couro

Um cachorro doente
Você é o rei da sujeira
Põe seu dinheiro onde sua fama é de
Senhor sabe tudo
A barbatana na suas costas
Era parte do acordo? (Tubarão!)

Morte sobre duas pernas
Você está me despedaçando
Morte sobre duas pernas
Você nunca teve um coração (nunca teve)
Próprio (desde o início)

Insano, você deveria ser internado
Você é um rato de esgoto decadente
Numa cloaca de orgulho
Deveria ser despedido
E então se tornar nulo e vazio
Faça-me sentir bem
Eu me sinto bem...

Se não pode vencê-los, junte-se a eles

E o Queen não parou por aí. Em seus próximos discos continuaram a abordar algumas variações sobre o tema, conforme pode ser conferido, por exemplo, na faixa “Sleeping On The Sidewalk”, do álbum “News Of The World”, de 1977. Neste blues, composto por Brian May, é narrada a história de um músico que cansa de ser explorado e em certo momento diz a seu empresário onde ele deveria “enfiar sua gravadora chique”. Um ano depois, na época em que começaram as gravações do álbum “Jazz”, a banda decidiu que oficialmente deixaria de ter residência fixa na Inglaterra, pois estavam perdendo muito dinheiro pagando impostos sobre seus lucros. Passaram a declarar residência em países diversos, como a Suíça, país onde administravam os modernos estúdios Mountain, em Montreux, que passaram a usar para suas próprias gravações. Neste álbum, o baixista John Deacon apresenta uma faixa de letra extremamente irônica, “If You Can’t Beat Them” (“Se não pode vencê-los...”), inspirada mais uma vez na perda de dinheiro. A partir deste período, a banda conseguiu firmar um acordo mais favorável sobre a administração de seus direitos autorais, outra fonte de renda que costumava lhes causar muitas dores de cabeça, passando a serem seus próprios patrões.

Regravações

Curiosamente, tanto “Death On Two Legs” quanto “Flick Of The Wrist” foram regravadas recentemente pelo Dream Theater: a primeira foi lançada no álbum “Uncovered 2003-2005”, da série “Original Bootlegs” do selo de Mike Portnoy, e a segunda saiu junto de “Tenement Funster” e “Lily Of The Valley”, no CD de covers da versão estendida de “Black Clouds and Silver Linings”. Teriam Portnoy e cia. passado por problemas parecidos aos do Queen?

Fontes da matéria:
Wikipedia
Queen – site official
“Freddie Mercury”, de Salim Rauer (Ed. Planeta)
DVD “Classic Albums – A Night At The Opera” (ST2 Records – Eagle).

Matéria originalmente publicada no site Whiplash!

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