Burn – 45 anos do clássico do Deep Purple



Hoje, 15/02/2019, comemoramos 45 anos do lançamento de um disco que marcou muito minha vida. Acreditem ou não, minha história com o Deep Purple começou meio que às avessas: o primeiro disco deles que ouvi foi “Made In Europe” e, em seguida, “Burn” – ou seja, conheci primeiro a fase com David Coverdale e Glenn Hughes para só depois ir para a fase com Ian Gillan e Roger Glover e as demais. Um parêntese: lembrem-se que estamos falando de uma era pré-Internet, onde nossa realidade eram discos de vinil e fitas cassetes, e em uma pequena cidade do interior nem sempre se tinha acesso a alguém que dispusesse de uma discografia completa para lhe apresentar uma banda. Era um verdadeiro trabalho de garimpo, do tipo o amigo do amigo emprestar ou um tio de um colega gravar uma fita para você...

Mas voltando ao disco em si, “Burn” representou um momento crucial na história do Deep Purple. Com carreira mais do que consolidada na Inglaterra e na Europa de modo geral, o grupo só foi decolar de vez no mercado norte-americano com o lançamento de “Machine Head” (ou, mais especificamente, após “Smoke On The Water” começar a circular massivamente). Aí uma enxurrada de shows passaram a ser marcados em uma agenda que já era pra lá de apertada, tanto que o último disco com Ian Gillan no período, “Who Do We Think We Are?”, acabou saindo um pouco aquém do verdadeiro poder de fogo do quinteto, mas nada que afetasse a vendagem de discos e ingressos – eles ficavam cada vez mais populares na terra do Tio Sam (se você acha novidade o Iron Maiden ter o seu próprio avião para as turnês, saiba que o Purple e o Led Zeppelin já tinham nos anos 1970).



De saco cheio das turnês intensas e também com problemas de relacionamento interno, Gillan entrega o cargo no auge do sucesso do grupo. O baixista Roger Glover sairia logo em seguida – dizem as más línguas, o guitarrista Richie Blackmore teria forçado sua saída, pois já estava de olho em Glenn Hughes, que inicialmente ocuparia as duas vagas na banda. Mas havia ainda a possibilidade de que Paul Rodgers se juntasse ao grupo (o Free tinha acabado recentemente). Porém a iniciativa não vingou, pois ele havia acabado de formar o Bad Company, recém-contratados pelo selo Swan Song do Led Zeppelin (e empresariados pelo mesmo Peter Grant que cuidava da banda de Page, Plant e cia.).

O Deep Purple então resolve colocar um anúncio no jornal musical “Melody Maker”, de grande circulação na Inglaterra, anunciando que estavam recrutando um substituto para Ian Gillan. E a vaga acabou ficando com David Coverdale, completamente desconhecido na época, mas que ganhou o posto pelo seu timbre grave, bluesy e melodioso, para fazer uma parceria com Hughes e seus tons mais altos. Time completo, partiu estúdio... E foi em Montreux, na Suíça (aquela mesma da história de “Smoke On The Water”), também no estúdio móvel dos Rolling Stones (assim como em “Machine Head”) que o quinteto se reuniu para as gravações de “Burn”. E o resultado foi simplesmente espetacular!



Da abertura avassaladora com a faixa título até a última canção, a instrumental “A 200”, “Burn” é um daqueles casos onde você coloca o disco pra rodar e não pula nenhuma música sequer. Os destaques? Impossível não falar de “Burn”, a música, onde já fica claro que ninguém estava ali para brincadeira: um riff e solos espetaculares de Blackmore, Jon Lord igualmente solando de forma magistral nos teclados, a dupla Coverdale/Hughes desafiando nossos ouvidos e Ian Paice socando a bateria sem dó. E era só o começo...

“Might Just Take Your Life” é uma deliciosa mistura de rock, blues e soul, um momento inspiradíssimo, seguida por “Lay Down, Stay Down” onde o ritmo acelera novamente. “Sail Away” aposta mais no feeling pra fechar o lado A do vinil, e quando viramos pra continuar a audição, Ian Paice já chega galopando com outro petardo sonoro, “You Fool No One”, que ficaria ainda mais inesquecível e empolgante nas versões ao vivo, onde o grupo costumava estender em jams, solos individuais e etc.




“What’s Goin’ On Here” talvez seja a mais subestimada do disco, mas não tem como não se empolgar com os vocais de Coverdale e Hughes dando show novamente, além do belíssimo solo ao piano do saudoso Jon Lord. “Mistreated” foi uma parceria perfeita entre Coverdale e Blackmore, um blues de lavar a alma, que também se tornou obrigatória ao vivo e com direito a solos viajantes do genioso guitar hero – aliás, mesmo depois que foi para o Rainbow, Blackmore a manteve no repertório, assim como Coverdale a levou pros shows do Whitesnake...

O encerramento era com a instrumental e semi-progressiva “A 200”, mostrando uma faceta bem diferente do Purple. Nas sessões, uma outra ótima faixa instrumental também havia sido gravada, chamada “Coronarias Redig”, que acabou sendo lançada no lado B do compacto de “Might Just Take Your Life” (e posteriormente em coletâneas e incluída no álbum em edições comemorativas e remasterizadas). A produção foi da própria banda, com o fiel escudeiro Martin Birch como sempre como engenheiro de som e na mixagem – Birch, você sabe, ainda produziria muitos clássicos do rock posteriormente, junto ao Whitesnake, Rainbow, Iron Maiden, Black Sabbath...


Um verdadeiro marco na história do rock, daqueles obrigatórios em qualquer discografia que se preze. Vamos matar a saudade?  “The sky is red, I don’t understand...”



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