Monsters of Rock: o lendário primeiro festival de Castle Donington em 1980

Festivais de rock sempre foram garantia de sucesso de público. Desde o longínquo e histórico Woodstock, em 1969, passando por vários outros como o California Jam, de 1974 (que reuniu Deep Purple, Black Sabbath, Eagles, entre outros), Texas Jam em 1978 (com Aerosmith e Ted Nugent), os Estados Unidos deixavam o resto do mundo com inveja com seus line-ups estrelados, arrecadando muito dinheiro com tais concertos. Ainda na década de 1970, aqui mesmo no Brasil houve o primeiro Hollywood Rock, encabeçado por Rita Lee, Raul Seixas e Erasmo Carlos, e a Inglaterra tinha como grandes exemplos os festivais de Reading e Knebworth (o de 1979, por exemplo, teve como grande trunfo o retorno do Led Zeppelin).


Em 1980, o heavy metal explodia com a “nova onda britânica” (“New Wave Of British Heavy Metal”), revelando ao mundo bandas como Iron Maiden, Saxon, Diamond Head, e dava nova projeção a nomes já conhecidos como Motörhead, Judas Priest e até mesmo o Black Sabbath, que ressurgia das cinzas com Ronnie James Dio nos vocais. Era o momento perfeito para a realização de um festival voltado ao público de música pesada, e dessa combinação surgia o Monsters Of Rock, disposto a rivalizar com o festival de Reading como o maior da Inglaterra – enquanto este abraçava outras vertentes do rock, o Monsters visava privilegiar o Hard Rock e o Metal.

Paul Loadsby foi o promotor de eventos responsável pelo concerto. Na verdade, ele já vinha trabalhando na turnê de verão do Rainbow, de Richie Blackmore, e o show no autódromo de Donington foi concebido para ser o encerramento daquela lucrativa excursão, onde o grupo do ex-Deep Purple promovia seu álbum “Down To Earth”, já sem Dio nos vocais, contando com Graham Bonnet no posto, além de outro músico oriundo do Purple, Roger Glover, no baixo, Don Airey nos teclados (que futuramente substituiria Jon Lord, também no Purple) e o saudoso Cozy Powell na bateria.



Um dos pontos que levaram os produtores a escolher o local foi o fato do terreno levemente inclinado no trecho indicado para a montagem do palco, o que proporcionaria a todos uma boa visão do palco. Outro fator positivo era o acesso fácil por meio rodoviário e ferroviário até o autódromo. Apesar de todos os protestos por conta dos moradores locais, com medo dos “arruaceiros cabeludos”, tudo foi arranjado a tempo para a realização do show.

Para atrair o grande público, Loadsby negociou apresentações de nomes de expressão no rock pesado, e o line-up da primeira edição do Monsters Of Rock contava com os alemães do Scorpions, o Judas Priest, e o recém revelado Saxon, além de April Wine, Touch, Riot. O aquecimento e apresentação das bandas ficaria por conta do DJ Neal Kaye, famoso por revelar o Iron Maiden, ao tocar exaustivamente suas demos na casa noturna Soundhouse (de onde originou o nome do primeiro E.P. do Maiden, “The Soundhouse Tapes”).

Embora houvesse chovido consideravelmente na semana que precedeu o show, um dia antes já era possível verificar vários fãs acampando do lado de fora do autódromo, tamanha a expectativa criada em torno do evento. O público oficial foi estimado em cerca de 35.000 pessoas, que foram agraciados com um dia sem chuvas (o que teria tornado o local um verdadeiro lamaçal), e performances calorosas de todas as atrações. Segundo relatos de algumas “testemunhas oculares” colhidos na internet, havia bem mais gente, e as instalações não eram lá grandes coisas, mas nada que prejudicasse o show em si.

Como nem tudo são flores, um ponto considerado negativo foi o fato de que havia apenas um palco para todas as atrações, o que resultava em intervalos extremamente longos entre uma banda e outra, cabendo ao DJ Neal Kaye e ao telão (uma novidade na época) distrair o público neste período – quando dava para enxergar alguma coisa, por conta da claridade e do sol.

Além do telão, uma outra grande atração tecnológica prometida era um revolucionário sistema de som quadrifônico que prometia um efeito surround no local e a diminuição do atraso de som para quem ficasse mais ao fundo da plateia. Porém, no dia anterior ao espetáculo, uma desagradável surpresa: durante a passagem de som da bateria de Cozy Powell, os roadies do Rainbow foram testar os fogos de artifício que encerrariam a noite e as explosões danificaram várias caixas de som. Um prejuízo de cerca de 18 mil libras para os realizadores, que tiveram que improvisar para reformar o som a tempo para o festival. Resultado: grande parte dos pagantes reclamando que o som ficou baixo demais (pecado mortal para um show de rock!).


Voltando às performances em si, os primeiros a se apresentar foram os americanos do Touch (cujo vocalista teria engolido um inseto acidentalmente no show), seguidos pelo Riot. A terceira banda, aquela que realmente começaria a incendiar a plateia, foi o Saxon, que encontrava-se bastante em destaque por conta do sucesso do álbum “Wheels Of Steel”. Segundo depoimentos, os pontos altos do show foram exatamente a faixa título deste disco e “747 – Strangers In The Night”.

Após uma esfriada nos ânimos com uma apresentação morna dos canadenses do April Wine, Donington pegaria fogo novamente com a entrada do Scorpions no palco, já bem conhecidos do público, recebendo até então a maior ovação por parte dos presentes, desde sua entrada no palco até o final de sua performance elogiadíssima. Porém, o melhor ainda estava por vir...

Após novo intervalo, foi a vez do Judas Priest alucinar o público, com Rob Halford fazendo sua tradicional entrada triunfal montando numa Harley Davidson, com um show embalado por temas de sucesso garantido e aproveitando a esteira de sucesso do recém-lançado “British Steel”, hoje tido como o maior clássico do quinteto. Halford foi ainda o primeiro a “cantar a pedra” de que o Monsters of Rock tinha tudo para se tornar um evento anual. Em seu repertório, clássicos do porte de “The Ripper”, “Green Manalishi”, “Living After Midnight”... o áudio do show foi lançado em versão bootleg de muito sucesso entre os fãs da banda.

Foto de Ross Halfin: Glenn Tipton (Judas Priest) com Joe Elliott (Def Leppard) e Michael Schenker

Finalizando a grande noite, era a vez da atração principal entrar no palco, e o Rainbow fez bonito. O grupo liderado por Richie Blackmore fez um show alucinante, encerrando a bem sucedida turnê do álbum “Down To Earth”, que mostrava a banda pendendo para um lado mais comercial do que em sua fase Dio – o principal motivo da saída do baterista Cozy Powell teria sido justamente essa mudança sonora. Pegando carona nos hits “All Night Long” (tocada após a introdução de “Lazy”, do Deep Purple) e “Since You’ve Been Gone”, além da ótima “Eyes Of The World”, o grupo ainda encaixou no set list as clássicas “Long Live Rock and Roll”, “Kill The King” e a épica “Stargazer”, que não aparecia em seus shows havia um bom tempo. Encerrando tudo, uma grande queima de fogos de artifício no melhor estilo dos grandes festivais.

Com os ingressos custando antecipadamente 7,50 libras (no dia custava 8,50), somando-se o total de pagantes (abaixo do esperado) e descontando-se os gastos (esperados e inesperados), a primeira edição do Monsters Of Rock acabou gerando um pequeno prejuízo aos seus realizadores. Mas nada que os desanimassem, pois foi um começo bastante promissor. Tanto é que o evento seguiu sendo realizado por dezesseis anos consecutivos, sendo sua última edição a de 1996, cujos headliners foram o Kiss, então em sua turnê de reunião da formação clássica, e o velho madman Ozzy Osbourne. Foi também neste show que o Sepultura se apresentou como um trio, pois Max Cavalera teve de se dirigir aos Estados Unidos às pressas, devido à morte de seu enteado Dana.



Vale ainda lembrar que o show do Rainbow foi gravado, tendo sido lançado há poucos anos oficialmente em CD e DVD com os trechos que foram filmados. Uma preciosidade para colecionadores!

Outra raridade é a coletânea chamada “Castle Donington”, lançada na época, contendo pelo menos uma música de cada grupo que se apresentou no festival. Anos depois, o LP foi reeditado em CD no Japão. A bolacha continha as seguintes faixas:

1. Stargazer - Rainbow 8:20
2. Loving You Sunday Morning - Scorpions 5:22
3. Another Piece of Meat - Scorpions 5:06
4. Backs To The Wall - Saxon 3:48
5. All Night Along - Rainbow 7:53
6. I Like To Rock - April Wine 4:16
7. Don't Ya Know What Love Is? - Touch 3:58
8. Road Racing - Riot 7:34



Acontecimento aguardado com enorme ansiedade por headbangers do mundo inteiro, o Monsters Of Rock se tornou uma espécie de franquia, sendo reeditado em vários países ao redor do mundo: Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Rússia, chegando até mesmo à América do Sul, com festivais no Brasil, na Argentina e no Chile. Sua encarnação original porém, como citado acima, deixou de existir após 1996, época em que o interesse da indústria musical pelos sons mais pesados diminuiu drasticamente. Dentre os nomes que se apresentaram nestes dezesseis anos em Donington temos, além das bandas citadas na matéria, AC/DC, Iron Maiden, Whitesnake, ZZ Top, Van Halen, Megadeth, Guns N’ Roses, Aerosmith, David Lee Roth, Extreme, Slayer, Skid Row, Dio, e muitos outros. Vários deles lançaram inclusive registros oficiais em áudio e vídeo de suas apresentações.

Após sete anos de jejum, em 2003 Donington Park ganhou um novo festival em suas dependência, o Download Festival, contendo um número muito maior e mais eclético de bandas, sendo divididas em mais de uma noite. Na sua primeira edição, o Download teve como atração principal, em uma das noites, o Iron Maiden, velho conhecido do Monsters (na outra noite, a honra coube ao Audioslave). Um grande festival sem dúvidas, mas que jamais substituirá o velho Monsters...

Para maiores detalhes sobre esta e outras edições do Monsters Of Rock, bem como de outros festivais realizados na Inglaterra, uma grande pedida é o site – em inglês – UK Festivals, o qual foi a maior fonte desta matéria.

Matéria originalmente publicada no site Whiplash!, ora atualizada

O King Crimson vem ao Rock In Rio. Isso é bom ou ruim?



Recentemente houve a confirmação oficial de que o lendário grupo britânico de rock progressivo King Crimson virá se apresentar no Brasil pela primeira vez, tendo sido confirmado como a atração principal do Palco Sunset do Rock In Rio no dia 06/10. Não deixa de ser louvável que mais um grupo icônico finalmente venha ao nosso país, mas há motivos para se comemorar? Analisemos...

Primeiramente há o fato latente de que a sonoridade do Crimson não é nada habitual ou convencional. Muito longe do mainstream que o festival costuma priorizar (não há nada de errado com isso, ressaltemos – um festival deste porte tem mais é que ser lucrativo mesmo para permanecer viável). E sua escalação se deu em um dia onde as atrações do palco principal passam ainda mais longe do que seria seu público alvo: Muse, Imagine Dragons, Nickelback e Paralamas do Sucesso.



Vale aí lembrar uma experiência traumatizante: 15 anos atrás, Joe Satriani e Steve Vai num dos períodos mais áureos do G3 resolveram vir ao Brasil acompanhados de Robert Fripp, guitarrista, líder, mentor do King Crimson. Se o seu grupo já não é para qualquer tipo de ouvido pela sua sonoridade peculiar, com sua carreira solo não poderia ser diferente – experimentações e ruídos que facilmente poderiam ser rebaixados como “barulho” (e foi o que mais se leu nas resenhas de quem cobriu o show na época). E o que aconteceu? Vaias... Afinal, não era o seu público que estava ali – os fãs de Vai e Satriani com certeza enumerariam centenas de outros nomes com os quais estariam mais familiarizados para substituir Fripp naquela noite.

Agora imagine se apresentar num festival abarrotado de jovens que muitas vezes nem faz ideia do que está acontecendo no palco? Sim, foi o que testemunhei por exemplo quando fui ver Queen + Adam Lambert. Queen! Aquela banda cuja “Love Of My Life” ou “We Will Rock You” qualquer pessoa desantenada musicalmente pelo menos tem a vaga lembrança de já ter ouvido algum dia... era gente andando pra lá e pra cá, em clima de balada, flertando e procurando alguém pra beijar na boca, e você tentando se concentrar pra ver seus ídolos no palco... Substitua nesta situação a sonoridade amigável por algo excêntrico e incomum... Parece ser a receita para um desastre...



Talvez seria muito mais racional agendar uma noite com grandes nomes do progressivo, afinal Yes, Marillion e tantos outros estão aí na estrada... ou até mesmo com nomes mais recentes como Tool, Opeth, até o Dream Theater... mas aí caímos no problema de não serem nomes rentáveis para o festival...

Resta saber se além desta noite, o grupo irá fazer algum outro show “solo” em local menor, para aí sim atrair sua audiência e ser ouvido e reverenciado... ou, no máximo, torcer para que a plateia do dia 06/10 no Rio seja no mínimo educada e guarde suas vaias, respeitando os 50 anos de história desta lenda viva... oremos!


10 grandes registros ao vivo da história do rock





O ano era 1972. O Deep Purple estava no auge de sua carreira, graças principalmente à mudança de estilo que coincidiu com a mudança em sua formação três anos antes, com a entrada de Ian Gillan nos vocais e Roger Glover no baixo. A musicalidade da banda fluiu como nunca, incorporando peso e técnica na medida certa. Em pouco tempo, a banda havia lançado uma obra prima após outra: “In Rock” (1970), “Fireball” (1971) e, principalmente, “Machine Head” (1972). E durante a tour deste último, no Japão, foram registrados, pelo engenheiro de som Martin Birch, quatro shows que serviriam de base para um álbum ao vivo. Da primeira apresentação quase nada se aproveitou, dada a timidez dos músicos com o fato de estarem sendo gravados. Tal timidez desapareceu na segunda noite, e a perfomance elétrica de sempre tomou conta do palco. Nascia “Made In Japan”, que inicialmente seria lançado apenas em terras nipônicas, mas dada a qualidade inegável das gravações, acabou sendo lançado também no resto do mundo para a felicidade geral da nação rockeira. Versões arrasadoras de “Child In Time”, “Highway Star”, “Lazy” e, principalmente, “Smoke On The Water” ajudam a compor este, que na opinião de muitos especialistas, é o álbum ao vivo definitivo na história do rock and roll. A versão mais recente em CD traz a adição de “Speed King”, “Black Night” e a cover de “Lucille”, de Little Richards, servindo para incrementar ainda mais o que já era perfeito.


Três anos depois, era a vez dos americanos mascarados do Kiss tomarem de assalto o cenário. Com três bons lançamentos de estúdio, mas que pouco chamaram a atenção, os quatro resolvem arriscar junto à sua gravadora, e partem para um tudo ou nada: levam os equipamentos de gravação para Detroit, na arena Cobo Hall, e registram seus concertos, tidos como incendiários, para compor o que viria a ser o duplo ao vivo e legendário “Alive!”, sob a tutela de ninguém menos do que Eddie Kramer, lendário produtor de Jimi Hendrix. Ok, hoje em dia todos sabemos da quantidade de “correções” feitas em estúdio pela banda (os famosos “overdubs”), mas ainda assim é inegável a qualidade e a energia das gravações. Destaque para as empolgantes “Nothin’ To Lose”, “Cold Gin”, a grande “Black Diamond” e a versão de “Rock and Roll All Nite”, que cumpriu a função de a transformar em hino. No lançamento da versão em CD, em que não há nenhum “extra”, há de se destacar que o conteúdo caberia em um único disco, mas para não perder o “charme” (leia-se lucro) de ser um duplo ao vivo, optou-se pela versão com dois discos.


Chegamos à década de 1980. O heavy metal vinha ganhando cada vez mais destaque, graças principalmente a grandes nomes como Ozzy Osbourne (em sua fase solo), Scorpions, Judas Priest e Iron Maiden. Após os lançamentos do genial “The Number Of The Beast”, que marcou a entrada de Bruce Dickinson nos vocais, e do ótimo “Piece Of Mind”, o Maiden lança o fantástico “Powerslave”, que marcou o auge da banda, e sua maior turnê até hoje, a “World Slavery Tour”, que rendeu até uma passagem pelo Brasil, no primeiro “Rock In Rio”. Era o momento certo para lançar um duplo ao vivo, e “Live After Death”, de 1985, foi registrado em disco e vídeo, numa sequência de várias noites de ingressos esgotados na Long Beach Arena, na Califórnia. A produção, excelente por sinal, ficou a cargo do já citado Martin Birch, que já trabalhava com a banda desde “Killers”, e o resultado foi o melhor álbum ao vivo da história do heavy metal. A versão em CD, a princípio, vinha com 5 faixas a menos que o vinil: “Wrathchild”, “22 Acacia Avenue”, “Children Of The Damned”, “Die With Your Boots On” e a insuperável “Phantom Of The Opera”, gravadas no Hammersmith Odeon, em Londres, ficaram de fora. Algum tempo depois foi lançada uma versão com 3 faixas a mais (“Losfer Words”, “Murders In The Rue Morgue” e “Sanctuary”, originalmente lançadas como lado B de singles), e, posteriormente, a versão idêntica ao vinil.


Se “Live After Death” foi o melhor da história do metal, em todo o rock, de modo geral, qual seria o melhor de todos os tempos? Conforme dito anteriormente, para muitos, o título fica com “Made In Japan”, do Purple. Mas há pelo menos dois grandes rivais para o posto: “Live at Leeds” (1970), do The Who, e “The Song Remains The Same” (1976), do Led Zeppelin. O primeiro traz o lendário quarteto britânico na turnê do não menos lendário álbum “Tommy”, de 1969, e registrou em apenas um show tudo aquilo que o The Who era capaz, em uma performance, no mínimo, alucinante. Anos mais tarde, já na era do CD, ganhou uma edição estendida, com direito à execução de “Tommy” na íntegra. Outros grandes destaques são as clássicas “A Quick One While He’s Away” (numa versão perfeita), “My Generation”, e a singela “Tattoo”. Conforme dito por Pete Townshend no encarte: “não sei explicar, apenas aconteceu de ser uma performance muito boa”... e põe muito boa nisso! Sem falar que o “lunático” Keith Moon toca tudo redondinho, e John Entwistle quase chega a roubar a cena, com seu baixo absurdamente bem tocado...


No caso do Zeppelin, “The Song Remains The Same” se tratava, na verdade, da trilha sonora do filme lançado pela banda, com o mesmo nome. E o que temos no vinil são algumas das grandes canções de sua história, ora em versões excelentes (como “Rock and Roll”, o hino “Stairway to Heaven” e “Dazed and Confused”), ora em versões que poderiam ser melhores (como a faixa título, ou mesmo “The Rain Song”). Muitos reclamaram que o álbum não chegou a retratar fielmente o poder de fogo que o Led tinha ao vivo, e, de fato, com o lançamento mais recente do excepcional “How The West Was Won”, isso fica comprovado. Mas foi um marco, virou clássico absoluto (afinal, mesmo com algumas ressalvas, é um excelente trabalho) e recentemente, na versão comemorativa e estendida, ganhou faixas a mais que o enriqueceram e aperfeiçoaram: temas como “Black Dog”, “Since I’ve Been Lovin’ You” e “The Ocean”, mostram-se mais uma vez clássicos incontestáveis, que jamais poderiam ter ficado de fora do original (que fosse lançado um vinil triplo, ora...).


Nenhum dos trabalhos destas grandes bandas citadas até agora, entretanto, atingiu o feito conseguido por um artista solo, oriundo de uma banda de hard rock da virada dos anos 1960/1970. Oriundo do Humble Pie, o guitarrista e vocalista Peter Frampton lançou em 1976 aquele que viria a ser o álbum ao vivo mais vendido da história do rock: “Frampton Comes Alive”. A grande curiosidade é que ele, a exemplo do Kiss, vinha de uma carreira mediana em termos comerciais, com bons álbuns de estúdio, mas sem maiores repercussões. Bastou lançar este álbum, com a estratégia de marketing adequada – que incluía até mesmo vendas pelo correio nos EUA, algo inédito até então – e Frampton foi catapultado à estratosfera das maiores estrelas do rock do momento. Sobre o disco em si, trata-se de um grande registro, que traz a clássica “Show Me The Way” (com o famoso “talk box” usado por ele) e a balada “Baby, I Love Your Way” – que tocou à exaustão, diga-se de passagem – em versões definitivas, além de uma bela versão de “Jumpin’ Jack Flash”, dos Rolling Stones.


Também a exemplo do Kiss, podemos citar outro grande álbum que foi alvo de críticas e controvérsias, principalmente com relação ao excesso de “overdubs”: “Live And Dangerous” (1977), dos irlandeses do Thin Lizzy. Comandados pelo baixista, vocalista e poeta Phil Lynnott, o Lizzy vinha de uma sucessão regular de bons discos, culminando com os excelentes “Johnny The Fox” e “Jailbreak”. E é da turnê deste último que foram extraídas as gravações deste grande trabalho, produzido por Tony Visconti, parceiro de longa data de David Bowie. “The Boys Are Back In Town” virou clássico nos EUA, como tema dos combatentes da guerra do Vietnã, que à época retornavam para casa. Isso sem falar em “Jailbreak”, “Emerald”, “Rosalie” (excelente cover de Bob Seger), “Massacre” (mais tarde regravada pelo Iron Maiden)... A tour da banda pela América ia a pleno vapor, até que Lynnott adoeceu e a excursão teve que ser abortada. E o Lizzy, infelizmente, nunca mais teve o mesmo sucesso e reconhecimento de público e crítica...


Não menos controverso, “Live Killers” (1979), do Queen, foi registrado ao longo da tour européia do álbum “Jazz”, mais notadamente na França. As críticas por parte da mídia especializada desta vez se direcionavam à performance morna da banda em muitas canções, fato contestado pelos fiéis seguidores da banda (dentre os quais, este que vos escreve). Outro ponto foram algumas discussões internas e o perfeccionismo da banda, que acabaram por gerar alguns “overdubs” (sempre eles), probleminhas de mixagem em uma ou outra faixa, e a exclusão de alguns temas até então obrigatórios em todos os shows da banda, como a grande “Somebody To Love”, que só foi ter sua primeira versão ao vivo oficial em disco quando do lançamento do CD “Queen On Fire”, gravado em Milton Keynes em 1982. O álbum foi, contudo, responsável pela versão que todos conhecemos de “Love Of My Life”, que se tornou clássico instantâneo nos shows, especialmente no Brasil. E tem ainda “Bohemian Rhapsody”, “Don’t Stop Me Now”, “Brighton Rock” (incluído aí o solo do grande Brian May), a dobradinha “We Will Rock You”/“We Are The Champions”... Apenas anos mais tarde, após o falecimento de Freddie Mercury, com o lançamento póstumo de “Live At Wembley ‘86”, a banda conseguiu unanimidade entre fãs e crítica...


E os grandes nomes do rock progressivo, que dominaram o cenário dos anos 1970, com seus shows épicos e apoteóticos? Eles não poderiam ficar de fora da lista, correto? Pois bem, os britânicos do Yes, talvez a banda que mais sintetize tudo aquilo que os fãs de progressivo gostam, está presente na lista, com um vinil triplo (sim, eles ousaram!): “Yessongs”, lançado em 1973, e gravado na tour do grandioso “Close To The Edge”. O disco traz Rick Wakeman em sua melhor forma, mostrando porque é considerado o grande mago dos teclados. O resto da banda, obviamente, não deixa por menos e arrebenta tudo. Os destaques são muitos (afinal, temos um disco triplo em mãos): “Heart Of The Sunrise”, “Siberian Kathru”, “And You And I”, “Roundabout”, “I’ve Seen All Good People”, “Starship Trooper” e, claro, “Close To The Edge”. Além dos magníficos solos de Wakeman e Steve Howe. “Yessongs” foi também filmado, obviamente com bem menos canções, e recentemente seu DVD podia ser encontrado até em bancas de jornais.


Outro grande nome do progressivo, embora muitos relutem em rotular a banda, é o Rush. Mesmo já tendo se aventurado pelo terreno na década de 1970, com “All The World’s A Stage”, foi apenas na década seguinte que conseguiram lançar um registro ao vivo antológico: “Exit Stage Left”, cujo título é uma referência ao bordão de um famoso personagem de desenho animado da Hannah Barbera, o Leão da Montanha (no Brasil era “saída pela esquerda...”). Também foi alvo de lançamento em vídeo, com as filmagens feitas em Toronto, no Canadá, de onde vem o trio. Grande parte do sucesso se deve, claro, à qualidade indiscutível dos músicos, em especial do deus das baquetas, Neil Peart, que arrebenta tudo no solo de bateria em “YYZ”. Outros grandes momentos estão em “La Villa Strangiatto”, “Tom Sawyer”, “Freewill”, “The Trees” (com uma bela introdução ao violão – “Broon’s Bane”, de Alex Lifeson) e na grande “Xanadu”. Pena que a produção e mixagem de Terry Brown deixem um pouco a desejar, como pode ser notado especialmente na abertura da clássica “Spirit Of Radio”.

Finalizando, vale ressaltar mais uma vez para o leitor que a presente lista não visa listar os melhores da história. Muitos podem reclamar: “Cadê o “Live Bootleg”, do Aerosmith?”, ou “mas e o “Get Yer Ya-Ya’s Out” dos Stones?”, ou ainda “mas como o “Tokyo Tapes”, do Scorpions ficou de fora?”. Não houve ainda a intenção de fazer uma lista pessoal de favoritos (e aí entrariam “Live In The Heart Of The City”, do Whitesnake, “Tribute”, do Ozzy Osbourne, “Seconds Out”, do Genesis...). O intuito aqui foi apenas relembrar os grandes álbuns ao vivo que marcaram época. Obviamente alguns deles são unanimidade, outros não. Fica então a pergunta: quais os seus álbuns ao vivo favoritos na história do rock?

Matéria originalmente publicada no Whiplash!

Fleetwood Mac: Rumours, traições, divórcios, montanhas de drogas... e uma obra-prima!



O ano era 1976 e o Fleetwood Mac enfim havia caído nas graças do grande público. Embora tenha tido certo sucesso em seus primórdios quando calcava seu som mais no blues e no rock mais psicodélico, quando ainda contavam com Peter Green nas guitarras e vocais, a explosão só viria mesmo após a entrada do casal Lindsay Buckingham e Stevie Nicks - o primeiro veio para substituir Green, mas condicionou sua entrada à incorporação de sua namorada ao grupo. Os demais membros, para quem não sabe, eram Mick Fleetwood na bateria, e o casal John e Christine McVie no baixo e teclados, respectivamente (e da junção destes sobrenomes vem o nome da banda).

Após uma boa vendagem e boa recepção também pela crítica do álbum que levava apenas o nome da banda, o quinteto mergulhou de cabeça em todos os excessos que a fama traz, e o resultado parecia levar a uma catástrofe: Buckingham e Nicks estavam se separando, assim como o casal McVie, e Mick descobriu que sua esposa o estava traindo. Como se não bastasse, muitas drogas, em especial a cocaína, eram consumidas em toneladas pelos músicos. Cenário nada amigável para a gravação de um novo álbum, que vinha cheio de expectativas pelos fãs e cobranças pela gravadora. E qual foi o resultado? Uma obra-prima, e um dos discos mais vendidos da história!


Gravado em 1976, com um orçamento bem generoso e com vários estúdios à disposição, "Rumours" se iniciou como uma espécie de "expurgo" dos demônios pessoais de cada músico em suas composições pessoais e afiadas - outros podem qualificar de "lavação de roupa suja em público". Enquanto Buckingham cantava para Nicks que era pra ela uma "notícia ultrapassada" ("Second Hand News") e a mandava "seguir seu próprio caminho" ("Go Your Own Way"), esta o respondia singelamente em "Dreams" que "trovões só acontecem quando chovem, e jogadores só o amam quando você está jogando". Aliás, esta música, um dos maiores sucessos do grupo, supostamente foi escrita por ela em pouco mais de 5 minutos, enquanto esperava em uma sala separada do estúdio em uma gravação onde não foi requisitada. Já Christine McVie alfinetava John ao cantar para seu amante (um roadie do grupo) "You Make Loving Fun" e homenageava sarcasticamente o baterista Mick em "Oh Daddy" - a fama era de que o Fleetwood seria o "paizão" do grupo, por sempre querer ter a palavra final em tudo...

Era um ambiente tão hostil que as gravações chegaram a ser interrompidas e agendados alguns shows para que o grupo se "revitalizasse" e conseguisse trazer novos ares para os estúdios e finalizarem as gravações. E em meio a esta tormenta toda, ainda conseguiram compor em conjunto outro grande sucesso: "The Chain", uma de suas músicas mais conhecidas e pedidas até hoje, que nasceu de uma canção não aproveitada de Christine McVie para o álbum anterior.

Dentre algumas curiosidades que permeiam as gravações, na faixa de abertura "Second Hand News" os músicos usaram algumas cadeiras como percussão, Lindsay Buckingham tinha as cordas de seu violão trocadas a cada 20 minutos durante os takes de "Never Going Back Again" (para aproveitar o auge do brilho das cordas, segundo o próprio), a levada incomum de bateria em "Go Your Own Way" se deu por conta da dislexia de Mick Fleetwood e o fato de terem até cogitado citar o nome de seu fornecedor de drogas nos créditos do álbum (!!!).



Por fim, não há como não destacar a qualidade da produção de Ken Caillat e Richard Dashut, que conseguiram deixar as grandes composições com um som cristalino e envolvente, capturando "em todas as faixas a emoção e os sentimentos de cada um sem intermediários", de acordo com Dashut. Talvez o melhor álbum sobre o fim de um relacionamento (ou, no caso, vários) já feito. E a prova de que em meio ao caos e a lama, sempre podem surgir pérolas, quando sua energia criativa é bem direcionada e canalizada...

Para quem não conhece, não perca mais tempo... e para quem é fã, que tal mais uma audição?

Triumph: o Segundo Maior Power-Trio do Rock Canadense

Responda rápido: quando alguém lhe pede para citar uma “banda de rock canadense”, qual o primeiro nome que lhe vem à mente? E se a pergunta for mais restrita, perguntando sobre um trio canadense? A resposta quase que unânime para ambas deve ser “Rush”, por ser o nome mais popular do rock canadense mundo afora (talvez alguns metalheads até citem o Anvil...). Mas, será que alguém se lembraria do Triumph?


Talvez a maior maldição na carreira do Triumph seja justamente isso: ser eternamente comparado ao Rush. Sim, as semelhanças existem sem dúvida – ambas são um Power Trio do Canadá, mais especificamente de Toronto, cuja sonoridade apresenta elementos de rock progressivo; ambas possuem um baixista que toca teclados e um vocalista que canta em tons altíssimos... Talvez por isso, tanto os fãs mais radicais de Geddy Lee e companhia quanto os seus detratores desdenhem o Triumph, como se este fosse apenas um mero clone dos filhos mais famosos do rock canadense. Baita injustiça, pois além dos estilos serem bem diferentes, tal atitude menospreza o talento da banda aqui focada...

O Triumph foi formado em 1975, quando o baterista Gil Moore e o baixista Mike Levine assistiram a uma performance de uma banda local chamada ACT III, da qual fazia parte o guitarrista Rick Emmett. Impressionados com o que viram, passam a assediar o virtuoso músico. Após uma Jam e acertados alguns detalhes financeiros e musicais (Moore e Emmett dividiriam os vocais principais, Levine assumiria os teclados), os três não demoraram em se unir, conseguindo seu primeiro show remunerado ainda em setembro daquele ano. No ano seguinte, são contratados pelo selo canadense Attic e lançam seu primeiro álbum, que levava apenas o nome da banda (relançado posteriormente com o nome de “In The Beggining”). A estreia pra lá de promissora trazia ótimas composições, com destaque para o hard rock de “Street Fighter” e a progressiva “Blinding Light Show”, que continha em seu miolo um belo solo de violão erudito, denominado “Moonchild”. Curiosidade: o nome de Rick foi grafado erroneamente como Rik, e desde então este passou a adotar esta alcunha, sem a letra “C”.




Em 1977 conseguem contrato com uma gravadora maior, a RCA, que passaria a distribuir seus álbuns no exterior. Seu segundo álbum, “Rock and Roll Machine”, foi lançado em duas versões: uma no Canadá, pela gravadora Attic (que continuava os representando por lá), contendo somente com gravações inéditas, e outra nos EUA e exterior, onde foi feita uma mescla destas novas composições com faixas do primeiro trabalho, além de uma capa diferente – em ambas as versões, os grandes destaques ficam para “Bringing It On Home” e para a faixa título, além de uma ótima cover de “Rocky Mountain Way”, de Joe Walsh. Grande sucesso na América do Norte (principalmente no Texas), conseguindo até disco de platina, o disco elevou o status do trio, que passou a fazer turnês constantes, chegando inclusive a ser atração principal de alguns festivais, como o Canada Jam, em 1978.

O terceiro disco, chamado “Just A Game” (1979), já demonstrava certas mudanças e mais sofisticações nas composições, sem abandonar totalmente as influências progressivas, mas pendendo para o estilo AOR que se popularizava cada vez mais, trazendo o Triumph para as rádios rock. As faixas “Hold On” e “Lay It On The Line” ficando entre as Top 40 nos EUA e chegaram inclusive ao primeiro lugar em várias estações de rádio do país, garantindo mais um disco de ouro ao trio. Mas o melhor ainda estava por vir na década seguinte.

O ano de 1981 trouxe mais uma coincidência com o Rush para a história do Triumph. Ao mesmo tempo em que Lee, Lifeson e Peart lançavam aquele que para muitos é até hoje o seu melhor trabalho (“Moving Pictures”), Emmett, Levine e Moore naquele ano traziam à luz o aclamado “Allied Forces”, onde o trio condensava todas as suas melhores influências e ideias originais para produzir um álbum excepcional. A singela “Magic Power”, a ótima “Fight The Good Fight” e a épica “Ordinary Man” são os grandes destaques, sem falar na enérgica faixa título. Resultado: mais de um milhão de discos vendidos apenas nos EUA (chegando ao número 23 da Billboard), além de uma grande turnê como headliners, de onde o show de Cleveland foi transmitido ao vivo pelo legendário programa de rádio “King Biscuit Flower Hour” (e posteriormente lançado em CD).



Em 1983 o Triumph lançou “Never Surrender”, trazendo algumas letras de cunho crítico à política da época. Foi o período onde começavam os atritos internos do trio bem como destes com a gravadora RCA, principalmente pela divulgação fraca de seus discos. Tal discórdia os levou a romper seu contrato e assinar com a quase xará MCA, que assumiu os valores da quebra contratual, além de relançar todo o catálogo da banda. A turnê daquele ano contou com uma apresentação no famoso “US Festival”, na mesma noite em que se apresentaram Quiet Riot, Mötley Crüe, Ozzy Osbourne, Judas Priest, Scorpions e Van Halen – o trio aproveitou as filmagens e lançou o show em VHS e, posteriormente, em DVD.

1984 viu o lançamento de “Thunder Seven” diretamente em CD, uma manobra arriscada para a época, já que o formato (então muito caro) ainda não era acessível à grande maioria do público. Emmett continuou a se aprofundar em letras mais sérias, e os singles “Spellbound” e “Follow Your Heart” conseguiram algum êxito, mas as vendagens ficaram bem aquém do esperado, o que levou a gravadora a rapidamente lançar o álbum também em LP e cassete.

Tentando se reerguer, gravadora e grupo resolvem adotar a estratégia de lançar um disco ao vivo, e em 1985 é colocado no mercado o excelente “Stages”, contendo gravações retiradas das últimas três turnês do Triumph, além de duas faixas inéditas de estúdio (“Mind Games” e “Empty Inside”) – a versão em LP ainda continha “Allied Forces” e um solo de bateria de Gil Moore, que ficaram de fora da versão em CD. Para quem não conhece o trabalho do trio, é uma excelente carta de apresentação, pinçando momentos diversos de sua carreira. E para os fãs, um item obrigatório.

Em uma tentativa desesperada diante da pressão de trazer retorno lucrativo à gravadora que tanto os apoiava, o Triumph lança “The Sports Of Kings” em 1986, com uma sonoridade mais comercial e acessível, abraçando o AOR de vez com muita ênfase nos teclados e sintetizadores. “Somebody’s Out There”, escrita de última hora para entrar no álbum, foi escolhida como single e obteve um bom êxito nas rádios e na MTV. Já “Tears In The Rain”, escolhida para segunda faixa de trabalho, não obteve o mesmo sucesso. Para a turnê, o Triumph adiciona Rick Santers como músico de apoio nas guitarras e teclados e, ainda em 1986, excursionam junto a Yngwie Malmsteen nos EUA.


Insatisfeitos com os rumos tomados em sua sonoridade, o Triumph tenta uma volta às origens em “Surveillance”, época em que a banda estava se rachando internamente, com a cozinha Gil Moore e Mike Levine querendo apostar numa levada hard blues setentista, enquanto que Rik Emmett buscava ampliar seus horizontes musicais calcado fortemente no rock progressivo. “Headed For Nowhere” e “All the King’s Horses” traziam a participação especial do guitarrista Steve Morse (à época, tocando com o Kansas), e talvez sejam os maiores destaques de um disco irregular, marcado pelas turbulências internas que culminaram com a saída de Emmett em 1988, para se dedicar a uma carreira solo “não tão popular, mas mais honesta”, segundo suas palavras. Como ainda deviam um álbum contratualmente para a gravadora MCA, foi lançada a coletânea “Classics” em 1989.

Abalados pela saída de seu frontman, Moore e Levine dão um tempo nas atividades da banda e apenas em 1992 decidem voltar, recrutando Phil X (hoje mais conhecido como “estepe” de Richie Sambora no Bon Jovi) para a vaga de Emmett nas guitarras – Gil Moore assumiria os vocais em definitivo. “Edge Of Excess”, de 1993, foi o último álbum de estúdio lançado pelo Triumph, que encerrou suas atividades no mesmo ano, logo após sua nova gravadora (Victory) fechar as portas. Um triste e amargo fim para um grupo extremamente subestimado e que ainda poderia render muitos bons frutos.

Gil Moore passou então a se dedicar exclusivamente ao seu estúdio de gravação, chamado Metalworks, onde já gravaram artistas como Guns N’ Roses, Aerosmith, Katy Perry, Black Eyed Peas, Jonas Brothers e outros. Ele fundou também o Metalworks Institute, que dá cursos de Produção de Áudio, Produção de Som para Palco, Administração de Negócios em Entretenimento e Tecnologia e Performance Musicais. Não se sabe muito sobre Mike Levine no período, e Emmett continuou trabalhando em sua carreira solo e, posteriormente, no duo Strung-Out Troubadours, junto a Dave Dunlop.


Em 2007, os membros originais do Triumph se reuniram para a indução ao Hall da Fama da Indústria Musical Canadense, e em 2008, novamente para a indução ao Hall da Fama da Música Canadense. Foram as primeiras vezes em que Rik Emmett se encontrava com seus ex-parceiros, que finalmente voltaram aos palcos na Suécia, retorno este registrado no DVD chamado “Live at Sweden Rock Festival”, gravado no festival de mesmo nome em 2008, pela Frontiers Records. Ficou a promessa de novos shows a serem realizados esporadicamente, mas nada de inédito foi lançado pela banda, restando a expectativa dos fãs de um retorno “pra valer”.

Por fim, recentemente o baterista Gil Moore revelou que o trio está trabalhando junto à Banger Films na realização de um documentário sobre a história da banda. Lembrando que a produtora é aquela mesma responsável por alguns trabalhos elogiadíssimos como "Metal: A Headbanger's Jouney", "Iron Maiden: Flight 666" e... olha eles aí de novo, "Rush: Beyond The Lighted Stage".

Para quem não conhece, vale a pena correr atrás e descobrir uma daquelas bandas que tinha tudo para ser grande, mas acabam ficando pelo caminho...

Matéria originalmente publicada no Whiplash! em 2014, ora atualizada 

Rock In Rio 2019 - O que esperar? (parte 1)

Logo rio

Para quem gosta de rock, neste ano o Rock In Rio está desde já deixando pouca brecha para os que costumam dizer que o festival tem privilegiado outros estilos em detrimento do que lhe dá o nome. Logo de cara foi anunciada uma "noite do Metal"no dia 04/10, com Iron Maiden, Scorpions, Megadeth, Sepultura, Slayer e Anthrax! Além destes, outros confirmados oficialmente também, só que para 06/10, são o Muse (que já foi mais rock, vá lá...) e o Nickelback, que dividirão o palco com os veteranos brasileiros Paralamas do Sucesso e  o pop do Imagine Dragons. No mesmo dia 06, no palco Sunset, a atração principal será  o King Crimson e seu progressivo de dar nó no cérebro... Ainda não confirmados pelo site, mas já dados como certo pelo Jornal Destak (que sempre apresenta de antemão informações privilegiadas de shows vindouros) temos ainda o Helloween, com sua turnê "Pumpkins United".

Diante disto, vamos ao que esperar dos shows no festival, começando pela noite do Metal que, aparentemente, já está com o line-up fechado (tão logo forem divulgadas maiores confirmações, voltaremos ao tópico):

ROCK IN RIO - Noite do Metal (04/10):

IRON MAIDEN

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Como todo bom fã sabe, o Maiden tem continuado a alternar turnês derivadas de um novo álbum (como na última passagem por aqui, com "The Book Of Souls") com outras onde privilegiam apenas os clássicos. A bola da vez é a "Legacy Of The Beast Tour", que visa promover o game lançado pelo sexteto britânico. O que esperar? Além da maior produção de palco já utilizada pelo grupo, uma enxurrada de músicas a serem cantadas a plenos pulmões pelos seus fiéis seguidores: de "Aces High" e "Where Eagles Dare", passando por algumas da fase Blaze Bayley, e, claro, as obrigatórias "The Trooper", "The Number Of The Beast" e "Iron Maiden". Pelo menos é o que foi apresentado durante o ano passado (algumas alterações podem ocorrer para este ano).

SCORPIONS (com convidados)

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Embora seja quase tão freguês do solo brasileiro quanto o Maiden, esta é a primeira vez que o Scorpions retorna ao festival (também foi uma das estrelas da primeira edição, em 1985). E outro grupo que como tantos outros grandes nomes já anunciou várias turnês de despedida... Quem serão os tais convidados especiais anunciados pelo Rock In Rio? Ainda não se sabe ao certo (provavelmente Andreas Kisser, do Sepultura, deve tocar algo, já que os acompanhou na turnê eletro-acústica que passou por aqui anos atrás, e rendeu o DVD "Amazônia") O que esperar do show? Com certeza muitos clássicos, algo que a banda tem de sobra: "Rock You Like a Hurricane", "Big City Nights", "The Zoo"...  e a homenagem a Lemmy com "Overkill", do Motorhead, que tem sido uma constante desde que Mickey Dee assumiu as baquetas. Duas dúvidas: numa noite tão pesada, será que rolam mais baladas além das obrigatórias "Still Loving You" e "Wind Of Change"? E será que irão trazer a guitarra com o logotipo do festival, que ganharam de presente na outra edição? Aguardemos...

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MEGADETH



Contando com o brasileiro Kiko Loureiro dividindo as guitarras com o líder, principal compositor e vocalista Dave Mustaine, o Megadeth volta ao Rock In Rio após um hiato quase tão longo no festival quanto o Scorpions (participou da segunda edição, em 1991). O quarteto deve trazer para o público suas composições mais conhecidas, como "Holy Wars", "Symphony of Destruction" e "Peace Sells", algo do último trabalho ("Dystopia") e, possivelmente, músicas do novo trabalho que o grupo está gravando (a expectativa é de que saia ainda no primeiro semestre). E a certeza: um show pra bater muita cabeça!

SEPULTURA


O maior nome do metal brasileiro é presença constante no festival (desde 1991, quando tocou na mesma noite que o Megadeth), já tendo tocado inclusive em edições do Rock In Rio fora do Brasil. Como o set não deve ser tão longo quanto das atrações principais, possivelmente trarão seus maiores clássicos da fase Max Cavalera ("Roots Bloody Roots", "Territory"e etc.) aliados a algumas principais da fase Derrick Green - o grupo aliás está em turnê de divulgação de seu mais recente e elogiado álbum, "Machine Messiah". Vai ser muita pancada e pouco tempo pra respirar...

PALCO SUNSET:

SLAYER

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Em sua turnê de despedida (será mesmo?), e desfalcados do saudoso Jeff Hanneman, o quarteto norte-americano vem estrear no festival encerrando a noite no palco Sunset, onde normalmente ocorrem apresentações com convidados especiais (como acontecerá com o Torture Squad e o Claustrophobia, que trarão Chuck Billy do Testament). O show não deve fugir da regra do grupo: uma paulada atrás da outra, cobrindo toda a sua carreira ("Raining Blood", "Seasons In The Abyss", "Dittohead"...). E com aquele clima de adeus (mais uma vez... será mesmo?).

ANTHRAX


Embora não lance nada de novo desde 2016, os shows não param e o Anthrax deve também fazer um grande apanhado de toda a sua carreira, privilegiando a fase clássica, já que Joey Belladonna está mais uma vez à frente do microfone (e tome "Caught In A Mosh", "Indians", "Got The Time"...). Aliás, repararam que 3/4 do Big Four (só faltou o Metallica) está se apresentando na mesma noite? É pra sair da Cidade do Rock completamente surdo por uma semana...

Abaixo, uma playlist para já ir esquentando os ouvidos e exercitando o pescoço...


Pilares: O início do Heavy Metal




1969. Um ano de vários fatos marcantes, como a chegada do homem à lua. No mundo da música, mais especificamente no rock, os Beatles terminariam definitivamente sua existência, com o lançamento de sua última obra-prima, “Abbey Road” (posteriormente ainda sairia “Let It Be”, mas já com a banda dissolvida); o The Who nos entregava sua magistral ópera-rock “Tommy”; os Rolling Stones, que ainda enfrentavam a ressaca após a misteriosa morte de Brian Jones, realizaram o fatídico show gratuito no autódromo de Altamont e lançavam “Let It Bleed”. Tivemos o acontecimento do antológico festival de Woodstock, marcando o auge e também o início da decadência do movimento flower-power da contracultura hippie. No Vietnã, batalhas cada vez mais sangrentas, ao mesmo tempo em que a guerra fria vivia seus dias mais austeros. Em meio a dias tão turbulentos, despontam no cenário musical algumas bandas com uma sonoridade mais agressiva, que são tidas até hoje como os pilares do heavy metal. Dentre elas destaque para Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, autoras de discos que se tornariam as “bíblias” da mais pesada vertente do rock and roll.

O INICIO

O termo heavy metal ganhou força definitiva na década de 1980, com o surgimento da “New Wave Of British Heavy Metal”, mas a história do gênero é bem mais antiga. Com relação à mídia, embora o termo “música pesada” (“heavy music”, em inglês) já houvesse sido usado antes (para se classificar o som do Iron Butterfly, por exemplo), a primeira vez que se tem conhecimento que a expressão heavy metal foi realmente usada foi em um review de Mike Saunders sobre o álbum “As Safe As Yesterday Is”, do Humble Pie, publicado na revista Rolling Stone em sua edição de novembro de 1970. Musicalmente, o metal começou ainda um pouco antes, com algumas opiniões controversas a respeito disso.


O marco inicial do metal para muitos se deu em 1968, quando os Beatles gravaram “Helter Skelter” em seu famoso e controverso Álbum Branco. Os motivos que dão base a esta tese são muitos: as guitarras saturadas e estridentes, o vocal “berrado”, a própria levada da música... Como se não bastasse, a canção composta por sir Paul McCartney (cujo título pode ser traduzido como confusão, algo fora de controle) foi citada pelo famoso Charles Manson como sua fonte de inspiração (?) para cometer o assassinato de Sharon Tate, esposa grávida do cineasta Roman Polanski, diretor de “O Bebê de Rosemary” – dentre outros disparates que o levaram gradativamente a chegar ao crime, ele acreditava que o quarteto de Liverpool eram os quatro cavaleiros do apocalipse (!!!), e que a letra de “Helter Skelter” representava a batalha do juízo final (!!!!!). Na verdade, a música se refere a um tobogã popular nos parques da Inglaterra, onde se escorregava de forma meio descontrolada, e foi uma espécie de resposta ao The Who, cujo guitarrista Pete Townshend havia dito em uma entrevista que sua canção “I Can See For Miles” era a mais barulhenta já gravada. Mas isso já é assunto para uma outra longa história...


Outros clamam que a semente do metal tem outra origem. Ainda naquele ano, pela primeira vez se usou o termo heavy metal em uma música, na letra da lendária “Born To Be Wild”. Inicialmente, a canção escrita por Mars Bonfire (nome real do guitarrista Dennis Edmonton), quando ainda integrava o The Sparrows, chegou a ser oferecida a outros artistas, como o grupo The Human Expression, mas a honra de gravá-la acabou ficando mesmo para sua nova banda, o Steppenwolf. Tornou-se famosa ao ser escolhida como música tema do filme “Sem Destino” (1969), com Peter Fonda, Dennis Hopper e Jack Nicholson, e seus versos comparavam o barulho da motocicleta a um trovão de metal pesado, “heavy metal thunder”. Relatos do próprio Mars dão conta de que sua inspiração para compor foi um pôster visto em uma vitrine de uma loja em Hollywood, com uma Harley Davidson na estrada e a expressão “Born To Ride” cravada no asfalto.


Há ainda uma terceira corrente, que recai sobre um power trio que tocava mais alto e era mais barulhento do que qualquer banda da época, o Blue Cheer, cujo nome foi retirado de um poderoso tablete de LSD que circulava pela Califórnia naqueles dias. Originalmente um sexteto, após a debandada de metade da banda, os três membros remanescentes Leigh Stephens (guitarra), Paul Whaley (bateria) e Dickie Peterson (baixo e vocal) decidiram aumentar o volume no máximo, para nas apresentações preencher o vazio deixado pelos ex-companheiros. Seu blues-rock extremamente amplificado fez sucesso com uma versão de “Summertime Blues”, de Eddie Cochran, registrada em seu álbum de estréia de 1968, que levava o curioso nome de “Vinceptus Eruptum”, que continha ainda a ótima “Rock Me Baby” e a longa e chapadona “Doctor Please”. Curiosamente, com o decorrer de sua carreira o Blue Cheer foi polindo seu som e diminuindo o volume cada vez mais, num caminho inverso à tendência que o rock seguiria. Alguns hoje classificam o estilo como “stoner rock” (se formos traduzir, rock “chapado”), outros como metal.

Se formos voltar ainda mais um pouco no tempo, temos outros momentos que são lembrados e citados também, como a primeira música a apresentar distorção nas guitarras, “You Really Got Me”, do The Kinks, de 1964 (aquela mesma posteriormente regravada pelo Van Halen em seu disco de estréia). Muitos especialistas chegam até mesmo a elencar o lendário Cream, de Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, como pais do som pesado (hipótese a ser considerada, principalmente com relação às elétricas performances ao vivo do trio), bem como o próprio The Who, que além de tocar alto, quebrava tudo no palco, literalmente. Mas, por fim, todos os caminhos acabam sempre levando ao mesmo denominador comum, apontando para as três bandas que dão título a esta matéria como os grupos seminais do estilo.

LED ZEPPELIN


O Led Zeppelin foi uma banda que desde o início já tinha cara de super grupo, afinal era formado pelo ex-guitarrista dos Yardbirds, Jimmy Page, junto ao polivalente e conceituado músico de estúdio John Paul Jones, tendo ainda o exímio John Bonham nas baquetas (com sua incrível capacidade de conciliar peso e swing na medida certa) e a grande revelação Robert Plant nos vocais. Vale lembrar, como curiosidade, que o Zeppelin recebeu seu nome após uma piada dos eternos e saudosos Keith Moon e John Entwistle, do The Who – certo dia, os dois estavam junto a Jimmy Page e Jeff Beck, cogitando a possibilidade de fazerem um som juntos, e em certo momento Moon disse que essa banda decolaria tão bem quanto um balão pesado, onde completou Entwistle: “um zepelim de chumbo”.


Contratados pela Atlantic Records, lançam em 1969 seu début, que levava o nome do próprio grupo e fora produzido pelo próprio guitarrista Jimmy Page (com assistência de Glyn Johns, como engenheiro de som). Já tínhamos nele uma boa amostra do que viria pela frente em sua brilhante carreira: alternavam-se canções com guitarras pesadas e uma forte pegada de bateria, como em “Communication Breakdown”, “Good Times, Bad Times” e “Dazed And Confused”, com belas dobradas de guitarra e baixo, tal qual se ouve na fantástica faixa de encerramento, “How Many More Times”, belos temas acústicos, como “Black Mountain Side”... Havia ainda regravações de temas de blues, como “You Shook Me” e “I Can’t Quit You”, de Willie Dixon. O álbum foi gravado em uma mesa de quatro canais, com os quatro tocando ao mesmo tempo, aproveitando-se do reverb e eco que o estúdio produzia, gerando um som único. Num tom de total reverência, Tom Hamilton, baixista do Aerosmith, disse certa vez: “na primeira vez que ouvi o primeiro álbum do Zeppelin, tive a sensação de que Deus estava saindo pelas caixas de som”. Embora a crítica especializada da época não tenha dado muita bola, foi grande sucesso de vendas.


Como se não bastasse, no mesmo ano ainda chegava às prateleiras outra pedra preciosa que daria continuidade a tudo: “Led Zeppelin II”, produzido novamente por Jimmy Page (agora com Eddie Kramer como engenheiro, notório colaborador de Jimi Hendrix). Alguns seguidores da banda preferem este álbum ao primeiro, afinal ele trazia de cara “Whole Lotta Love”, e tinha ainda no decorrer do disco “Heartbreaker”, “The Lemon Song”, “Living Lovin’ Maid”, “Moby Dick” (com direito ao fantástico solo de bateria de John Bonham), a belíssima balada “Thank You”, “Ramble On”, e “Bring It On Home”, que fechava com chave de ouro. Fã confesso da banda, Steve Vai conta que decidiu tomar aulas para aprender a tocar guitarra quando ouviu pela primeira vez “Heartbreaker”. O álbum foi gravado em vários estúdios diferentes, nos intervalos entre um ou outro show da turnê de seu primeiro trabalho. John Paul Jones cita que muitas das idéias e riffs surgiam no palco, principalmente nos longos improvisos de “Dazed And Confused”. Foi também o primeiro álbum a atingir simultaneamente o número um das paradas nos EUA e na Inglaterra.

O Zeppelin fez história. Praticamente toda sua discografia é tratada como obra-prima. Sobre os músicos, o que mais dizer? Com seus grandes e exóticos arranjos e sua extensa exploração de afinações alternativas, Page logo galgou seu lugar junto aos deuses da guitarra – quem nunca ficou embasbacado ao ouvir seus riffs e solos inspirados, ou ao vê-lo empunhando um arco de violino para tirar sons inimagináveis de seu instrumento? John Paul Jones é admirado cada vez mais por sua versatilidade e capacidade musical, Robert Plant é, sem dúvidas, uma das maiores vozes da história do rock, e John Bonham até hoje é referência para qualquer cidadão que ouse segurar uma baqueta – uma pena que nos tenha deixado tão cedo.

BLACK SABBATH


Após alguns anos tocando blues em clubes locais sem muito dinheiro ou repercussão, o quarteto da cidade industrial de Birmingham chamado Earth dá uma guinada em sua carreira em 1969. Mudam seu nome para Black Sabbath, inspirados em um filme de terror com Boris Karloff que levava este nome, e passam a apostar numa sonoridade mais arrastada e assustadora. Com sua guitarra SG saturada e cortante, Tony Iommi já demonstrava, desde o início, ser o mestre dos riffs. Ozzy Osbourne podia não ser o melhor vocalista do mundo, mas já era dono de um carisma inigualável. A cozinha formada por Terry “Geezer” Butler e Bill Ward era ainda bastante coesa e inspirada. Foi apenas questão de tempo então até conseguirem se firmar no cenário. Após algumas apresentações com o novo nome e a divulgação de um single (“Evil Woman”), conseguem um contrato com a gravadora Vertigo para lançar seu primeiro trabalho, que fora gravado e mixado em, acreditem, apenas três dias, tendo a produção assinada por Rodger Bain.


Para dar uma atmosfera mais sombria, o ótimo disco de estréia, que levava o próprio nome da banda, foi lançado em uma sexta-feira 13, em fevereiro de 1970. A capa do play já era extremamente assustadora para a época (na época, muitos juravam ser uma foto real de uma bruxa). Ao colocar o vinil para rolar, então, muitos já sentiam todos os calafrios possíveis: a introdução da faixa “Black Sabbath”, que dava início a tudo, com aquele barulho de sino ao fundo de uma chuva torrencial, precedia um riff magistral de guitarra (tocando o que no mundo medieval era chamado de “a escala proibida”, pois se acreditava que aquela sequência de acordes o demônio era invocado). Era de arrepiar até os mais céticos. E quando Ozzy começa a cantar “O que é isso que se depara diante de mim?”... Mas o álbum não se resume apenas a isso, afinal ele tinha ainda outros grandes momentos, como a clássica “N.I.B.” (alguém se arrisca sobre o que significa a sigla?), “The Wizard”, “Wicked World”... A produção crua ajudava ainda mais no clima. A crítica especializada, entretanto, caiu matando. O famoso Lester Bangs (o mesmo que foi retratado no filme “Quase Famosos”) citava em sua resenha: “parece com o Cream, só que muito piorado”. De qualquer forma, conseguiu boa repercussão.


Após alguns shows, o Sabbath voltaria a estúdio ainda naquele mesmo ano. Com várias canções prontas, compostas durante a turnê (como era praxe na época), reúnem-se com o produtor Rodger Bain e, em poucos dias novamente, gravam seu segundo álbum e aquele que, para muitos, é sua melhor obra até hoje. Inicialmente o vinil levaria o nome de “War Pigs”, a clássica faixa que abre o trabalho, num protesto claro contra a guerra do Vietnã – tanto que a capa trazia um soldado estilizado, de capacete, espada e escudo nas mãos. Com medo de alguma represália ou censura, atendem aos pedidos da gravadora e mudam o nome, batizando-o com o título de uma nova canção que, segundo o baterista Bill Ward, foi totalmente composta em pouco mais de vinte minutos no próprio estúdio: “Paranoid”. Compõem o registro, ainda, a psicodélica “Planet Caravan”, a antológica “Iron Man” (e um dos riffs de guitarra mais tocados até hoje na história), a instrumental “Rat Salad”, “Electric Funeral”, “Fairies Wear Boots”... Que discaço, não? Não é à toa que Billy Corgan, do Smashing Pumpkins, declarou: “ouvir os primeiros discos do Black Sabbath foram os momentos mais sublimes da minha vida”. Como não poderia deixar de ser, a carreira do Sabbath daí pra frente engrenou de vez, tendo criado ainda outras grandes obras, seja com Ozzy ou sem ele, até os dias atuais – mesmo usando outro nome, para evitar conflitos judiciais.

DEEP PURPLE


Embora só tenha conhecido de fato o sucesso em 1970, o Deep Purple já tinha uma boa história pra contar. Formado em 1966, o quinteto trazia em sua formação nos primeiros trabalhos de estúdio os fundadores Ian Paice na bateria, Jon Lord nos teclados e Ritchie Blackmore nas seis cordas, tendo o time completado pelo vocalista Rod Evans e pelo baixista Nick Simper. O nome do grupo, como se sabe, foi retirado de uma antiga canção romântica que a avó de Blackmore gostava bastante. Contratados pela Harvest, gravadora subsidiária da gigante EMI, lançaram três álbuns de estúdio, “Shades Of Deep Purple”, “The Book Of Talesyn” e “Deep Purple”. Tiveram um único e modesto hit, a regravação de “Hush”, de Joe South, que fazia parte de seu primeiro trabalho – que continha ainda covers de “Help!”, dos Beatles, e “Hey Joe”, popularizada por Jimi Hendrix.

Em 1969 ocorre uma mudança crucial no histórico da banda: a entrada dos ex-membros do Episode Six, o vocalista Ian Gillan e o baixista Roger Glover, substituindo Evans e Simper. Lançam o ousado álbum ao vivo “Concert For Group And Orchestra”, gravado no Royal Albert Hall, já com a nova formação, mas não conseguem muito êxito comercial. Porém nos palcos que sua reputação era cada vez mais elogiada, com comentadas performances elétricas e contagiantes – em especial Blackmore, cada vez mais alucinado e influenciado por Jimi Hendrix, trocando de vez sua velha Gibson Semi-Acústica pela Fender Stratocaster e desenvolvendo gradativamente sua “atuação” nos extensos improvisos instrumentais, onde girava, pisava e jogava para o alto o instrumento. Como estavam prestes a lançar um novo trabalho, com a nova formação, que tal então tentar levar toda essa energia para o estúdio?

Trabalhando junto a jovens engenheiros de som, como Andy Knight, Phil McDonald e Martin Birch (que se tornaria colaborador fixo da banda naquela década, bem como do Rainbow, Whitesnake e Iron Maiden anos depois), o Purple passa a tocar e gravar “ao vivo em estúdio” e aposta suas fichas numa sonoridade mais agressiva e pesada (onde, inclusive, o órgão Hammond de Lord passou a ser ligado simultaneamente em uma caixa Leslie e em um amplificador de guitarras Marshall – ganhando seu som característico e o carinhoso apelido de “A Besta”). Destaque também para as notas altíssimas que podiam ser atingidas por Gillan, além de seu timbre espetacular, e para a ótima cozinha formada por Glover e Paice, fazendo um ótimo pano de fundo para os solos intrincados da dupla Blackmore/Lord. O resultado foi “Deep Purple In Rock”, que veio ao mundo em junho de 1970 e foi uma verdadeira porrada na cara dos mais conformistas.


A abertura ensurdecedora com “Speed King” já era garantia absoluta para incomodar qualquer vizinhança. A épica “Child In Time” até hoje é considerada uma de suas melhores músicas. Isso tudo sem falar em “Bloodsucker”, “Into The Fire”, a empolgante “Flight Of The Rat”, “Living Wreck” e a pesadíssima “Hard Lovin’ Man” (“dedicada” a Birch). Complementando tudo, uma capa inesquecível, com os rostos dos integrantes da banda substituindo os presidentes americanos no monte Rushmore. Ah sim, faltou ainda falar de “Black Night”, que havia sido lançada paralelamente como single e foi um hit absoluto, mas ficou de fora do álbum por causa da limitação de espaço enfrentada em tempos de vinil. “In Rock” merece o status de obra-prima, sem dúvida. Bruce Dickinson, por exemplo, já afirmou diversas vezes que este é seu disco favorito de todos os tempos. Jon Lord sempre cita-o como o melhor trabalho do Purple.


Mas o álbum não é uma unanimidade como o melhor disco da banda entre os fãs do quinteto: para a maioria o título fica com “Machine Head”, lançado dois anos depois (entre eles houve ainda o ótimo “Fireball”). O famigerado álbum gravado no saguão de um hotel abandonado em Montreux, na Suíça, com um estúdio móvel dos Rolling Stones, traz uma relação de sete músicas que falam por si próprias: “Highway Star”, “Pictures Of Home”, “Maybe I’m a Leo”, “Never Before”, “Smoke On The Water”, “Space Truckin’” e “Lazy”. Clássico absoluto e incontestável do rock and roll. Existe alguém no mundo que já teve uma guitarra nas mãos e nunca tentou tocar o riff de “Smoke On The Water”? O curioso é que a canção, uma espécie de diário de bordo resumido das gravações, inicialmente não foi a grande aposta do disco. Tanto que o primeiro single foi “Never Before”, que trazia em seu lado B a bela “When a Blind Man Cries”, executada até hoje nos shows da banda. Produção da própria banda, mais uma vez, sob a tutela de Martin Birch. Foi nesta turnê que o Purple gravou o antológico álbum ao vivo “Made In Japan”, outro álbum obrigatório de sua extensa discografia.

50 ANOS DE METAL

50 anos. Mesmo não sendo mais criança e já tendo cabelos grisalhos, o heavy metal continua aí, incomodando muita gente e sendo fonte de alegrias e inspiração para os seus milhões de fãs e seguidores ao redor do mundo. E mesmo com sua data de aniversário correta ainda gerando divergências e debates, é um fato a ser celebrado, com o volume bem alto, e com as mãos para o alto, fazendo os indefectíveis “chifres” do “mallochio”, tão difundido por Ronnie James Dio (essa já é mais uma outra história...).

Para encerrar, fica uma sugestão ao leitor: caso ainda não tenha assistido, vale a pena ver o excelente documentário “Metal – Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal”, de Sam Dunn e Scot McFadyen, que traça e explora uma verdadeira árvore genealógica do gênero. E aos leitores mais jovens: se por um acaso você ainda não tem nenhum dos citados registros em sua humilde coleção, ou nunca sequer ouviu nenhum deles, trate de recuperar este tempo perdido... Compre, empreste, grave, faça um download, mas não fique jamais sem conhecer estas verdadeiras enciclopédias do rock.

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P.S.: Pra matar de vez a dúvida, a sigla “N.I.B.” não significa “Nativity In Black”, como a maioria acha que seja, principalmente depois do lançamento de dois tributos ao Black Sabbath levando este nome. De acordo com Tony Iommi, o título foi simplesmente uma referência à barbicha que Bill Ward tinha, e que se parecia com a ponta de um pincel fino, daqueles usados pelos artistas plásticos para assinar seus quadros, cujo nome em inglês é “pen-nib”. Como o “tinhoso” popularmente é conhecido por ostentar um cavanhaque parecido, e a canção é escrita do ponto de vista dele, criou-se a misteriosa sigla para atiçar as mentes dos ouvintes.



Matéria originalmente publicada no site "Whiplash!", aqui reproduzida e atualizada cronologicamente

Fontes de pesquisa para a matéria: Wikipedia, Whiplash, Rolling Stone, LedZeppelin.com, BlackSabbath.com, Deep-Purple.com

Vendas de LPs aumentam em 2018... Com uma grande ajuda de grandes nomes do rock clássico!

Que os discos de vinil, ou LPs se você preferir, estão de volta com tudo no mercado, não resta dúvidas... Dado como formato morto quando o CD foi lançado décadas atrás, tal qual uma Fênix os bolachões ressurgiram das cinzas e assistem de camarote o definhamento daquele que deveria ser o seu grande sucessor - muito em função dos downloads digitais e, mais recentemente, por conta dos serviços de streaming (Spotify, Deezer e afins). 

Em levantamentos feitos em 2018, foi constatado que Beatles, Pink Floyd, Queen, David Bowie e Fleetwood Mac estão entrem os responsáveis pelo crescimento de 15% na venda de disco de vinil no ano que acaba de se encerrar. Os dados são da Nielsen Music, organização que calcula e compartilha anualmente um relatório sobre vendas e consumo na indústria fonográfica na América do Norte, e da Official Charts Company, que faz o mesmo trabalho no Reino Unido. 

Segue a lista dos 10 LPs mais vendidos na América do Norte em 2018: 

1. Trilha Sonora do filme "Guardiões da Galáxia": Awesome Mix Vol. 1 (84 mil cópias) 
2. Michael Jackson, Thriller (84 mil cópias) 
3. Fleetwood Mac, Rumours (77 mil cópias)
4. The Beatles, Abbey Road (76 mil cópias) 
5. Prince and the Revolution, Purple Rain (71 mil cópias) 
6. Pink Floyd, The Dark Side of the Moon (67 mil cópias) 
7. Bob Marley and The Wailers, Legend: The Best Of … (61 mil cópias) 
8. Queen, Greatest Hits (60 mil cópias) 
9. Amy Winehouse, Back to Black (59 mil cópias) 
10. Panic! at the Disco, Pray for the Wicked (59 mil cópias) 



E a seguir, os artistas que mais venderam discos de vinil no ano passado nos EUA e no Canadá: 

1. Beatles (321 mil cópias) 
2. Pink Floyd (177 mil cópias) 
3. David Bowie (15 mil cópias) 
4. Panic! At the Disco (148 mil cópias) 
5. Fleetwood Mac (139 mil cópias) 
6. Led Zeppelin (138 mil cópias) 
7. Michael Jackson (131 mil cópias) 
8. Jimi Hendrix (119mil cópias) 
9. Metallica (116 mil cópias) 
10. Queen (113 mil cópias) 



Já em território britânico, o ranking ficou assim (nota: não conseguimos localizar o número de cópias vendidas): 

1. Tranquility Base and Casino, Arctic Monkeys 
2. The Greatest Showman, trilha sonora do filme "O Rei do Show" 
3. Rumours, Fleetwood Mac 
4. Greatest Hits, Queen 
5. The Dark Side of the Moon, Pink Floyd 
6. Staying at Tamara's, George Ezra 
7. Nevermind, Nirvana 
8. What's the Story Morning Glory, Oasis 
9. Legacy, David Bowie 
10. Back to Black, Amy Winehouse 


Sim, senhoras e senhores... O rock and roll segue mais vivo do que nunca, graças aos seus fiéis seguidores... E um pequeno "spoiler" (ou teaser, se preferir), dois destes álbuns em breve serão temas de matérias especiais por aqui... Fiquem ligados!


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