Quem é que nunca se espantou ao saber que algumas de suas músicas favoritas foram inspiradas em acontecimentos reais, e não um simples fruto da criatividade de seus autores? Abaixo listaremos algumas (sim algumas, pois são inúmeras) canções que se enquadram nesta situação:
Beatles – A Day In The Life
Os Beatles escreveram diversas
letras inspiradas em acontecimentos reais ao longo de sua discografia,
principalmente em seus últimos álbuns. “A Day In The Life” é inspirada em
algumas notícias lidas por John Lennon no jornal, como um acidente de carro, o
lançamento de seu filme “How I Won The War”, a estrada esburacada de Blackburn,
devidamente complementada por Paul McCartney e sua lembrança de quando era mais
jovem, antes da fama, quando acordava apressado e atrasado, penteava os cabelos
e fumava um cigarro. Outras que podemos pegar como exemplo são “The Ballad Of
John and Yoko”, que narra o recente casamento, lua de mel e o protesto pacífico
na cama do casal, “She’s Leaving Home”, inspirada na notícia do desaparecimento
da garota Melanie Coe, que havia fugido de casa, “Hey Jude”, escrita por
McCartney para Julian Lennon, triste com o divórcio dos pais, além de “Sexy
Sadie”, onde John narra a frustração após ter testemunhado o guru Maharishi ter
assediado a atriz Mia Farrow durante o retiro espiritual que o grupo fez na
Índia, e diversas outras...
Queen – Death On Two Legs
O momento de fúria de Freddie
Mercury, que se revoltou com o contrato abusivo que prendia a banda aos seus
antigos empresários, foi tema de uma matéria completa neste blog, que você pode
conferir neste
link.
Deep Purple – Smoke On The Water
Essa é mais do que batida e todo
mundo sabe de cor a história, narrada detalhadamente na letra: o Purple gravava
um álbum (Machine Head) em Montreux, na Suíça, com o estúdio móvel dos Rolling
Stones e quando foi assistir ao show de Frank Zappa no tradicional festival de
música da cidade, algum maluco soltou um sinalizador que literalmente incendiou
o local. “Jamais sonhava que uma música que falava sobre um fato isolado de
nossa história tomaria tamanha proporção”, disse o baixista Roger Glover em
entrevista anos atrás.
Embora Paul Stanley tenha
homenageado a cidade onde foi gravado “Alive!”, o álbum responsável por elevar
o Kiss ao patamar de grande banda, a letra foi inspirada em um acidente real
acontecido com um fã da banda que teria ido assistir a um show do grupo “talvez
em Charlotte, não me lembro bem”, diz ele. Tanto que a gravação original da
música no álbum “Destroyer” tem a introdução e o final com os efeitos sonoros
que nos ambientam no acidente.
Iron Maiden – Empire Of The Clouds
O Maiden é uma banda campeã quanto
músicas baseadas em fatos históricos e reais. Desde as clássicas “Powerslave”,
falando do Egito Antigo, “Alexander The Great”, sobre Alexandre, o Grande,
diversas canções sobre guerra (“Aces High”, “The Trooper”, “Paschendale”), até
o mais recente trabalho de estúdio do grupo, “Book Of Souls”: a faixa título
tem como tema a civilização Maia, “Death Of Glory” fala da Primeira Guerra
Mundial, “Tears of a Clown” inspirada na morte do ator Robin Williams, e, por
fim, a épica “Empire Of The Clouds”, que em seus 18 minutos conta a história do
dirigível R101, um projeto ambicioso britânico que visava ser um transporte
aéreo de luxo para fazer viagens de longa distância entre os países do império
britânico, mas que caiu em sua viagem inaugural quando sobrevoava Paris,
matando 48 dos 54 ocupantes, inclusive o ministro Christopher Thomson,
responsável por iniciar o projeto, além de diversos outros envolvidos na
criação do dirigível.
A canção “Dallas 1 PM” é
inspirada no assassinato do presidente norte-americano John Kennedy, baleado na
cidade do título. Aliás, a canção foi lançada no álbum “Strong Arm Of The Law”,
de 1980, cuja faixa de mesmo nome também é inspirada num acontecimento real, só
que com a banda: segundo o ex-guitarrista Graham Oliver, a banda teria sido
perseguida pelos seguranças da então primeira ministra Margareth Thatcher
quando dirigia pela rua Whitehall (centro administrativo do Reino Unido, em
Londres).
Inspirada no suicídio de Jeremy
Wade Delle, que atirou na própria cabeça durante a aula de Inglês em um colégio
de Richardson, no Texas, em janeiro de 1991 (ano de lançamento do álbum “Ten”,
que trazia a faixa). Um garoto descrito como “quieto e triste” pelos colegas
foi advertido por ter chegado atrasado na aula e ao invés de se dirigir à
diretoria, foi ao seu armário, pegou um revólver que ali escondia e retornou à
sala. Após dizer suas últimas palavras (“Senhora, eu peguei o que realmente fui
buscar”), Jeremy colocou o cano do revólver na boca e disparou. O vocalista
Eddie Vedder se sentiu compelido a escrever sobre o fato perturbador, quando
viu uma notícia minúscula no jornal sobre o fato e a pouca importância dada a
algo tão trágico. “Alive”, outra canção clássica do mesmo álbum, também tem uma
parte real: a música conta a história de um adolescente cuja mãe lhe revela que
o homem que ele achava que era seu pai na verdade é seu padrasto, e seu pai
verdadeiro estava morto.
Boomtown Rats – I Don’t Like Mondays
O britânico Bob Geldof hoje é
mais lembrado por ser o mentor dos festivais “Live Aid” e “Live 8”, e por ter interpretado o
papel principal no filme “Pink Floyd – The Wall”. Mas há 40 anos atrás, sua
banda Boomtown Rats conseguiu um grande hit internacionalmente com uma canção
inspirada por outra tragédia envolvendo adolescentes. A inspiração surgiu da
história de Brenda Ann Spencer, uma jovem de 16 anos de San Diego, na
Califórnia, que no dia 29 de janeiro de 1979 chegou atirando em um playground
da escola Grover Cleveland Elementary, matando dois adultos e ferindo oito
crianças e um policial. Após ser detida sua única explicação foi “Eu não gosto
de segundas-feiras. Isso anima o dia”. O Bon Jovi lançou uma versão ao vivo
gravada no estádio de Wembley em 1995, no CD bônus da edição especial de “These
Days”, com participação do próprio Geldof.
Jon Bon Jovi – August 7, 4:15
Embora o Bon Jovi não seja muito
associado a temas mais soturnos, o vocalista Jon fez em seu álbum solo
“Destination Anywhere” esta canção inspirada no assassinato da pequena
Katherine Korzilius, então com apenas 6 anos de idade. Ela era filha do
empresário da banda na época e havia desaparecido após a mãe deixá-la buscar a
correspondência da família. Seu corpo foi encontrado em uma rua, com o dedo
quebrado, fratura no crânio, além de múltiplas lesões e cortes. O caso até hoje
não foi solucionado.
The Police – Don’t Stand So Close
To Me
A canção que rendeu um Grammy ao
trio foi composta por Sting numa mistura de ideias de seus tempos de professor
com o romance “Lolita”, da Vladimir Nabokov. Sting chegou a trabalhar como
professor antes de se firmar como músico profissional e relata que conviveu com
diversos olhares lascivos de suas alunas adolescentes, mas nunca chegou a se
envolver com nenhuma delas, ao contrário do professor da música.
U2 – Sunday Bloody Sunday
Outra canção que todos sabem
relatar um fato histórico e verídico: “domingo sangrento” é como passou a ser
chamado o dia 30 de janeiro de 1972 na Irlanda do Norte, pois nesta data tropas
britânicas atiraram contra 28 civis durante um protesto contra o aprisionamento
de 342 pessoas que supostamente eram envolvidas com o IRA (exército republicano
irlandês) e seus atos violentos. Alguns dos civis baleados estavam apenas
ajudando os feridos. Houve ainda relatos de pessoas atropeladas por veículos
militares. “Esta canção não é de protesto, não é rebelde” costumava anunciar
Bono durante as apresentações ao vivo, realçando seu conteúdo antiviolência.
O ex-vocalista do Genesis lançou
esta canção anti-apartheid em 1980, onde canta sobre Steve Biko, ativista sul
africano que lutava contra o regime de segregação racial que imperava em seu
país. Atuou firmemente durante as décadas de 1960 e 1970, publicando diversos
artigos sob o pseudônimo de Frank Talk (“conversa franca”, se traduzirmos
literalmente). Uma curiosidade: seu antigo companheiro de banda Phil Collins
participa das percussões da faixa.
Projeto Manhattan era o nome do
projeto responsável pela criação da primeira bomba atômica utilizada durante a
Segunda Guerra Mundial. Neil Peart afirma ter lido uma pilha de livros sobre o
assunto que acabaram rendendo uma letra dividida em quatro versos principais:
um período durante a guerra; um homem, representando os cientistas envolvidos
no projeto; um lugar, Los Alamos, onde os cientistas desenvolveram o trabalho;
um homem, o piloto do bombardeiro que soltou a bomba em Hiroshima. A canção está no álbum “Power Windows”, de 1985.
Todo mundo conhece “Tears In
Heaven”, que o deus da guitarra escreveu em homenagem ao seu filho Connor, que
faleceu em 1991 aos quatro anos de idade ao cair da janela de um hotel em Nova York. Mas nem todos se lembram desta bela e triste canção,
escrita por ele como tributo ao filho, em referência à última noite que
passaram juntos, quando foram a um circo e o garoto se divertiu muito,
especialmente com um palhaço que segurava uma faca, mencionado na letra. Existem duas versões diferentes, uma no seu acústico MTV e outra no álbum “Pilgrim”, de 1998.
Composta por Kurt anos antes de
ser gravada em 1991 no clássico “Nevermind”, é inspirada no caso ocorrido em
agosto de 1987 na cidade de Tacoma, Washington, onde uma jovem de 14 anos foi
seqüestrada ao sair de um show de rock, estuprada e torturada. A jovem
conseguiu escapar do caminhão de seu torturador em um posto de gasolina e
chamar atenção e pedir ajuda para as pessoas ali presentes.
Don McLean – American Pie
Embora cite claramente o “dia em
que a música morreu” (como ficou conhecido o dia 5 de fevereiro de 1959, o dia
em que os cantores Buddy Holly, Richie Valens e The Big Bopper morreram em um
acidente aéreo), a letra enigmática do restante da canção dá margem a muitas
interpretações. McLean a cada entrevista responde algo diferente, mas de modo
geral diz que tem a ver com sua jornada de autoconhecimento e uma viagem ao
passado recontando poeticamente a América (leia-se “Estados Unidos”) onde viveu
e cresceu.
Basicamente uma música sobre o
trauma causado como alcoolismo a partir dos olhos de um filho. Foi o que Rivers
Cuomo vivenciou, quando viu o casamento de seus pais se desfazer e
posteriormente o segundo casamento de sua mãe estar seguindo para o mesmo
caminho, por seu padrasto também ser alcoólatra. Cuomo utiliza na letra nomes e
situações reais que viveu, inclusive sobre o pai ter “encontrado Jesus” (seu
pai havia se tornado pastor e abandonado o vício), com quem ainda tinha uma
relação conturbada na época.
Alice Cooper – I Never Cry
Alice canta aqui também sobre o alcoolismo e sobre como isso estava o destruindo e acabando com sua vida pessoal. Cerca de um ano depois de lançada a música, Alice se internou em um reabilitação para tratar do problema, e em “How You Gonna See Me Now” ele voltaria a falar do tema em uma espécie de pedido de desculpas, numa bela canção escrita junto ao eterno colaborador de Elton John, Bernie Taupin.
Falar em experiências reais e
traumas de infância é falar de “The Wall”, do Pink Floyd. E aqui não falamos de
apenas uma música, mas um álbum inteiro com diversas referências à vida pessoal
de Roger Waters (que ainda ganharia uma espécie de continuação no álbum
seguinte da banda, “The Final Cut”). Temos o pai falecido na guerra (“Another
Brick In The Wall, pt. 1”), a escola e os professores opressores (“The Happiest
Days Of Our Lives” e “Another Brick In The Wall, pt. 2”), a mãe superprotetora
(“Mother”), e por aí vai... Só lembrando que a ideia do conceito do álbum (um
artista que vai se isolando do mundo, construindo um muro ao seu redor) surgiu
após um incidente na turnê anterior do Floyd, quando Roger Waters em um ataque
de fúria contra um fã em um show cuspiu na cara deste, dizendo logo após que
deveriam construir um muro em frente ao palco para poderem tocar em paz... mas
isso será história para outro texto sobre os 40 anos deste clássico
(spoiler!)...