Titãs: os 18 anos de “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana”



O então septeto Titãs chegava a 2001 após vivenciar um de seus períodos de maior êxito comercial. Vamos a uma rápida retrospectiva: após a gravação de álbuns históricos nos anos 1980, em especial a tríade “Cabeça Dinossauro”, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” e “Ô Blésq Blom”, veio um período de incertezas no início da década de 1990, quando flertaram com um som mais cru nos álbuns “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” e “Titanomaquia”, período em que sofreram a primeira baixa considerável: a saída de Arnaldo Antunes. Mesclaram sua sonoridade clássica com um som mais acessível em “Domingo” e então veio o “Acústico MTV”, que catapultou o grupo ao topo das paradas. Na esteira deste sucesso gigantesco, vieram “Volume Dois”, seguindo o formato mais intimista (em estúdio agora), trazendo algumas regravações próprias e de outros artistas (como Roberto Carlos), além de algumas faixas inéditas, e um álbum inteiro de covers (“As Dez Mais”). Os fãs estavam sedentos por um trabalho novo totalmente inédito e finalmente ele chegaria com o novo milênio. Mas o que eles não esperavam era uma reviravolta em sua história iria acontecer naquele ano...



Em nova parceria com o produtor norte-americano Jack Endino, os Titãs voltariam aos estúdios para dar início às gravações de “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana” em junho de 2001, e logo no início dos trabalhos uma fatalidade: o guitarrista Marcelo Fromer viria a falecer após um atropelamento. Golpe duríssimo de ser assimilado, especialmente para Nando Reis, seu grande amigo de longa data. 

Transtornados e sem muito tempo para atravessarem o luto, o agora sexteto pede socorro ao produtor para executar as partes de guitarra de Fromer e poderem seguir adiante com as gravações. Jack disse sobre o período: “Nós perdemos o Marcelo no primeiro dia de gravações, o que simplesmente destruiu a todos. Todo o trabalho parou. Parecia que o mundo inteiro havia parado. Mas depois de uma semana os Titãs decidiram que tinham que continuar. A melhor maneira de lidar com a tragédia foi trabalhar muito duro. Era o que Marcelo nos diria para fazer, e todos sabiam disso. Mas foi muito difícil naquelas condições. Para mim, particularmente, uma das razões foi que toquei várias partes de guitarra que eram do Marcelo. As partes mais rock. Eu havia assistido todos os ensaios, sabia as músicas e como o Marcelo as tocava. Foi muito estranho fazer aquilo”.



E o resultado final felizmente foi excelente! Logo na abertura, “Vamos ao Trabalho” e sua pegada meio punk nos remete aos tempos de “Cabeça Dinossauro”. Na faixa título o grupo demonstra ter voltado à sua melhor forma, com uma letra ácida criticando os artistas de sucesso efêmero que nos são impostos pela mídia – algo cada vez mais atual, não? Em “O Mundo é Bão, Sebastião”, Nando Reis homenageia seu filho com uma faixa deliciosa, trazendo um riff à lá “Day Tripper” dos Beatles e uma letra muito bacana – faixa que ainda faria muito sucesso com ele em sua carreira solo.

E o que dizer de “Epitáfio”, a poética e dolorosa canção de Sérgio Britto? Embora tenha sido concebida antes da perda do companheiro de banda, a música acabou ganhando tons especiais, dado o conteúdo de suas reflexões sobre a vida – e fez um sucesso descomunal, merecidamente, além de ganhar um vídeo clipe maravilhoso. “Isso”, outro grande hit, escrita por Tony Bellotto e cantada por Paulo Miklos, fala sobre crises de relacionamento e teve um vídeo bem curioso, onde Miklos contracenava com uma elefanta.

Estes são apenas os maiores destaques de um grande disco, que ainda trazia outras grandes canções como “Um Morto de Férias” (curiosamente Fromer foi um dos co-autores), a melancólica “Mesmo Sozinho” e “É Bom Desconfiar”. E a novidade foi que a banda, então novos contratados da Abril Music (ligada à Editora Abril), colocou o CD a venda nas bancas de jornais, um pioneirismo na época, incluindo uma revista-pôster como forma de driblar uma lei que proibia a venda de discos avulsos nestes estabelecimentos.



A outra parte triste na história do grupo foi que após cumprir parte da turnê, Nando Reis saiu do grupo, embarcando em uma carreira solo de enorme sucesso. Parte por conta de divergências de direcionamentos musicais, mas muito também em decorrência da perda de Fromer e pouco tempo depois de outra grande amiga, Cássia Eller – o abalo emocional para ele foi difícil demais de se lidar.

O então quinteto continuou na estrada, lançou mais alguns discos e ao longo dos anos viu mais dois membros deixarem o grupo: o baterista Charles Gavin e Paulo Miklos. Hoje o trio Sérgio Britto, Tony Bellotto e Branco Mello segue na atividade, acompanhados de Beto Lee e Mário Fabre. Seu mais recente trabalho foi a surpreendente ópera-rock “Doze Flores Amarelas”, que merece uma audição bem cuidadosa para ser devidamente apreciada...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os 50 anos da bíblia "Deep Purple In Rock"

Embora só tenha conhecido de fato o sucesso em 1970, o Deep Purple já tinha uma boa história pra contar. Formado em 1966, o quinteto tra...